Cientistas descobrem novo fenômeno parecido com El Niño; como isso afeta ao Brasil?

13/ago 13:18
Por Milena Félix / Estadão

Cientistas descobriram um novo padrão climático emergindo do Oceano Pacífico Sudoeste subtropical – perto da Austrália e Nova Zelândia – e se espalhando por todo o Hemisfério Sul. Chamado de Onda Número 4 do Padrão Circumpolar do Hemisfério Sul, ou SST-W4 , o fenômeno tem sido comparado ao El Niño, por ter uma formação semelhante.

Já haviam sido percebidos padrões de flutuação na temperatura das águas do Pacífico Sudoeste subtropical, mas essa foi a primeira vez em que foi possível simular e compreender o fenômeno.

O estudo foi publicado no Journal of Geophysical Research: Oceans, e utilizou um modelo acoplado de última geração chamado SINTEX-F2, que simulou 300 anos de mudanças climáticas.

Com isso, os pesquisadores consideram que identificaram um novo “interruptor” no clima mundial, que pode ajudar a explicar os últimos acontecimentos climáticos no Hemisfério Sul. Além disso, as novas descobertas podem embasar previsões climáticas mais precisas.

A climatologista Karina Lima explica que a descoberta pode auxiliar o entendimento do clima global.

“Apesar de acontecer em uma área relativamente pequena do oceano, o fenômeno parece ter grande influência no clima do Hemisfério Sul e, consequentemente, do planeta. Logo, entendê-lo vai nos ajudar a compreender melhor o complexo sistema climático terrestre”, diz ela, doutoranda pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Como acontece o fenômeno

Embora a área que desencadeia o SST-W4 seja pequena, o fenômeno provoca reação em cadeia global, afetando todo o Hemisfério Sul. O estudo também evidencia que mudanças no oceano impactam diretamente todo clima global.

O SST-W4 começa com aquecimento da temperatura da superfície do mar, gerando um padrão de onda com quatro centros positivos alternados (W4) na atmosfera, o que cria um círculo completo ao redor do Hemisfério Sul. Depois, essas ondas atmosféricas interagem com a superfície do oceano, trocando calor.

A partir dessas interações, os ventos do oeste transportam o fenômeno, de forma que mudanças na direção do vento criam oscilações de temperatura ao longo do sul global.

Os cientistas ainda não conseguiram prever os impactos que esse novo fenômeno pode causar na temperatura do planeta, afirmando serem necessários novos estudos. Porém, eles preveem mais facilidade para entender o clima do planeta com a nova descoberta.

Relação com o El Niño

O SST-W4 tem sido comparado ao El Niño e ao seu oposto, La Niña, uma vez que também resulta de movimentações entre o oceano, a atmosfera e os ventos oceânicos.

Apesar disso, o novo fenômeno não depende dos demais, e cientistas estimam que ele já existisse, só ainda não havia sido descoberto. Além disso, o SST-W4 tem origem diferente, mais ao Sul que os outros dois fenômenos climáticos.

O El Niño, ou Oscilação Sul do El Niño (Enso) é uma mudança periódica no sistema de ventos no Pacífico Tropical, aumentando a temperatura de todo o planeta. O evento climático acontece, aproximadamente, a cada cinco anos, mas pode estar sendo acelerado e intensificado pelo aquecimento global.

“Este padrão tem algumas características parecidas com o Enso, mas acontece em outra região do oceano e não depende dele. O que se sugere até então é que esse padrão climático já existia e que foi descoberto agora, mas precisamos de mais estudos para entendê-lo melhor”, comenta a climatologista Karina Lima.

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