Chuvas no Rio Grande do Sul servem de alerta para áreas vulneráveis, como Petrópolis

05/jun 08:34
Por Wellington Daniel

A tragédia climática vivida pelo Rio Grande do Sul no último mês acende um alerta para os eventos climáticos extremos e seus impactos em áreas vulneráveis, como Petrópolis. É o que apontam especialistas ouvidos pela reportagem, que dizem ainda que situações do tipo estão se tornando mais intensas e frequentes.

O pesquisador Lincoln Muniz Alves, da Divisão de Impactos, Adaptação e Vulnerabilidades (DIIAV) do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), aponta as medidas necessárias para mitigar os efeitos desses eventos.

“Melhorar a infraestrutura de drenagem urbana para reduzir o risco de inundações. Implementar sistemas de alerta precoce e evacuação para eventos extremos. Realizar mapeamento de áreas de risco e restringir a ocupação dessas áreas. Promover campanhas de conscientização sobre riscos climáticos e ações de prevenção”, afirmou.

O professor Antônio Carlos Oscar, do Departamento de Geografia Física da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), lembra das recentes tragédias em Petrópolis e no Litoral Paulista e aponta para uma estagnação frente ao problema.

“Como eu disse, é urgente a criação e execução de planos de adaptação às mudanças climáticas, investindo em infraestruturas para aumentar a resiliência dos territórios e comunidades. Isso envolve uma política habitacional que retire pessoas de áreas de risco e de proteção ambiental e transfira para lugares seguros para que desse modo possa se investir na renaturalização dos rios e estabilidade das encostas, por exemplo”, afirmou.

Aquecimento global

Os pesquisadores também apontam que existe a probabilidade do evento do Rio Grande do Sul estar relacionado às mudanças climáticas. “Apesar da recorrência de grandes cheias naquela região, essa sem dúvidas foi superior ao histórico, demonstrando uma atmosfera mais energética e com mais umidade, exatamente o que esperamos das mudanças climáticas. Ou seja, eventos extremos com cada vez mais magnitude”, explica o professor da Uerj.

Segundo o pesquisador do Inpe, esse aumento de frequência e intensidade dos eventos extremos de precipitação ocorrem em todo o mundo. Há indícios que os processos estão ocorrendo mais rápido que o previsto.

“A aceleração pode ser atribuída a fatores como o aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa, desmatamento e mudanças no uso do solo, que intensificam os efeitos das mudanças climáticas. Modelos climáticos têm demonstrado que o aquecimento global está aumentando a frequência e a intensidade de eventos climáticos extremos de forma mais rápida do que o inicialmente previsto”, apontou.

“Os modelos climáticos já apontavam que, diante da elevação de 1°C da temperatura média do planeta, efeitos como esse muito provavelmente seriam sentidos. Então, diante do fracasso em conter emissões e seguir os protocolos internacionais de mitigação das mudanças climáticas, já sentimos os efeitos de um clima em mudança”, complementa o professor.

Emergência climática

O governo federal estuda a edição de um decreto de emergência climática permanente em quase 2 mil municípios, dentre eles, Petrópolis. O objetivo seria auxiliar a obtenção de recursos para obras e outras medidas de prevenção. A medida recebe apoio dos especialistas.

“O país enfrenta eventos extremos como enchentes, secas prolongadas e ondas de calor com maior regularidade. Essas condições adversas são exacerbadas pelas mudanças climáticas e pela vulnerabilidade das infraestruturas, cidades e populações brasileiras. Um decreto de emergência climática pode ser uma resposta adequada para coordenar ações de mitigação e adaptação a esses desafios contínuos”, afirmou o pesquisador do Inpe, Lincoln Muniz Alves.

O professor da Uerj, Antônio Carlos Oscar, lembra a diversidade climática do Brasil e afirma que temos situações de crise em todas as regiões e com bastante frequência.

“Basta lembrar das recentes secas na Amazônia e a intensificação da aridez no semiárido do Nordeste Brasileiro, ou ainda os eventos extremos de Santos, Região Serrana do Rio de Janeiro e agora no Rio Grande do Sul (mas que também já foi em Santa Catarina). A grande diversidade do Brasil impõe medidas coordenadas de ação, mas que ao mesmo tempo encare essa diferença e diversidade de impactos, sem dúvida um grande desafio de coordenação”, apontou.

Até a última atualização, 172 mortes tinham sido contabilizadas no Rio Grande do Sul. Mais de 50 pessoas seguem desaparecidas.

Últimas