‘Câmara não vai aceitar’, afirma corregedor sobre fala racista

17/07/2021 09:00
Por Bruno Ribeiro / Estadão

O vereador Gilberto Nascimento (PSC), corregedor da Câmara Municipal de São Paulo, defendeu celeridade nas discussões sobre uma punição ao colega de Casa Arnaldo Faria de Sá (Progressistas), acusado de racismo. Nascimento quer que os debates sobre o caso comecem ainda durante o recesso parlamentar, que terá início na próxima segunda-feira.

Faria de Sá, ao tentar defender o ex-prefeito Celso Pitta (1946-2009), disse que ele “era um negro de alma branca”. Nos bastidores da Câmara, é tido como certo que o vereador sofrerá algum tipo de punição. Para Nascimento, a cidade exige uma resposta “rápida” do Legislativo, que, segundo ele, “não pode aceitar atitudes como esta”. O parlamentar se disse surpreso com a atitude do colega, que tem oito mandatos anteriores e já se retratou. Confira trechos de entrevista que ele concedeu ao Estadão:

Como o senhor vê essa representação e a fala do vereador Faria de Sá?

Para mim, foi uma surpresa. Não acreditei que fosse alguma coisa tão impactante como foi. O termo, a frase. (Na hora da votação) Já até tinha saído do sistema (de votações). Acabei desligando o telefone, mas dez minutos depois começaram as ligações. Foi um espanto né? Mas, claro, foi uma situação que aconteceu. Sabia que chegaria à Corregedoria, independentemente do pedido de desculpas do vereador Arnaldo, que ali na sequência já pediu uma parte pra poder falar. Mas outros vereadores também vieram rechaçando esse tipo de atitude, e eu tenho a mesma opinião, né?

É o caso de punição?

A punição quem define é o relator. Existem várias formas de punição. Desde a mais grave, que é a que foi pedida no processo, que é a perda do mandato, até a mais branda, que é uma retratação verbal. É um caso atípico para esta Casa. Nós não tivemos na história uma situação dessa.

Quem será o relator do caso?

Ainda vou entrar em contato com os demais membros para saber aqueles que estão na Casa, porque a gente precisa dar ritmo às coisas. A única coisa que eu prezo é que não gostaria que ficasse uma ferida aberta por tanto tempo. Temos previsão de recesso e sessões marcadas até domingo. Minha ideia é que a gente faça esse processo o mais breve possível. Se preciso for, faremos isso inclusive dentro do recesso, mesmo que em uma reunião extraordinária de forma virtual. É uma situação desconfortável não só para aquele que praticou essa ação, para aqueles que se sentiram ofendidos, mas para a Casa, para a cidade. A gente tem que demonstrar e tomar as atitudes o mais rápido possível para que esse problema seja sanado e a gente possa mostrar para a sociedade, para a cidade, que a Câmara tem uma opinião formada e não vai aceitar e não deve aceitar atitudes como essa.

Esse episódio se dá em um ano em que o aumento da representatividade da política vinha sendo celebrado. Como o senhor vê isso?

A gente cresceu o número, foi matéria de vários jornais o crescimento desta representatividade. Acho natural, porém está aquém quando a gente faz um paralelo com o que é a representatividade da sociedade. Acho que, em algumas situações, você tem algumas realidades muito próximas, em alguns recortes, mas, nesse caso, nós não temos essa proporcionalidade representada aqui na Câmara.

Como evitar, no futuro, uma fala como a que foi dita na Câmara Municipal? A punição ao vereador Arnaldo Faria de Sá está relacionada a isso?

Fica difícil eu falar sobre a punição. Vai depender do relator. Meu papel, como corregedor, é como o de um juiz. O que tenho de informação é o pedido, que é de pena máxima, a perda de mandato.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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