Carnaval, “e no entanto é preciso cantar…!”

06/fev 08:00
Por Fernando Costa

Dois mil e vinte, início da pandemia, cruel e desoladora experiência. Ela assolou o mundo, destarte, não autorizou e nem poderia, a realização dos festejos de carnaval.  Desnecessário dizer o número da estatística. Por isso, a maior festa popular do mundo foi suspensa em terras brasileiras. No ano de 2023 autorizou-se a liberação com a devida cautela. Em 2024 os cuidados se renovarão. Desde criança ouço esse adágio popular trazido por nossos avós e demais ancestrais de que “cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”. E, em dois mil e vinte quatro a “liberação” às máscaras faciais antivírus em desfiles, blocos, bailes e demais festejos será mantida.

Pena que a grande maioria não respeitará os cuidados e correrá o risco de proliferação da doença. Nossa família optou em ficar reclusa. Isso não significa não gostarmos dos folguedos de Momo. Que Deus proteja e seus Anjos encubram com suas asas os foliões ávidos em sambar, dançar, cantar… Mas, por favor, se cuidem, não abandonem as máscaras, o álcool à higiene, o distanciamento, enfim, a vida é preciosa. A festa é bonita, se faz necessária a catarse, a alegria, no entanto a vida é um dom precioso e deve ser preservada. Que rufem os tambores, agogôs e os tamborins! Já estamos vivendo o clima de carnaval, festa popular que, no Brasil assume proporções gigantescas somente comparadas ao futebol, outra paixão nacional.

O carnaval nasceu no Egito, tomou conta da Grécia e espalhou-se por Roma, mas desembarcou no Brasil no século XVII, trazido pelos portugueses. Esta simbiose da tradição europeia com o ritmo e cadência musical africanos criou na Terra de Santa Cruz se não o maior, um dos maiores espetáculos populares do mundo. Já o futebol ganhou força no Brasil lá pelos idos de 1895 através dos ingleses e transformou-se numa espécie de símbolo pátrio. Ambas as manifestações populares, dão leve mostra do talento, criatividade e sensibilidade de nosso povo.

O Brasil é rico em folclore, isto é, “folk”, que significa povo, união, família e “lore” o conhecimento, a sabedoria popular. Verdade é que o ano inicia-se para todos os efeitos a partir da quarta-feira de cinzas. Eu também não fujo à regra. Meu coração artista viaja pelo imaginário popular nas pesquisas e figurinos, com único objetivo de ver nosso povo feliz, ainda que por tão poucos dias. Era uma alegria presenciar Petronilha que, às vésperas de completar noventa e uma primaveras, junto à irmã Lourdes, debruçavam-se nos imensos vestidos, bordando-os, costurando-os e descendo a Rua Teresa radiantes e iluminadas.

As Agremiações petropolitanas se esforçam para abrilhantar as passarelas da Avenida Imperador, no entanto, ao que percebi não haverá os desfiles oficiais. Nessa ocasião muitos viajarão ou permanecerão em seus lares e outros tantos vaguearão pelas ruas em busca de um pouco de alegria e bálsamo a suas dores do dia a dia. Resta-nos, silenciarmos e nos recolhermos. Assistirei, como de costume, pela TV.

Relembrarei os bons tempos em que nossa família ia toda para Avenida, juntos a Eckner, Myriam e filhos, Celinho Thomaz, Circe Nigro, Marly Machado, Miguel/Preto Rico, Mimi, Oscar, Suzana, Veruska, Nena, Sônia, Sônia Blanc, Fátima Cruz e elenco, Arlindo, Waldyr Mariano, Eky, Paulinho, filhos de Juízes, Desembargadores, Promotores de Justiça e outros segmentos da sociedade sem distinção de classe social e realizávamos exibições nas passarelas onde o esplendor predominava.

Quem não se lembra das Grandes Sociedades, exemplo, “Rancho do Amor”, Harmonia Brasileira, Clubes Bogari e Cascatinha? Não existem mais bailes à exceção do Petropolitano Futebol Clube na pessoa do Presidente Arnaldo Rippel Barbosa e Diretoria conseguiram fazer ressurgir os tradicionais bailes do Preto e Branco, esse ocorreu no sábado, dia 03 de fevereiro e, com certeza os do Havaí e o de Máscaras retornarão para alegria geral. A centenária e querida agremiação, que enriquece a Imperial Cidade retomou suas atividades devidamente remodelada constituindo-se o centro dos conclaves, de eventos e de reunião da sociedade petropolitana. 

É verdade que atualmente, os arlequins, pierrots e colombinas já não passeiam nos salões, os confetes e serpentinas desbotaram-se, as fantasias já não têm o mesmo colorido, mas o que fazer? Ainda assim nosso sofrido povo merece a alegria, uma catarse a amenizar as agruras e os calos das mãos. E qual um passe de mágica o povo disfarça sua dor porque é carnaval! Que se emendem os retalhos de cetim e sequem-se as lágrimas, porque é preciso cantar “e, no entanto, é preciso cantar, é preciso cantar para alegrar a Cidade”.                                                                                         

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