Caso Porsche: polícia investiga se parentes do motorista retiraram garrafas do carro
A Polícia Civil instaurou um novo inquérito nesta semana para apurar um suposto crime de fraude processual envolvendo familiares do empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, que perdeu o controle do Porsche que estava dirigindo e causou o acidente que matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos. O caso ocorreu no fim de março.
Conforme ofício do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), ao qual o Estadão teve acesso, a abertura do inquérito foi solicitada após testemunhas relatarem, em audiência realizada no último dia 28, que familiares de Andrade Filho teriam retirado garrafas de dentro do Porsche antes da chegada da perícia. O pedido é assinado pelo juiz Roberto Zanichelli Cintra, da 1ª Vara do Júri.
A defesa de Andrade Filho não retornou os contatos da reportagem nesta quarta-feira, 3.
O novo inquérito foi instaurado nesta segunda-feira, 1º, pelo 30° Distrito Policial (Tatuapé), na zona leste de São Paulo. Agora, diligências estão em andamento para esclarecer os fatos, segundo a Secretaria da Segurança Pública.
O acidente ocorreu na madrugada do dia 31 de março, domingo de Páscoa, na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, na zona leste. Ao menos a mãe de Andrade Filho compareceu no local logo após o acidente, em presença parcialmente gravada pela câmara corporal de um dos policiais. O motorista recebeu liberação para ir ao hospital mesmo sem fazer o teste do bafômetro, mas se dirigiu para casa.
Após a conclusão de um primeiro inquérito policial, no fim de abril deste ano, Fernando Sastre de Andrade Filho foi indiciado por homicídio doloso, lesão corporal e fuga do local de acidente. O empresário chegou a ficar foragido por três dias após ter a prisão preventiva decretada, mas se entregou à polícia no começo de maio. Atualmente, ele está preso na Penitenciária de Tremembé.
Segundo sindicância da Polícia Militar, os agentes que atenderam a ocorrência erraram ao não fazer o teste do bafômetro em Andrade Filho após o acidente. “Testemunhas dizem que ele apresentava voz pastosa, andar cambaleante”, disse, em coletiva de imprensa realizada em abril, o delegado Carlos Henrique Ruiz, da 5ª Delegacia Seccional (Leste).
Como mostrou o Estadão, imagens coletadas pelas câmeras corporais de um dos agentes da Polícia Militar que atuou na ocorrência ajudam a entender as circunstâncias em que o empresário foi liberado após bater com o Porsche na traseira do Renault Sandero de Ornaldo.
Nas imagens das câmera corporal da farda de um dos agentes, é possível ver o momento em que policiais se aproximam de Andrade Filho, que já estava em companhia da mãe nesse momento, para indagá-lo sobre o acidente. “Onde ele vai?”, diz uma agente, se referindo ao motorista.
Ao ser questionado sobre o acidente após ser alcançado, Andrade Filho afirma não se lembrar bem do que houve. “A gente estava saindo da festa, a gente ia para a minha casa jogar sinuca. E do nada aconteceu um acidente horrível”, disse o motorista. “Não me lembro mais de nada.”
O acidente envolvendo a Porsche em alta velocidade, além da morte de Viana, resultou na internação do estudante Marcus Vinicius Rocha, de 22 anos, que chegou a passar por procedimento cirúrgico para retirar o baço. Ele estava dentro do carro com Andrade Filho no momento do acidente.
Enquanto os policiais militares conversam com o motorista para entender melhor as circunstâncias da batida, a mãe do empresário insiste em levá-lo para o hospital. “Pelo amor de Deus, deixa eu levar ele (sic) para fazer tomografia, moça”, disse. “Se ele tiver batido a cabeça, cada minuto conta.”
Após insistência, os policiais liberam Andrade Filho. “Pode ir”, disse uma das agentes. A mãe, então, disse que iria levá-lo para o Hospital São Luiz. Mas, no registro da ocorrência, policiais que atenderam o caso afirmaram que, quando foram até lá procurá-los, não encontraram nenhum dos dois.
O acidente foi registrado na madrugada do domingo de Páscoa, mas Andrade Filho se apresentou no 30º Distrito Policial (Tatuapé), que investiga o caso, quase 40 horas após a ocorrência, em 1° de abril – mesmo dia em que Viana foi enterrado em Guarulhos, na Grande São Paulo.
Na ocasião, a defesa de Andrade Filho negou que o cliente tenha fugido do local do acidente e afirmou que ele apenas se “resguardou de linchamento”.
O empresário tinha acabado de sair de uma festa “open bar” (com bebida liberada) quando se envolveu no acidente. O Porsche 911 Carrera GTS conduzido por Andrade Filho estava a 156 km/h pouco antes do acidente que matou Viana, segundo laudo da Polícia Técnico-Científica. A velocidade representa mais do que o triplo do que os 50 km/h permitidos para a Avenida Salim Farah Maluf, via onde o acidente aconteceu.