Cantos de quarentena

Cada um faz o que pode. Se eu pudesse, curava. Se tivesse preparo, medicava. Se soubesse, trazia respiradores da China. Se me coubesse, decidia coisas boas. Nada disso é possível. Só posso fazer minha parte. Distanciamento, isolamento, telefonar para algumas pessoas para tentar renovar suas energias. E também não sei tocar saxofone, como um dia generoso vizinho aqui nos brindou. Cantar, também não é um atributo que eu tenha. E mesmo não dominando assim plenamente as artes da escrita e muito menos da interpretação, gravei vídeos com pequenas mensagens para mandar a pessoas nas redes sociais, nestes tempos de quarentena. Alguns cantos, eu diria. Que nos deem encorajamento. Aí seguem seus textos.

Canto 1… Que hoje a carência de abraço/ não se torne um chumbo cansaço./ Que a distância forçada dos seus/ jamais se faça pegajoso adeus./ Mesmo impossível que agora beije,/ à distância doe generosamente/ todos os carinhos que almeje./ Vá à janela, pelo vídeo, ao celular./ Não se abata, não se deixe esmagar./ Sorria para teus olhos no espelho,/ pratique um bem, encoraje alguém./ Cante na varanda, ore sob o luar./ Calma. Vai passar. Vamos superar./ Sobreviver, vencer. Vamos mudar./ Talvez até melhorar. Então, resista./ Mantenha a esperança, cultive a fé./ Depois dessa tortuosa travessia,/ no futuro, entre flores, no café,/ assim que a aurora trouxer novo dia/ e o povo todo for pra rua festejar/ você vai ter muita vitória pra contar.

Canto 2… Não sabemos quando vai acabar./ Não sabemos quantos vão cair./ Só podemos bem armar barricadas./ Com toda esperança, então resistir./ Mas o que conforta nesta hora torta/ é que ouvi bela canção nas janelas,/ vi o que telefonou para o solitário./ Vi o que levou ao faminto um pão/ e o profissional de saúde solidário./ Vi resiliência e ouvi sincera oração./ Percebi ser preciso paciência e fé./ Porque esta é uma longa travessia./ Vamos vencê-la um passo por vez,/ em coragem reiterada, dia após dia./ Conosco, em Sua luz, todo o tempo,/ Deus será nossa âncora e alegria./ Do maremoto vai nos dar calmaria.

Canto 3… É penoso um tão duro isolamento/ Tanta incerteza, um árido tormento./ Dúvida feroz assim, a nós consome./ Que será de nós? Pergunta atroz/ que come sonhos e engasga a voz./ Mas é preciso resistir. Nossos avós,/ antes de nós, sofreram mil abismos,/ dores, guerras, depressão e fomes./ Mas resistiram. Eles sobreviveram./ Unidos, segurando a mão de Deus,/ venceram. E do passado trouxeram canções de luz, ensinamentos, flores./ Sigamos suas cores, suas lanternas.
Coragem! Deus tem promessa eterna./ Nós vamos superar. Vamos vencer./ Vamos vencer! Tudo isso vai passar!/ É nossa vez de construirmos bom/ caminho, que aos nossos netos um/ dia servirá como um farol de carinho.

Canto 4… Por ora, que as trágicas notícias/ fiquem fora de você. Cale a TV./ Não há muito que se possa fazer./ Tua parte é esperar, se conter./ Há profunda ansiedade no mundo./ Não deixe que escravize teu ser./ Use cantos, exercícios e prece./ Cultive sorrisos, respire mais fundo./ Nesta guerra, imprescindível é crer./ Calma. Calma. Acarinhe tua alma./ Assobie versos, decore um salmo./ Use versículos como bandeira./ Vamos sair dessa cova, vamos/ vencer o claustro, essa caverna./ Vamos, sim, superar esse drama./ É preciso ter o siso de ser positivo./ Deus acenderá em nós Sua alegria/ de chama. E ela terá luz eterna./ Escrito aos filhos de Deus, está./ Na hora exata, o Senhor proverá.

denilsoncdearaujo.blogspot.com