Camila Morgado colhe frutos com sua atuação na série ‘Bom Dia, Verônica’

28/01/2021 07:25
Por Estadão Conteúdo

Sucesso de público e crítica, Bom Dia, Verônica estreou na Netflix em outubro, mas a série brasileira ainda repercute. E colhe frutos – sobretudo, o elenco. Até hoje, a personagem Janete reverbera na carreira da atriz Camila Morgado, que dá vida a essa mulher presa a um relacionamento abusivo, de forma realista, precisa, primorosa. Os elogios são merecidos, assim como os prêmios. No final do ano passado, Camila ganhou o prêmio Contigo! de melhor atriz coadjuvante, e neste início de 2021, levou mais dois troféus: de melhor atriz coadjuvante no Prêmio Brasileiro de Teledramaturgia e de melhor atriz no Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).

“Foi muito bom dividir o prêmio da APCA com a Tatiana Tibúrcio (por ‘Falas Negras’, da Globo). Fiquei muito emocionada, porque ela também faz uma mulher que fala de um tema real, de algo que aconteceu. Então, ela ter sido premiada e eu também, fazendo a Janete, que representa todas essas mulheres que sofrem violência doméstica, psicológica, física, achei muito simbólico nós duas ganharmos esse prêmio”, diz Camila, em entrevista ao Estadão, por telefone – referindo-se à interpretação emocionante de Tatiana como Mirtes, mãe do menino Miguel Otávio, que caiu de um prédio no Recife, após ela deixar o filho sob os cuidados da patroa.

Em Bom Dia, Verônica – inspirada no livro de Ilana Casoy e Raphael Montes, e com direção-geral de José Henrique Fonseca -, a Janete de Camila Morgado é a mulher subjugada pelo marido algoz, o policial Brandão (Eduardo Moscovis) – que esconde outra faceta violenta, a de serial killer. Com o tempo, Brandão vai cerceando a liberdade e a ligação da mulher com o mundo exterior. Sem contato com amigos ou família, ela acaba se isolando, tal e qual acontece em relacionamentos abusivos na vida real. “Estamos vendo agora na pandemia como aumentaram os casos de feminicídio, de violência doméstica”, observa a atriz. “São temas que fazem parte da nossa realidade. O Brasil é o 5.º país que mais mata mulheres. Eu e o Du sempre falávamos sobre isso: o Brandão vê a Janete como propriedade dele, aquela mulher é dele, e passa muito isso, a submissão da Janete, ela sendo aquele ser que é manipulado pelo marido, que vai perdendo sua identidade, seus laços com a família.”

Aliás, a sintonia em cena entre Camila e Moscovis se mostra fundamental na narrativa. Existe um jogo muito intenso, na medida certa, entre eles, que são dois grandes atores. Esse casal tem grande importância na trama, assim como a protagonista, a escrivã Verônica (Tainá Müller), que inicia uma jornada sem precedentes após testemunhar, na delegacia onde trabalha, o suicídio de uma mulher enganada por um homem. É Verônica quem escuta, acolhe Janete, e tenta tirá-la dessa relação, do domínio desse homem que a chama de “passarinha” – mas o apelido gera arrepios a quem assiste à série.

E como foi construir essa Janete? “Pensei muito em trabalhar o silêncio, o vazio, eu pensava muito nessas coisas, porque é uma mulher que fica dentro de casa e sai pouquíssimo. A casa é a própria prisão, é o cativeiro”, diz. Preste atenção no olhar de Camila, na postura de seu corpo, para dentro, como se Janete quisesse se esconder, ficar invisível. “Ela vai perdendo toda a vaidade, é como se estivesse num outro tempo.”

Na mesma época em que a série da Netflix foi lançada, Camila iniciava as gravações, no Uruguai, de outra série, para a Amazon. Sobre a nova produção, ainda sem nome, a atriz diz que não pode adiantar detalhes. “O que posso falar é que faço uma advogada criminalista.” As filmagens devem ser retomadas entre fevereiro e março. Por causa da pandemia, a atriz ficou o ano passado praticamente sem trabalhar. Parou de procurar textos para teatro e, por ora, não há projetos previstos no cinema nem na TV. As produções, de maneira geral, foram adiadas ou canceladas. Ver esse cenário para o teatro e o cinema no Brasil a entristece, assim como a falta de ajuda do governo. “Sei que a gente está atravessando uma pandemia, mas esse projeto de destruição (da arte) começou antes da covid.”

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