Cem anos de solidão

13/03/2017 12:00

Existem obras literárias que, depois de publicadas, conquistam o seu espaço na história dos homens. Personagens saltam da ficção e entram na realidade. Auxiliam no entendimento da complexa natureza humana. São criaturas que servem de espelhos para seus criadores.

 O que aprendo nas páginas dos livros tem me ajudado a aceitar a vida com as contradições que fogem da lógica, quando se idealiza um ponto de equilíbrio para a humanidade. Hoje as minhas desilusões são menores, pois já não espero tanto dos seres humanos. 

A cada dia, certifico-me que a paz mundial é uma aspiração utópica. E, mesmo diante da impossibilidade de mudar o mundo, agimos para melhorar o meio em que vivemos. 

O tempo tem revelado que o nosso universo se amplia pelas amizades sinceras. Dom Quixote não era solitário. Sancho Pança não era apenas um fiel escudeiro, mas alguém que acreditava no sonho de um amigo. Isso é suficiente para alimentar um ideal. Um fio de esperança é como uma brasa debaixo das cinzas, basta um sopro para reacender a fogueira. Mas não basta ter um sonho para ser um Dom Quixote, é preciso acreditar nele. 

‘“As coisas têm vida própria – apregoava o cigano com áspero sotaque – tudo é questão de despertar a sua alma’. José Arcadio Buendia, cuja desatada imaginação ia sempre mais longe que o engenho da natureza, e até mesmo além do milagre e da magia, pensou que era possível se servir daquela invenção inútil para desentranhar o ouro da terra.”

O cigano Melquíades é quem alimentava a imaginação José Arcadio Buendia, personagens do livro “Cem anos de Solidão” de Gabriel Garcia Márquez. Na pacata Macondo, “uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos”, o referido cigano apregoava: “A ciência eliminou as distâncias”, “dentro em pouco o homem poderá ver o que acontece em qualquer lugar da terra, sem sair de casa”. 

Essa profecia de Melquíades foi consumada. O terror das guerras chega às nossas residências por diversos meios de comunicação “em tempo real”. Diante do que acontece no mundo, somos aterrorizados dentro de casa. 

A ficção que há no realismo fantástico nos fascina. Mas, quando, na realidade, as alucinações colocam em risco a vida, o medo se alastra. Ando atemorizado com o senhor Donald Trump. Acho que esse senhor deixou o mundo mais instável. Dita inverdades a seu bel-prazer. 

 A Verdade não está à venda. Por isso tentam relativizá-la para atender às conveniências pessoais. Gostaria que fosse ficção esta realidade que nos cerca, para não ter este receio de outra guerra mundial. O atual presidente dos EUA fomenta o ódio contra o seu povo. Esse ódio pode se refletir em atos terroristas  A Paz nunca será unilateral.

Em maio de 2017, “Cem Anos de Solidão” completará 50 anos. A primeira edição foi publicada na Argentina em 1967. O colombiano Gabo, se estivesse vivo, teria completado 89 anos, no dia 06/03. 

Nesta semana em que se comemorou o dia Internacional da Mulher, também queria homenagear as personagens que ganharam espaços no nosso universo: Sinhá Vitória, Iracema, Capitu, Gabriela, Diadorim, Beatriz, Dulcinéia, Julieta e principalmente a matriarca da obra citada, Úrsula Iguarán. Eis uma das frases que ela falou para o marido: ‘“se você pretende ficar louco, fique sozinho, não tende incutir nas crianças suas ideias’”. Trump precisa ouvi-la.

– E o amor de Maria mudou a história com um sim. Ave cheia de Graças!

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