Católicos e ortodoxos podem reunificar a data da Páscoa e torná-la ‘fixa’ em 2025

29/mar 07:04
Por Cláudio Vieira / Estadão

Entra ano, sai ano e fica a pergunta: quando caem os feriados móveis de carnaval, Páscoa e Corpus Christi? A resposta poderá mudar em 2025 com a fixação de uma data para a Páscoa, exatamente 1.700 anos após a criação da celebração da ressurreição de Jesus Cristo. Isso porque católicos e ortodoxos avaliam voltar a reunificar a data comemorativa.

“Tenhamos a coragem de acabar com esta divisão, que às vezes nos faz rir… ‘O seu Cristo ressuscita quando? E o seu Cristo, quando ressuscita?’ Não. O sinal é um só Cristo para todos nós”, disse o papa Francisco, em novembro de 2022, após receber no Vaticano o patriarca Mar Awa III, da Igreja Assíria do Oriente, a quem pediu “uma data comum para os cristãos celebrarem juntos a Páscoa”.

O líder dos cristãos ortodoxos orientais, patriarca Bartolomeu de Constantinopla, também se declarou favorável a fixar a data comum a partir de 2025, intenção compartilhada, ainda, pelo arcebispo ortodoxo Job Getcha de Telmessos. A mais longa defesa da mudança ocorreu em 2022, quando Bartolomeu I visitou Francisco.

“O Concílio Ecumênico de Niceia foi muito importante para fixar o conteúdo de nossa fé cristã, mas também para fixar a data da Páscoa, como e quando ela deve ser celebrada. Infelizmente, não a celebramos juntos há muitos anos, há muitos séculos. Portanto, no contexto deste aniversário, o objetivo de nossos esforços compartilhados com o papa (católico) é encontrar uma solução para isto”, disse o ortodoxo.

“Talvez agora não seja o momento de dar detalhes, mas quero enfatizar que tanto do lado ortodoxo como do católico há esta boa intenção de finalmente fixar uma data comum para a celebração da Ressurreição de Cristo. Esperemos alcançar um bom resultado desta vez.”

Bartolomeu se aproximou ainda mais de Francisco com o início da guerra entre Ucrânia e Rússia – até por dissociação, vale lembrar, os ucranianos passaram a festejar datas do ciclo natalino seguindo Roma e não mais Moscou. Tanto a Igreja Anglicana como a Luterana manifestaram o seu interesse em resolver a questão e realizar uma celebração comum. O último obstáculo agora é o Patriarcado de Moscou, que pode, apesar de sua clara importância no Oriente, acabar isolado na discussão.

RARA OPORTUNIDADE

Curiosamente, 2025 será um raro momento em que os calendários católico e ortodoxo terão a Páscoa na mesma data, 20 de abril.

Indagado sobre o assunto mais de uma vez, Francisco não negou – e até destacou sempre querer – um encontro ecumênico para celebrar Niceia e retomar uma data unificada para a celebração.

Embora não haja certezas a respeito, fala-se em Jerusalém ou Niceia como possíveis sedes desse encontro. Se concretizado, ele seria um primeiro passo, na visão do próprio Francisco, para um objetivo bem maior de seu pontificado, julgado impossível por muitos: uma reunificação gradual entre católicos e ortodoxos.

COMO FICARIA. Cogita-se que a data a ser fixada para a Páscoa possa ser o segundo ou o terceiro domingo de abril, conforme adiantaram alguns canais católicos nos últimos meses.

A fixação de uma data para a Páscoa implicaria outras mudanças no calendário, se forem mantidas as atuais regras para o carnaval e o Corpus Christi. O carnaval passaria também a ser “fixo”, já que é sempre comemorado 47 dias antes da Páscoa. O mesmo ocorreria com o Corpus Christi (festa católica inserida pelo papa Urbano IV em 1264), que é celebrado 60 dias depois da Páscoa.

O efeito prático da mudança seria enorme. Basta notar que ficaria bem mais fácil estabelecer calendários escolares e definir férias ou outras atividades “civis”. Apesar da diversidade religiosa atual, grande parte das datas comemorativas no Ocidente tem por base o calendário cristão, cujas denominações, incluindo as evangélicas, ainda congregam bilhões de pessoas.

A discussão sobre a data da Páscoa começou quase ao mesmo tempo que a chamada era cristã. Até o fim do século 2º, muitos seguidores de Jesus de Nazaré, um judeu praticante, celebravam a data conforme o calendário hebraico, que tem como marco a libertação dos judeus no Egito, sob o comando de Moisés – que teria ocorrido há cerca de 3,5 mil anos.

Pelo calendário hebraico, a celebração ocorre na primeira lua cheia depois do equinócio (início) da primavera no Hemisfério Norte. Os eventos do julgamento e morte de Jesus coincidem com esse período, conforme a maior parte dos historiadores do início do cristianismo.

CONCÍLIO DE NICEIA

Foi só no Concílio de Niceia, em 325, que os sucessores dos apóstolos (os bispos) definiram que a Páscoa cristã seria festejada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorresse depois do equinócio da primavera (ou na mesma data, caso lua cheia e equinócio ocorram no mesmo dia). Por esse critério, a data cai no intervalo entre 22 de março e 25 de abril.

Vale ressaltar, por fim, que se os feriados hoje têm origem “religiosa”, sua determinação agora cabe totalmente a autoridades civis. Os feriados nacionais são definidos pelas Lei 662 de 1949 (com as alterações dadas pela Lei 10.607 de 2002 e pela Lei 6.802 de 1980). É o caso da Sexta-Feira Santa.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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