Cartas de Dom Pedro II encantam os pesquisadores do Museu Imperial
No último dia 4, o Museu Imperial recebeu a doação das cinco cartas escritas por Dom Pedro II, presenteadas em junho ao presidente Michel Temer, pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin. As cartas haviam sido adquiridos em leilão pelo presidente russo. Desde então os documentos têm sido analisados pela equipe de pesquisa do Palácio Imperial e uma descoberta surpreendeu a arquivista Fátima Argon. Uma das cartas doadas tem relação direta com outra, que já fazia parte do acervo do Museu, que conta atualmente com mais de 250 mil arquivos.
A curiosidade foi percebida por Fátima ao ler o novo documento. Nele Dom Pedro II solicitava em francês, sem mencionar o nome do remetente, o envio de um exemplar da poesia Le Bonheur, escrita pelo famoso poeta francês Sully Prudhomme, que era confrade junto com o Imperador, na Academia Francesa – associação criada em 1635, composta pelas pessoas mais instruídas em assuntos relativos ao idioma. Ao traduzir o conteúdo da carta a arquivista se recordou de outro documento, desta vez escrito pelo próprio Sully a Dom Pedro II, em que agradecia o pedido feito pelo imperador, afirmando ainda que havia solicitado, de imediato, que uma cópia da poesia lhe fosse enviada.
Assim que percebeu a coincidência, a equipe checou as datas das correspondências. “Não resta dúvidas que os documentos estão relacionados. Uma é um pedido de Dom Pedro II ao poeta, e a outra é a resposta de Sully. A carta que recebemos semana passada está datada de 20 de julho de 1890, e a que já tínhamos foi respondida apenas seis dias depois. Isso é impressionante! É muito difícil conseguir cartas que foram escritas por Dom Pedro II, afinal elas foram entregues às mais diferentes personalidades e pensadores da época. Agora imagina receber uma doação de cinco cartas, e uma delas ser justamente o pedido feito pelo imperador, cuja resposta já possuíamos desde 1948, quando recebemos grande parte do Arquivo da Casa Imperial do Brasil. Estamos até agora sem palavras”, disse animada a arquivista.
Entre tantos feitos de Dom Pedro II destaca-se o anseio por conhecimento, a familiaridade com diversos idiomas, o que fazia com que fosse estimado por representantes de vários países. “Ele era um amante da literatura, e conhecimento em geral. E por isso trocou correspondências com centenas de pensadores, pesquisadores, escritores, personalidades, e claro, autoridades de vários países. Isso ressalta ainda mais o “achado” que é essa carta “ativa-passiva”, que é quando os assuntos estão interligados”, salientou.
Após receber como doação, a carta contendo a resposta do poeta francês, o Palácio ganhou, 69 anos depois, o documento em que lhe foi feito o pedido. “Diante da representatividade dessas cartas realizaremos uma exposição nos meses de novembro e dezembro aberta ao público”, afirmou.
Cartas endereçadas a cardeais e a um conde
Não menos importantes, as outras quatro cartas doadas possuem rico conteúdo histórico, principalmente na hora de identificar as cartas protocolares, de gabinete, das de cunho pessoal – como a solicitação feita ao poeta francês. Três documentos eram saudações, congratulações aos cardeais devido à chegada do Natal, e foram escritos nos anos de 1862, 1866 e 1874. Já o quarto documento trata de felicitações referentes ao conde de Trapani, Francisco de Paula Luís Emanuel de Bourbon – Duas Sicílias, pelo nascimento da princesa Maria Thereza Ferdinanda, em 30 de maio de 1855.