‘Bolsonaro é um show de horror; Lula propõe soluções antigas’

04/07/2022 19:00
Por Adriana Fernandes e Ricardo Grinbaum / Estadão

O empresário Pedro Passos está preocupado com as eleições. Um dos fundadores da Natura, Passos vê problemas sérios nas duas candidaturas favoritas. “A síntese do governo do presidente Jair Bolsonaro é um show de horror”, disse, “(se vencer) ele vai levar a gente para uma situação muito grave por conta da situação institucional e da falta de compromisso com determinadas agendas econômicas, como a ambiental, que isola o Brasil.”

Em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o temor é de um projeto que considera ultrapassado e ineficaz com soluções antigas para problemas novos. “Quando analiso a proposta do PT, vejo que está mais parecida com o governo Dilma do que o Lula 1 (1º mandato de Lula). Esse 1 faz toda diferença.”

Com outros empresários, ele ajuda a preparar propostas para o plano de governo de Simone Tebet. “Estou confiante de que, com a Simone, a discussão vai subir a barra.” Passos acredita que quem ganhar a eleição tomará posse, apesar de todo o ruído político. “A gente sabe que, pelo histórico dele, Bolsonaro não quer a democracia”, disse. “Mas, apesar de tudo, o Brasil tem ainda resistência a esse tipo de coisa.” A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão:

Faltando três meses, o que esperar das eleições?

Sou um ativista pela terceira via. Independentemente de projeções eleitorais que eu não sei fazer, a melhor forma de colocar o Brasil no rumo é ter uma alternativa ao que está aparecendo nas pesquisas, Bolsonaro e Lula. Uma chapa Simone-Tasso dá consistência para as prioridades dessa terceira via. Fala muito mais de futuro do que as alternativas hoje.

O que o levou a fazer essa escolha pública?

Podemos adjetivar o que o governo Bolsonaro tenta fazer: destruir as instituições, a democracia, os regulamentos mínimos da lei eleitoral, uma atitude tosca do que o Brasil precisa. Então, não precisa falar de programa de governo Bolsonaro porque a gente vive o programa Bolsonaro. A síntese é um show de horror. Ele sempre defendeu a ditadura, torturadores etc. Não tem surpresa em relação à biografia dele. Há surpresa em relação a certas coisas que ele disse na campanha e não fez. Seria um horror submeter o Brasil a mais quatro anos de bolsonarismo. Por outro lado, tenho acompanhado, e participei de um jantar com Lula. Tentando extrair das próprias diretrizes do programa do PT, fico com uma sensação de que a gente está voltando ao passado, com soluções antigas para problemas novos.

Quais soluções?

Temos um cenário internacional mais complexo. Um País também mais complexo em termos de inflação, pobreza etc. Sabemos que o Brasil precisa de reformas. Por isso, acho que a Simone (Tebet) pode enriquecer o debate, que está muito ralo com soluções antiquadas de um lado e trágicas de outro.

Por que o debate em torno de ideias não acontece?

Estou confiante de que, com a Simone, a discussão vai subir a barra. Hoje, não tem discussão. Teve um encontro da CNI, e o Lula não foi. Ele está com uma postura mais eleitoral e menos de explicitar qual é o programa. Alguns falam: “Não vai ser isso, na hora H vai mudar”. Eu falo: já não deu certo em 2018.

Poderia dar exemplos de soluções antiquadas?

Tirar o teto de gastos, mas não define qual é o novo regime. Reforma tributária e administrativa superficiais. A agenda de aumento da produtividade não é prioritária. Crítica a preços de combustíveis, “abrasileirar os preços”. Gostaria que me explicassem o que é isso. Não seguir a cotação do dólar? Isso é bobagem. Alguém vai pagar a conta daqui a um, dois, três anos. A ‘política cambial não pode ser passiva’. Intervenção de câmbio, a gente sabe que não dá certo. Resistência às concessões de saneamento, Estado indutor do crescimento através de estatais, a Petrobras reintegrando a cadeia de distribuição e refino.

Você tem uma lista…

Já vimos onde isso vai dar. Tem a proposta do ativismo dos bancos públicos, sabemos que isso desequilibra o mercado de capitais de longo prazo. As políticas industriais. Tenho uma relação de políticas industriais. Teve o programa PSI, aquele em que o juro estava tão barato que tinha gente comprando caminhão para estocagem de mercadoria, e não para trafegar. Foram R$ 316 bilhões em subsídios creditícios. Há ainda os planos Brasil Maior, Inovar-Auto. Tem sentido subsidiar combustível fóssil para quem não está abaixo da linha de pobreza? Quando analiso a proposta do PT, está mais parecida com o Governo Dilma do que com o Lula 1 (2003/2006). Esse 1 faz toda a diferença.

A senadora está bem atrás nas pesquisas. As chances de a candidatura dela deslanchar são mais difíceis?

Ela vai se tornar mais conhecida a partir da convenção. Torço para que se confirme o nome do Tasso, que vai dar consistência econômica e socioambiental ao programa. O Brasil precisa de uma discussão madura a respeito de futuro, de prioridades, integrando políticas públicas com parceria privada. Pela situação de guerra e pandemia, tem uma baita oportunidade para o Brasil que é a atração do capital que está circulando no mundo. Tem um caminho para fazermos uma agenda econômica verde, e o Brasil tem uma grande vantagem porque vamos gerar crédito de carbono mais barato.

Qual o seu envolvimento na campanha de Simone?

Um grupo de empresários trabalha há dois anos para buscar alternativa à polarização. Para nós, é importante o País ser pacificado. Agora afunilou o nome da Simone, e procuramos ajudar com formulações e ideias.

Qual o cenário que você vê com Bolsonaro ou Lula?

O Bolsonaro vai levar a gente para uma situação muito grave por conta dessa coisa institucional, a falta de compromisso com certas agendas econômicas, como a ambiental, que isola o Brasil. Além de ser uma tragédia para a saúde. Na educação, o que está acontecendo com quatro ministros em três anos de governo. O armamento da população… É um atraso civilizatório. O Lula é o diagnóstico de que as formulações não vão dar certo. Se não trabalhar a agenda de produtividade, não vamos colocar o Brasil em condições de igualdade com os outros países.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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