Bolsonaristas, caciques do União Brasil deixam Moro de lado no Paraná
Bolsonarista, a família Francischini, que comanda o União Brasil no Paraná, esconde a candidatura do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, do mesmo partido, ao Senado. Em santinhos do deputado federal Felipe Francischini, presidente da sigla no Estado, por exemplo, o espaço para senador está vago. A conta é simples: quem apoia Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, dificilmente estará com o ex-juiz, o que evidencia o desembarque do partido em relação ao candidato ao Senado.
“Moro não conseguiu criar um grupo, e isso em política é fundamental. E não conseguiu estabelecer uma trajetória clara. No 7 de Setembro, em Curitiba, não tinha manifestação de apoio ao Moro, mas tinha muita gente do Fracischini e do Ricardo Barros (PP), líder do Bolsonaro na Câmara. Reporto isso à profunda inabilidade política do candidato”, disse o cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Bruno Bolognesi.
A visita mais recente de Bolsonaro ao Estado, em 31 de agosto, criou uma situação embaraçosa para ex-juiz da Lava Jato. O deputado cassado Fernando Francischini, tesoureiro e pai do presidente estadual do União Brasil, divulgou um vídeo convidando para a motociata e o comício do presidente dialogando com Paulo Martins (PL), candidato ao Senado apoiado por Bolsonaro. Martins tem aparecido em terceiro lugar nas pesquisas, atrás de Moro e Alvaro Dias (Podemos).
Essa disputa é a única que parece unir Moro à cúpula do partido no Paraná. Dias busca o voto útil da esquerda contra o ex-juiz. Já Moro tenta angariar apoio de bolsonaristas apontando para o inimigo em comum. “Jamais estarei ao lado do PT e do Lula, você pode escrever na pedra. Em relação ao Bolsonaro, uma coisa eu posso dizer: nós temos o mesmo adversário”, disse Moro em uma das inserções televisivas da campanha. Ele também faz postagens em que lembra que Dias tem apoio de partidos de esquerda.
O ex-juiz rompeu com o presidente após deixar o Ministério da Justiça com acusações de interferência na Polícia Federal (PF) – bolsonaristas o tacham de traidor hoje.
No Paraná, o União Brasil mira na reeleição de Bolsonaro, diferentemente de outros Estados e regiões, como no Centro-Oeste, onde há maior apoio à candidatura própria da sigla com Soraya Thronicke, disse o cientista político. “O apoio indireto de Moro ao Bolsonaro, que está claro, acho prejudicial ao próprio Moro. Tenho a impressão de que para quem é morista e não é bolsonarista essa aliança com o presidente não pega tão bem. Passa uma imagem de insegurança”, afirma Bolognesi.
O Estadão questionou o ex-juiz, por meio da assessoria de imprensa, se ele contaria com o apoio da família Francischini e se o vídeo com um adversário o teria incomodado, porém Moro não quis se manifestar. A reportagem também entrou em contato com a família Francischini e o União Brasil no Paraná, mas não houve resposta.
Presidente do União Brasil no Paraná foi cassado por divulgar notícias falsas
Neste ano, Fernando Francischini, condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por propagar fake news contra o sistema eleitoral, está fora da disputa. Em seu lugar por uma vaga na Assembleia Legislativa, está a mulher dele, a ex-policial federal e vereadora em Curitiba, Flávia Francischini, que também integra a executiva estadual do União Brasil. Ela é madrasta de Felipe.
Em um folheto de campanha da família, de quatro páginas, os três aparecem na capa, com os números para deputado estadual e federal. Porém, o nome de Flávia, diferentemente de Felipe, só aparece na segunda página, na parte interna.
A imagem de Bolsonaro é explorada no panfleto. Não há menção de candidatos ao Senado e ao governo do Paraná. Em outros materiais, o nome e o número do governador Ratinho Júnior (PSD) aparecem, sem Moro.