Brasília e meus amigos
Tive amigos fraternos que se mudaram para Brasília na esperança de dias melhores, alguns deles para iniciarem atividades empresariais, outros funcionários públicos na expectativa de alçarem funções mais elevadas.
Para muitos, o futuro tornou-se promissor; outros retornaram à origem, por razões diversas, até por problemas climáticas a influenciar.
Eu, por exemplo, na década dos anos setenta, por orientação do presidente da empresa onde trabalhava, tive que deslocar-me à Brasília com a finalidade de tratar da lavratura da escritura de compra e venda dos imóveis funcionais adquiridos pela Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes, àquela época sob a direção do Eng. Cloraldino Soares Severo.
Na ocasião, privava do contato diário, no Rio de Janeiro, sede da empresa, de uma pessoa muito especial, em razão dos ensinamentos que me transmitiu, o Drº Antônio Saturnino Braga, destacado Procurador do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
É bem verdade que, de início, relutei em viajar, contudo, o chefe a quem tanto admirava convenceu-me e lá fui eu, em companhia do Silvio, motorista do Dr. Antônio, figura também nunca esquecida.
“Pilotava” um Aero Willys, creio que fabricado no final da década dos anos sessenta, sempre com absoluta segurança e prudência.
Acompanhou-me na viagem tia Mazinha, irmã de meu pai e que demonstrara vontade de conhecer a capital do país, à época, em franco desenvolvimento.
Em lá chegando, depois de dois dias de trabalhos exaustivos e da mais alta responsabilidade, fiz resolver com sucesso as pendências que ainda existiam, retornando ao Rio de Janeiro satisfeito em razão da missão cumprida.
De volta, Dr. Antônio falou-me: “em breve estaremos juntos em Brasília para continuar nossa jornada de trabalho que espero, possa se estender ainda por muitos anos”.
O destino, contudo, assim não o quis; ele e a família, realmente, se mudaram para Brasília e eu, por não desejar me transferir, tive que pedir demissão do emprego que detinha, não muito contente com a decisão escolhida; todavia, foi a que restou-me adotar, já que todo o corpo superior da mesma passou a funcionar no Planalto Central.
Já distantes, falávamos constantemente e eu, pouco tempo depois, ingressava como advogado de uma sociedade de economia mista do governo do estado do Rio de Janeiro, terminando por servir ao próprio estado junto à área jurídica da Secretaria de Transportes.
Infelizmente, Dr. Antônio veio a falecer sem que eu tivesse oportunidade de revê-lo em Brasília; a fobia por viagens aéreas colaborou para tanto.
Contudo, a figura do amigo nunca foi esquecida.
No âmbito do Estado do Rio de Janeiro foi diferente, quando numa manhã, ao chegar de Petrópolis, isso já em 1980, recebi a missão do Secretário de Transportes, o Comte Adhyr Velloso de Albuquerque, de quem guardo recordações e imenso sentimento de gratidão, tendo o mesmo me dito resoluto: “irá embarcar para Brasília ainda hoje; sua presença será fundamental, juntamente com um colega da Procuradoria Geral do Estado, a fim de dirimirem assuntos de grande importância, no Ministério dos Transportes, com repercussão para a mesma área do nosso estado do Rio de Janeiro”.
Ainda titubeei em face do meio de locomoção, via aérea, porém percebi que não havia alternativa, agarrando-me a Deus.
Parti em companhia do ilustre Procurador Célio Alberto Scholl Ferreira, já falecido e também nunca olvidado e chegando em Brasília acabamos por resolver relevantes assuntos pendentes, tudo para satisfação e contentamento por parte do também sempre lembrado Comte Adhyr.
Nunca mais retornei à Brasília e, na verdade, creio que a decisão que fui obrigado a adotar no passado, pela inspiração do Pai, aliada à falta de alternativa, haja sido a mais coerente e a melhor não só para mim, como para minha família, não sabendo qual seria o nosso destino, longe de pais e sogros, a viver longe dos mesmos.
Brasília, somente me faz lembrar os amigos aos quais faço alusão nestas modestas linhas e nada mais…!