Caixa vê cenário complexo para captação em 2025 e quer buscar novas fontes

03/mar 10:00
Por Matheus Piovesana / Estadão

A Caixa Econômica Federal quer liderar as discussões do mercado brasileiro sobre o futuro do financiamento ao crédito imobiliário. Na visão do banco público, as perspectivas para 2025 exigem atenção se não houver uma mudança na atual estrutura, fortemente dependente da poupança. Uma surpresa positiva, porém, pode vir das novas regras estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para as letras de crédito imobiliário (LCIs).

O presidente da Caixa, Carlos Vieira, afirmou na quarta-feira, 28, que o banco está com a captação assegurada para cumprir o orçamento de crédito em 2024, ano em que espera novo crescimento. A questão reside em 2025, diante da perspectiva de que a perda de atratividade da poupança para os brasileiros é estrutural, e não apenas conjuntural.

“Historicamente, a redução da Selic ajuda a poupança, mas com a concorrência com outras formas de investimento, esse movimento não deve ser natural”, disse o executivo em coletiva de imprensa para tratar dos resultados da Caixa em 2023, que foram divulgados ontem, 27. O banco teve uma alta de 15,5% no lucro líquido em 2023, para R$ 10,6 bilhões, embalado pelo crédito, que cresceu 10,6%.

A carteira de financiamento imobiliário, com alta de 14,6% em relação a 2022, ajudou a puxar este resultado. Entretanto, a sustentação veio das linhas que têm recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), diante da menor disponibilidade de recursos da poupança. Enquanto o FGTS destinou quase R$ 100 bilhões à habitação em 2023, mais que em 2022, o saldo de poupança da Caixa caiu 0,7%, para R$ 358,328 bilhões.

O banco usou o FGTS para compensar a queda da poupança, mas esse redirecionamento tem limites. No pró-cotista, a principal linha financiada pelo recurso, entram famílias de renda mensal de até R$ 8.000, o que deixa de fora um pedaço no alto da pirâmide da classe média que também compra imóveis, e que diante da retração dos demais bancos no segmento, recorreu à Caixa no ano passado.

Segundo Vieira, a opção mais viável no curto prazo é a liberação de depósitos compulsórios relativos à poupança, um pleito que, como mostrou o Broadcast em dezembro, a Caixa fez ao Banco Central no ano passado. O executivo disse, em um exemplo, que reduzir para 15% o porcentual de depósitos da poupança que ficam no Banco Central poderia liberar R$ 70 bilhões em recursos para o mercado.

Outras duas opções são a securitização da carteira de crédito imobiliária do banco e a atração de recursos estrangeiros para a captação. Na primeira frente, Vieira afirmou que a estrutura da Caixa está pronta, mas que é preciso esperar os juros caírem para a casa de um dígito para que o investidor sinta-se atraído. Na segunda, o banco espera que o novo programa de hedge cambial do governo ajude a atrair recursos. “Nós temos dialogado com fundos de pensão internacionais”, afirmou.

Efeito colateral

Para manter as linhas do SBPE operando, a Caixa tem recorrido a outras fontes de financiamento, como as LCIs. Hoje, 41% do saldo desse tipo de instrumento aplicado pelo mercado brasileiro está no banco, uma participação maior que a que a instituição tem na própria poupança, de 36,5%.

No início do ano, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fez uma mudança importante nesse e em outros títulos que são isentos de imposto de renda para o aplicador. No caso da LCI, o prazo mínimo passou a ser de 12 meses, acabando, na prática, com os títulos que poderiam ser resgatados em 90 dias, e que tinham grande popularidade junto ao investidor de varejo.

A Caixa não detalhou quanto estes títulos representavam em sua estrutura de captação, mas acredita que o efeito das mudanças pode ser positivo para o banco. O vice-presidente de Finanças e Controladoria, Marcos Brasiliano, afirmou que além de estar com a captação para o ano assegurada, a Caixa tem lastro para continuar emitindo LCIs. Os tipos de lastro também foram restritos pelo CMN, que passou a vetar emissões que tomam por base títulos de dívida.

“Nós temos o privilégio de continuar emitindo LCI no momento em que outros emissores ficam prejudicados”, disse Brasiliano. Ele afirmou que o banco ainda analisa se esta maior procura será suficiente para compensar o fim da oferta dos títulos de mais curto prazo.

Projeções

A despeito de uma estrutura de captação mais cara, a carteira de crédito da Caixa teve o maior crescimento entre os grandes bancos do País no ano passado, chegando a R$ 1,12 trilhão em operações em dezembro. O ritmo forte deve se manter, e o banco pretende divulgar na segunda quinzena de março uma espécie de projeção corporativa (guidance) para o desempenho das principais linhas de crédito este ano.

Brasiliano afirmou que o foco da instituição em 2024 será crescer em outras linhas de crédito. No ano passado, o crédito comercial para pessoas físicas caiu 2%, e o para pessoas jurídicas cresceu 3,8%, bem abaixo da carteira. A ideia é acelerar a partir da transformação digital e de negócio da Caixa, que Vieira quer catalisar.

Espera-se que esta diversificação aumente também a rentabilidade da Caixa. No ano passado, o indicador ficou em 8,5%, o menor entre os cinco maiores bancos, a despeito de a Caixa ter registrado o quarto maior resultado, à frente do Santander Brasil.

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