Bolsonaro se desculpa por dizer que meninas fariam programa e culpa PT

19/10/2022 07:00
Por Adriana Ferraz, Beatriz Bulla e Julia Lindenr / Estadão

Após repercussão negativa, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, gravou ontem uma declaração para se desculpar da afirmação feita em ao menos três ocasiões diferentes de que meninas venezuelanas visitadas por ele em 2020 estavam se prostituindo para viver no Brasil. Segundo Bolsonaro, sua fala, registrada em vídeo, foi tirada de contexto pela campanha adversária.

“Se as minhas palavras, que, por má-fé, foram tiradas de contexto e que, de alguma forma foram mal entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas”, disse. Ele gravou o vídeo ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e da embaixadora da Venezuela do autoproclamado presidente Juan Guaidó, María Teresa Belandria.

Na gravação, Bolsonaro afirma estar “indignado” com o que chama de ações de “militantes de esquerda inomináveis”. “Sem nenhum pudor, estão pressionando mulheres venezuelanas a fim de obterem vantagem política neste momento”, disse, sem dar detalhes. De acordo com o presidente, suas palavras refletiam uma preocupação no sentido de evitar a exploração de mulheres vulneráveis.

Segundo a Coluna do Estadão apurou, as adolescentes citadas foram procuradas, mas se recusaram a gravar vídeos para ajudar a desfazer o mal-estar. A equipe de Bolsonaro queria que elas divulgassem mensagem, sozinhas, dizendo ser um mal-entendido já esclarecido. As jovens e suas mães, no entanto, ficaram com receio da exposição e do desgaste que isso poderia gerar.

No vídeo, Bolsonaro afirma que a então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, esteve no local em seguida de sua visita, e constatou que a casa visitada pelo presidente não abrigava meninas que se prostituíam. Apesar disso, Bolsonaro afirmou em ao menos três entrevistas recentes que as jovens venezuelanas estavam “arrumadinhas” para fazer “programa”. O vídeo de uma delas foi compartilhado ontem em redes sociais pela socióloga Rosângela da Silva – a Janja, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Me chamou a atenção. Menina bonitinha, sábado? Por que me chamou atenção? Eram parecidas. Eu vi que apareceu mais uma, mais outra. Daí eu desci da moto e disse: ‘Posso entrar aí?’ Tinha umas 15 meninas dessa faixa etária, 14, 15, 16 anos. Todas muito bem arrumadas, tinham tomado banho, estavam fazendo o cabelo.

Venezuelanas. Estavam se arrumando para quê? Alguém tem ideia? Quer que eu fale? Então, vou falar: para fazer programa”, disse Bolsonaro. A afirmação foi feita durante entrevista ao podcast Collab em 12 de setembro, um mês antes da declaração de que havia “pintado um clima” entre ele e as garotas no mesmo episódio.

RECORRÊNCIA

Dois dias depois, Bolsonaro voltou a tratar do encontro em entrevista ao canal Paparazzo Rubro-Negro. “Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, de moto. Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas no sábado numa comunidade, e vi que eram parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’, entrei. Tinha umas 15, 20 meninas no sábado de manhã se arrumando. Todas venezuelanas. Aí, eu te pergunto: Menina bonitinha se arrumando sábado de manhã para quê? Para ganhar a vida”, disse.

Há ao menos mais um vídeo no qual Bolsonaro trata do assunto, durante apresentação na Apas Show, em maio deste ano, em São Paulo. “Meninas bonitas, de 14, 15 anos, se arrumando sábado à tarde para quê? É isso que queremos para nossas filhas e netas?”, disse.

MUNIÇÃO

O tema virou munição para a campanha petista. Influenciadores passaram a chamar Bolsonaro de pedófilo e o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou a retirada de posts que relacionavam a declaração dada à prática de pedofilia. No vídeo de ontem, Bolsonaro chama as meninas de “trabalhadoras” e afirma que o seu compromisso foi o “de melhor atender a todos que fogem de ditaduras pelo mundo”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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