‘Cancelamento virtual se assemelha ao linchamento’, diz doutora em Psicologia

02/03/2021 14:36
Por Redação/Tribuna de Petrópolis*

O ato de exclusão de pessoas, inclusive personalidades, da rede social tem ganhado força com a “Cultura do cancelamento”, que se tornou um mecanismos de manifesto popular contra atos considerados inaceitáveis pela sociedade. Para a doutora em Psicologia Angie Piqué, gestora nacional do curso de Psicologia da Universidade Estácio de Sá, a nova forma de punição praticada na internet, a partir do cancelamento virtual se tornou uma alternativa para combater o racismo, a discriminação, preconceito, xenofobia, homofobia e abuso de poder. Porém, também oferece perigos que são característicos a qualquer ato de censura e exclusão, já que nem sempre é claro o limite entre o certo e o errado.

A profissional destaca que a maneira punitiva do cancelamento virtual se assemelha a antiga forma relatada na história de apedrejamento ou linchamento. “Aqueles que desejam repudiar algum tipo de comportamento conseguem participar de forma direta no ato de repreender e expressar raiva, ódio e outros sentimentos negativos”, pontua Angie Piqué, ressaltando que o cancelamento virtual, apesar de não ter consequências diretamente letais, como acontece no linchamento, acaba provocando a exclusão do convívio, pelo menos a nível virtual, acarretando consequências importantes. “Dependendo com quem e em que circunstâncias isto acontece, quem sofre o cancelamento pode perder oportunidades de troca, visibilidade, contratos profissionais, patrocínios e, também, manchar sua imagem pública”, pontua.

No jogo de exclusão, tanto a pessoa que é repudiada como a que exerce o repúdio pode sofrer diversas consequências psíquicas preocupantes. O fato de se sentir excluído de forma tão rápida e por tantas pessoas ocasiona sentimentos de desamparo, depressão e, em alguns casos, pode despertar uma sede de vingança. A vítima do cancelamento pode se sentir injustiçada e, consequentemente, procurar a forma de “dar o troco”.

“Ainda que consideremos que muitas das pessoas canceladas são merecedoras de serem banidas ou limitadas em relação à emissão de opiniões ou participações em grupos, não podemos esquecer que o objetivo mais importante deste tipo de ação deveria ser o seu efeito educador. E como educar alguém que é banido do grupo?”, questiona a doutora. Para Angie Piqué, a opinião pública pode, de forma devastadora e muito rápida, destruir a imagem de alguém inocente ou, até mesmo, contribuir para atos destrutivos e preocupantes, como o suicídio, brigas e guerras entre grupos e expressões de ódio que inflamam e dividem os membros de um grupo ou sociedade.

“Estes perigos se tornam mais preocupantes no caso dos adolescentes, que representam uma população que domina a internet e que utilizam a cultura do cancelamento sendo extremamente rígidos nas críticas sobre o que eles mesmos consideram certo ou errado”, acrescenta.

A profissional alerta que é fundamental que pais e educadores procurem conversar com os adolescentes sobre todos estes riscos e tentem, sempre que possível, demonstrar que qualquer tipo de postura considerada condenável, ofensiva ou preconceituosa acaba tendo consequências incontroláveis que podem afetar drasticamente a vida de outra pessoa.

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