Caminho do Ouro, joia do Império e residência de verão de presidentes: Petrópolis guarda marcas importantes em seus 181 anos
Um passado de grandes histórias. Da monarquia à República, Petrópolis se destacou como um lugar de desenvolvimento e descanso. Foi parte do Caminho do Ouro, residência de verão do Império e grande destaque nacional na Indústria Têxtil. Além disso, é uma das poucas cidades planejadas do país.
Em entrevista à Tribuna, o diretor do Museu Imperial, Mauricio Vicente Ferreira Júnior, explica que a cidade abrigava um povo nativo, chamado de Coroados e começou a ter a presença dos colonizadores a partir do momento em que foi criado um caminho mais curto para Minas Gerais, já que, até então, a viagem levava mais de 40 dias.
Petrópolis, neste Caminho Novo, era um ponto de descanso, até que um viajante ilustre passou pela região e se encantou. Era Dom Pedro I. O Imperador foi atraído pela qualidade do ar, a vegetação e também por uma recomendação médica.
“A princesa Paula Mariana, sua filha, estava doente e o médico recomendou que ela passasse, como diziam na época, ‘ares mais frescos’. Então, eles passaram temporadas aqui na região e, gradativamente, se fortaleceu o interesse de adquirir uma fazenda para transformar em uma residência de verão”, afirmou o diretor do Museu.
Com a ida de Dom Pedro I para Portugal e sua abdicação do trono, o sonho do Palácio nas terras que hoje compõem Petrópolis ficou a cargo do herdeiro, Dom Pedro II. A primeira tentativa foi a Fazenda de Padre Corrêa, em que a herdeira não aceitou a venda. Foi onde então a família se instalou na Fazenda do Córrego Seco.
A presença imperial marcou o desenvolvimento e o planejamento da cidade. “Podemos especular que, sem a presença do Imperador, Petrópolis não seria o que se tornou, certamente”, disse o diretor.
A primeira cidade planejada
Inaugurada no dia 16 de março de 1843, Petrópolis foi a primeira cidade planejada do Brasil, e idealizada para ser o local de veraneio da Família Imperial e nobres do Segundo Reinado. O planejamento da Cidade Imperial foi realizado por Júlio Frederico Koeler, e no projeto executado pelo engenheiro constam detalhes sobre as áreas mínimas dos terrenos e a proteção das matas das encostas. Além disso, os rios foram projetados para correrem em frente as casas, e não mais atrás delas, como muito se é visto no atual cenário do município.
Para a construção da cidade, Koeler fez um minucioso levantamento topográfico. Segundo Guilherme Pedro Eppinghaus, associado do Instituto Histórico de Petrópolis (IHP), foi necessário o levantamento, incluindo altitudes e pesquisa da formação das estruturas rochosas e os revestimentos de terras onde se mantinham as florestas exuberantes.
O Art. 6º das instruções para a execução do Decreto Imperial, condicionava a reserva nos altos das montanhas e colinas das matas necessárias à conservação das águas, além das destinadas às edificações imperiais, edifícios, praças, ruas, caminhos, pontes e cemitérios, entendido por edificações imperiais e edifícios, as obras destinadas a serviços públicos, como represas, mirantes, pavilhões e outras.
Com isso é possível concluir que ao projetar a cidade, Koeler teve a preocupação com a devastação das matas, erosão nas encostas e suas consequências que poderiam trazer danos com o escoamento das grandes precipitações pluviométricas, que na época já eram sentidas com as chuvas de verão, mesmo sem os resultados que podem ser vistos atualmente.
A chegada da República
O fim do Império não fez com que a cidade perdesse seu brilho. Os presidentes da República continuaram a manter a tradição de passar os verões na cidade, até a transferência da capital federal para Brasília. Ainda assim, após esse período, os chefes do Executivo continuaram a vir em ocasiões, passando temporadas no Palácio Rio Negro. Na economia, a indústria têxtil ganhou força.
“Petrópolis encontrou uma certa diversificação da sua economia, fator que contribuiu para dar prosseguimento ao desenvolvimento econômico da região, independentemente da presença do Imperador ou da monarquia”, disse o diretor do Museu.
A cidade que surgiu como caminho do ouro também não abandonou sua vocação de ligação entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Um trem maria-fumaça subia a Serra em direção ao estado vizinho, sem contar as estradas abertas: primeiro, a União e Indústria e após, a BR-040.
Hoje, a ferrovia fica na lembrança. Em Nogueira, o centro cultural na praça do bairro possui a “Baroneza II”, considerada uma das locomotivas mais antigas do Brasil, tendo sido fabricada no século XIX. O local, construído em 1908, funciona como um museu, biblioteca e abriga exposições. A estação foi palco da chegada do trem em Petrópolis. A linha que passava na estação foi desativada em 1964.