Brasil adota esquema de dose única para vacinação contra o HPV

02/abr 13:16
Por Victória Ribeiro / Estadão

Em um vídeo divulgado nas redes sociais nesta segunda-feira, dia 1º, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, revelou uma nova estratégia na vacinação contra o HPV (sigla para papilomavírus), principal agente causador do câncer de colo de útero: a partir de agora, a vacina será administrada em dose única. Antes, eram indicadas duas doses.

De acordo com a ministra, a decisão de adotar a vacinação em dose única baseou-se em estudos científicos que indicam uma maior adesão à vacina, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A ministra aproveitou também para destacar o progresso nos índices de vacinação, com mais de 5 milhões de doses aplicadas em 2023, o maior número desde 2008. Na comparação com 2022, o aumento foi de 42%. “Agora temos mais vacinas para proteger nossa população”, afirmou.

Embora o HPV também esteja associado a outros tipos de câncer, como de ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe, a médica Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), ressalta que os estudos científicos que embasam a decisão da dose única não demonstram sua eficácia na proteção contra esses tipos de neoplasia.

Apesar disso, países como Grã-Bretanha e Austrália foram os primeiros a mudar suas políticas e estabelecerem a vacinação em uma única dose. Segundo Isabella, a expectativa é que exista uma vigilância epidemiológica desses locais, para que em breve existam evidências sobre a eficácia da única dose contra os outros tipos de cânceres além do de colo de útero.

“O Brasil faz vigilância da circulação do vírus, mas não das lesões precursoras. Ou seja, quando uma pessoa vai ao ginecologista e são detectadas as lesões pré-cancerígenas, não há uma notificação. Por isso, a expectativa é que exista um acompanhamento da dose única em outros países, como a Austrália”, afirma Isabella.

Mesmo reconhecendo essa lacuna, a diretora da SBIm afirma que, do ponto de vista da saúde pública, a decisão pode colaborar com uma maior adesão da vacinação e, consequentemente, alterar significativamente o cenário do HPV no Brasil.

“Ao se vacinar contra o vírus, a pessoa não só se protege, mas também contribui para reduzir a circulação e a prevalência do HPV. Essa é a base estratégica por trás da mudança no esquema vacinal, juntamente com o objetivo de eliminar o câncer de colo de útero”, explica Isabella.

Segundo a OMS, a ampla implementação da estratégia de dose única poderia prevenir 60 milhões de casos de câncer do colo do útero e 45 milhões de mortes em todo o mundo nos próximos 100 anos.

O que é o HPV?

A sigla diz respeito ao papilomavírus humano, responsável pela infecção sexualmente transmissível (IST) mais frequente no mundo, segundo o Ministério da Saúde. Ainda segundo a pasta, a transmissão do HPV ocorre pelo contato direto com a pele ou mucosa infectada, ou seja, pelo toque, penetração vaginal ou anal, ou contato do vírus com a boca. Já foram identificados mais de 200 subtipos do vírus.

Cerca de 70% a 80% da população entra em contato com o HPV em algum momento da vida, principalmente por meio da atividade sexual. Embora a maioria das infecções pelo vírus seja resolvida pelo sistema imunológico, algumas persistem, o que pode resultar no desenvolvimento de lesões e, eventualmente, no desenvolvimento do câncer.

Quais as formas de prevenção contra o HPV?

Segundo Mariana Scaranti, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, a principal estratégia nesse sentido é a vacinação. O imunizante contra o HPV é disponibilizado gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) há dez anos.

Além da vacinação, outra estratégia fundamental no combate ao HPV é o uso de preservativo. Mas, como esse método não é 100% eficaz no combate à doença, segundo o Ministério da Saúde, é importante combinar o uso de preservativos com a vacinação.

Para evitar especificamente o câncer de colo de útero provocado pelo HPV, outra estratégia é a realização regular do papanicolau. Trata-se de um exame ginecológico que identifica infecções no colo do útero e pode detectar a doença antes que ela se transforme em um tumor. Segundo a oncologista, a periodicidade de realização desse exame deve ser decidida junto com o ginecologista.

Quem pode se vacinar gratuitamente pelo SUS:

– Meninas e meninos de 9 a 14 anos;

– Pessoas de 9 a 45 anos com condições clínicas especiais como HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea, pacientes oncológicos (imunossuprimidos);

– Vítimas de abuso sexual;

– Pessoas com papilomatose respiratória recorrente (PPR).

Além disso, Nísia incentivou Estados e municípios a realizarem uma busca ativa por pessoas de até 19 anos que não receberam nenhuma dose da vacina contra o HPV, para que possam atualizar seu esquema vacinal.

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