Busca por atendimento para tratar colesterol alto no SUS de SP sobe 41%

08/ago 18:55
Por Beatriz Bulhões / Estadão

Dados divulgados pelo governo de São Paulo mostram que o Estado registrou 827 atendimentos ambulatoriais de pacientes com colesterol alto de janeiro a maio deste ano, pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – 41% a mais do que no mesmo período do ano passado. O índice foi divulgado nesta quinta-feira, 8, Dia Nacional de Combate ao Colesterol.

Nos primeiros cinco meses de 2023, foram 586 atendimentos ambulatoriais por hipercolesterolemia, de acordo com a Secretaria da Saúde. Ao todo, 41.465.940 comprimidos foram dispensados para o tratamento da condição.

Para o vice-presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Henrique Tria Bianco, o crescimento pode estar relacionado a uma mudança positiva. “Se o atendimento melhorou, pode significar não um aumento no diagnóstico, mas na postura do paciente em procurar um médico para tratar da doença”, diz.

O médico explica que o colesterol em si é uma partícula necessária para diversas funções do nosso corpo, especialmente formação de hormônios como testosterona e estrogênio, além de ácidos biliares, fundamentais na digestão da gordura dos alimentos. Porém, quando em excesso, pode gerar desfechos como infarto ou acidente vascular cerebral (AVC).

Um levantamento da SBC aponta que o elevado nível de colesterol no sangue responde por 30% de todas as mortes no País. Esse aumento pode ser causado por diversos fatores, como alimentação rica em gorduras saturadas, excesso de peso, diabetes, tabagismo, sedentarismo e estresse.

Além disso, o cardiologista Carlos Eduardo Vilhena Favato, do Hospital Geral de Itapecerica da Serra (HGIS), alerta que o fator hereditário também exerce influência. “A genética pode estar relacionada ao colesterol, mas na grande maioria dos casos, o desenvolvimento da doença está associado à ingestão alimentar errada, ausência de exercícios físicos e obesidade”, reforça.

Qual a diferença entre HDL e LDL?

Bianco explica que se trata do mesmo colesterol, porém levado por “carregadores” distintos. “Imagine que são apenas diferentes caminhões: um para levar a partícula, outro para limpar o que sujou”, desenha.

Na analogia, o caminhão que “leva” seria o de baixa densidade (LDL), enquanto o da “limpeza” representaria o de alta densidade (HDL). Assim, o LDL seria ruim, pelo risco de causar um “engarrafamento” de transportadores da partícula.

O descontrole desses transmissores tem como consequência o desenvolvimento de placas de aterosclerose – especialmente quando muitos “levam” (alto LDL) e poucos “limpam” (baixo HDL). Ainda assim, o cardiologista alerta que o aumento de qualquer um dos dois deve ser observado e tratado por um médico.

Esse aumento é verificado em exames de sangue e não possui sintomas característicos, o que reforça a necessidade de testes frequentes. Há, porém, alguns sinais considerados um alerta de problemas com colesterol. São eles:

– Dor ou desconforto no peito;

– Falta de ar e fadiga quando é realizado um esforço físico;

– Dores nas pernas ao caminhar que melhoram com o repouso;

– Pele fria e palidez nos dedos.

Mudança de hábito

Mozar Suzigan, cardiologista e membro do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, relaciona o crescimento da hipercolesterolemia aos hábitos da sociedade. “São pessoas que ficam no trabalho o dia inteiro, têm pouco tempo para se exercitar, dormem mal, comem alimentos ultraprocessados e têm baixa ingestão de frutas e verduras”, exemplifica. Conforme a SBC, cerca de 70% do colesterol é produzido pelo próprio organismo, enquanto 30% é fruto da má alimentação.

Outro ponto destacado pelo médico é que esses mesmos hábitos podem desencadear outras condições. “Quase sempre há outros fatores associados a esse perfil: o consumo elevado de bebida alcoólica, gerando problemas no fígado; ou estar acima do peso e criar uma resistência à insulina, gerando diabetes.”

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