Bruno Gagliasso: ‘Tive de acessar meu inferno para poder fazer o Cardona’
Depois de seis meses de imersão, morando em Madri, em 2021, Bruno Gagliasso estreou nesta sexta, 16, na Netflix, a série Santo, com o personagem “mais visceral” de sua vida, segundo o ator. Ele protagoniza o primeiro projeto entre Brasil e Espanha da plataforma. Criada por Carlos López, com direção do brasileiro Vicente Amorim, Santo é a história de um traficante misterioso, jamais visto.
Os dois policiais que procuram o criminoso, Cardona (Bruno Gagliasso) e Millán (Raúl Arévalo), inicialmente se opõem, mas passam a colaborar e a se entender para resolver o caso e permanecerem vivos. “Tenho certeza de que essa foi a preparação mais visceral da minha vida. Não só por causa do personagem, mas também por ter ficado em outro país e eu e o Vicente sermos os únicos brasileiros. Tive que acessar lugares muito profundos, tive que acessar meu inferno e encontrar meus demônios para poder fazer o Cardona”, afirma Gagliasso.
IMERSÃO. Em entrevista ao Estadão, o ator e o diretor relataram que o mais desafiador do processo foi essa imersão solitária em terras estrangeiras. “Foi difícil encontrar o equilíbrio para dar o tom certo nos personagens em meio a uma certa solidão. Apesar de a equipe e de todos os produtores serem incríveis, estávamos na Espanha, na pandemia, eu e o Bruno éramos os únicos brasileiros”, explica o cineasta.
Inicialmente, devido à covid-19, algumas preparações do elenco foram realizadas de maneira remota. Tanto nesse momento, quanto depois, nas gravações, Bruno explica que precisa se conectar com seus personagens através da identificação e atribui ao apoio de Vicente e ao trabalho dos colegas de elenco e produção a força do protagonista.
“Eu busco essa verdade que vem de dentro, esse é o meu processo. Tive que encontrar meus demônios para ser o Cardona. Foi importante para mim saber que eu estava seguro para mergulhar no buraco do penhasco, porque sabia que teria uma mão para me tirar dele quando fosse necessário. Essa mão é o cuidado do diretor, essa força conjunta”, afirma.
Gagliasso explica que, para além dos “demônios”, ele se identifica com a força e determinação de seu personagem. Segundo o diretor, essa intensidade dos protagonistas Cardona e Millán se deve ao fato de a trama girar mais em torno deles do que do narcotráfico.
Amorim ressalta que essa temática funciona como “um ponto de partida para entender o inferno pessoal desses personagens”. “Eles são os dois lados da moeda. O do Bruno é o de um homem que a gente quer ser, nos levando nessa viagem em que (possivelmente) a gente se identifica com o Raul como aquele homem que nós, de fato, somos, com contradições. A série é muito mais sobre isso do que sobre narcotráfico”.
SALVADOR-MADRI. Amorim revela que 75% das filmagens foram feitas em Madri e 25% em Salvador. O diretor diz que as duas cidades se entrelaçam na obra: “Quem assiste acha que foi gravado 50% no Brasil e 50% na Espanha, mas não. A série se passa 75% na Espanha, mas o Brasil é tão poderoso visualmente e socialmente e os personagens brasileiros são tão fortes que acabam causando essa impressão”.
“Tivemos o cuidado de não retratar Salvador de maneira estereotipada”, avisa o diretor. Sobre ser a primeira produção espanhola e brasileira, Gagliasso atribui a isso um “intercâmbio cultural”. “O que me chamou atenção não foi por ser internacional, mas como o Brasil estava sendo retratado. Fui fazer algo internacional, mas interpretando um brasileiro. O legal é que não estou falando em espanhol ou inglês. Estou contando, em português, uma história que também se passa no Brasil”.
Santo ainda conta no elenco com Victoria Guerra e Greta Fernández e com a produção da Nostromo Pictures. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.