Carioca Tarcísio adotou moderação e aprendeu rápido a listar problemas paulistas

01/10/2022 08:00
Por Adriana Ferraz e Pedro Venceslau / Estadão

Para um dito “forasteiro”, o carioca Tarcísio de Freitas, de 47 anos, aprendeu rápido. Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para representá-lo na disputa pelo governo de São Paulo, o ex-ministro da Infraestrutura decorou, em pouco tempo, os principais problemas do Estado, especialmente nas áreas de mobilidade e logística, que lhe são mais favoráveis.

Ao longo da campanha, tornou-se também mais político, sempre se equilibrando entre o “bolsonarismo raiz” e as demandas do eleitor moderado, de centro, que tende a votar nos tucanos. No entanto, exatamente por isso, chega ao final deste primeiro turno disputando com o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), o posto de candidato antipetista.

Segundo as pesquisas de intenção de voto, uma das vagas na segunda etapa da eleição está assegurada a Fernando Haddad (PT), que liderou todo o processo até aqui torcendo, assim como Tarcísio, para que o eleitor repita em São Paulo a polarização nacional.

Tentar minar as chances de Rodrigo Garcia chegar lá é estratégia de ambas as campanhas que temem em um segundo turno enfrentar a debilitada, mas persistente tradição tucana no Estado.

Apoio

Apesar de filiado ao Republicanos, foi no PSD, o partido de seu vice, Felicio Ramuth, que o ex-ministro se escorou para montar seu plano de governo e ser orientado sobre como responder às críticas de ter se mudado para o Estado apenas para disputar a eleição.

“É o prefeito que tem de saber os nomes das ruas, dos líderes de bairros e os problemas de zeladoria de cada região. Governador não precisa saber detalhes de tudo, precisa ter experiência e capacidade de gestão. E ficou claro nesta caminhada que Tarcísio é muito bem preparado”, disse Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, ao Estadão.

Além de aprender a listar problemas amplamente conhecidos dos paulistas, como a demora para a conclusão de obras de metrô, as filas para atendimento nos hospitais estaduais e o alto preço dos pedágios nas rodovias concedidas, Tarcísio também tem na ponta da língua temas locais que incomodam os tucanos.

Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras e graduado em engenharia, o candidato, sempre que pode, destaca, por exemplo, a prometida (e nunca entregue) ponte ou túnel entre Santos e Guarujá, a saga do Rodoanel e o fato de São Paulo ainda não ter universalizado o saneamento básico.

Entre as suas principais promessas, destacam-se a redução do IPVA, de impostos sobre a cesta básica, a ampliação do ensino médio profissionalizante, a universalização de vagas em creches por meio de parcerias com os municípios, o investimento em telemedicina e a polêmica revisão do programa de câmeras nos uniformes dos policiais militares.

Tarcísio de Freitas encampa a política defendida pelo presidente Jair Bolsonaro de armar a população, se posiciona contra a saída temporária de presos e também contra o aborto. Também disse que, se eleito, vai acabar com a obrigatoriedade de os servidores estaduais se vacinarem contra a covid-19.

No dia a dia, Tarcísio é guiado mais de perto pelo ex-ministro Guilherme Afif Domingos (PSD), que compôs governos diversos, como os de Geraldo Alckmin, de quem foi secretário e vice-governador; de Dilma Rousseff (PT), quando atuou como ministro-chefe da Secretaria de Micro e Pequena Empresa; e de Jair Bolsonaro, como assessor especial de Paulo Guedes.

Nome de confiança de Kassab, foi Afif quem montou o plano de governo e reuniu os mais variados setores da sociedade para reuniões de apresentação do candidato. Kassab, inclusive, disse a apoiadores na época em que definiu a aliança para a disputa do governo paulista que o fato de Afif coordenar o plano de governo de Tarcísio foi um dos principais motivos para se unir ao ex-ministro de Bolsonaro.

Percalços

A linha mestra da estratégia de comunicação da campanha foi apresentá-lo como um bolsonarista moderado, que rejeita a narrativa da ala mais radical dos seguidores do presidente da República. Sob essa perspectiva, o próprio candidato avalia que o ataque do deputado estadual Douglas Garcia (PL) à jornalista Vera Magalhães, após o debate da TV Cultura entre postulantes ao governo, foi o momento mais crítico da campanha.

A reação de repulsa por parte de Tarcísio foi rápida e contundente, apesar dos protestos de uma ala exaltada do bolsonarismo.

Tarcísio ainda assumiu publicamente ter se arrependido de gravar um vídeo de apoio ao ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB), candidato ao governo de Alagoas, e amenizou o fato de não ter sabido responder onde fica seu colégio eleitoral, em entrevista na cidade em que hoje diz morar, São José dos Campos. Até pouco tempo atrás, sua cidade era Brasília, onde, inclusive, é servidor da Câmara.

Apesar dos percalços, o marqueteiro Pablo Nobel comemora os resultados das pesquisas. “Ele não tinha recall, foi muito difícil torná-lo conhecido de tantos eleitores”, afirmou Nobel.

Sobre a estratégia em um eventual segundo turno, o marqueteiro é direto. “Vamos reforçar a narrativa contra o PT. Até agora tivemos de dividir as forças”, afirmou. Para chegar lá, porém, Tarcísio terá de superar Garcia e a pecha de estrangeiro nas urnas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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