Cartões fraudados de filhas de auxiliar de Bolsonaro incluem vacina vedada para crianças

05/05/2023 10:52
Por Julia Affonso / Estadão

A fraude nos cartões de imunização das filhas do ex-ajudante de ordens da Presidência da República Mauro Cid incluiu o registro de vacina contra a covid que não estava autorizada para crianças e adolescentes. Na data da suposta vacinação, as filhas menores de idade não poderiam ter tomado a vacina Janssen, como havia sido inserido no sistema do Ministério da Saúde, porque o imunizante só pode ser aplicado em maiores de 18 anos.

O tenente-coronel Mauro Cid é apontado pela Polícia Federal como articulador do esquema que falsificou certificados para ele, sua família, para o ex-presidente Jair Bolsonaro e a filha Laura. Procurada, a defesa dele não se manifestou.

A investigação da PF apontou que o militar e as filhas teriam tomado três doses de vacina no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A imunização teria ocorrido em 2021, nas seguintes datas: 22 de junho e 8 de setembro, com Pfizer e 19 de novembro com doses da Janssen.

Segundo os investigadores, os dados foram inseridos no sistema do Ministério da Saúde mais de um ano depois da suposta aplicação em Duque de Caxias. As informações foram incluídas na plataforma da pasta em 17 de dezembro do ano passado. A PF afirma que, naquela data, as filhas de Mauro Cid tinham 5 anos, 14 anos e 18 anos.

No período da suposta imunização, em 2021, as filhas de Mauro Cid eram menores de idade e não poderiam ter sido vacinadas com doses de Janssen. O imunizante é permitido pela Agência Nacional De Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas para população acima de 18 anos. Não pode ser usado no Brasil nem como dose de reforço para menores de idade.

A filha mais nova de Mauro Cid não poderia nem ter tomado a vacina da Pfizer. Nas datas da imunização, a criança não se encaixava em nenhuma faixa etária autorizada pela Anvisa.

A agência aprovou em 16 de dezembro de 2021 a aplicação da vacina para crianças de 5 a 11 anos. Em 16 de setembro de 2022, a Anvisa autorizou o imunizante para a população de 6 meses e 4 anos.

Segundo a PF, o objetivo era emitir certificados de vacina em nome de pessoas que não haviam sido efetivamente imunizadas. Mensagens de WhatsApp analisadas pela Polícia Federal indicam que meses antes da suposta imunização em Caxias, o aliado de Bolsonaro criticava a vacina. Em 29 de abril de 2021, o militar escreveu para sua mulher. “Eu não vou tomar…nem as crianças.”

O inquérito aponta que a ideia dos investigados era burlar a exigência do comprovante para viagens internacionais, driblando restrições sanitárias impostas pelo Brasil e pelos Estados Unidos em meio à pandemia. As fraudes teriam ocorrido a partir de Duque de Caxias e do município de Cabeceira, interior de Goiás.

A PF afirma que os certificados de vacina de Bolsonaro e da filha Laura, de 12 anos, teriam sido adulterados às vésperas da viagem da família para os Estados Unidos, em dezembro do ano passado. O inquérito aponta ainda que o ex-presidente e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro tinham “plena ciência” da fraude.

Na quarta-feira, 3, ao deflagrar a Operação Venire contra o esquema de fraude em comprovantes de vacina, a Polícia Federal esteve na casa de Bolsonaro, em Brasília. Os agentes fizeram buscas e apreenderam o celular do ex-presidente.

Foram presos preventivamente Mauro Cid, os assessores do ex-presidente, Max Guilherme e Sergio Cordeiro, o secretário de Governo de Duque de Caxias João Carlos Brecha, o sargento Luís Marcos dos Reis e o advogado Ailton Gonçalves Moraes Barros, que foi candidato a deputado estadual no Rio pelo PL em 2022.

O ex-presidente contestou a vacina contra a covid durante todo o seu mandato. Bolsonaro afirma não ter sido vacinado nem ter imunizado a filha. Ele nega adulteração em cartão de vacina e diz que operação da PF é para “criar fato”. Procurada, a defesa de Mauro Cid não se manifestou.

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