Com 45 hectares de mata queimados em Petrópolis, riscos de deslizamentos só aumentam
Passado o período de estiagem, as chuvas de verão voltam a ser a principal preocupação dos órgãos de prevenção e resposta a desastres naturais. Em locais com alto índice de queimadas, o risco de deslizamento é quase o dobro do que em outros locais. Neste ano, Petrópolis teve cerca de 45 hectares de mata destruídos em incêndios florestais. Segundo levantamento feito pelo 15º Grupamento Bombeiro Militar, pelo menos 90% das ocorrências têm indícios de ação humana.
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Grande parte destes incêndios aconteceram em áreas urbanas. Soltura de balões, limpeza de pastos e queima de lixo doméstico são alguns dos grandes causadores de incêndios florestais. “Toda área que hoje queima, amanhã está mais suscetível ao escorregamento. Porque aumenta a quantidade de água que infiltra no solo, então fatalmente temos um risco maior de escorregamento no futuro”, disse o comandante do 15º GBM, tenente-coronel Gil Kempers.
Quando ocorre uma queimada, o solo perde a cobertura vegetal, fazendo com que a quantidade de água de chuva seja absorvida mais rapidamente e em maior quantidade. Nas encostas, a água em seu curso natural busca uma via para escoar no solo, mas sem a vegetação ela cria sua própria via de escoamento. “Quando isso acontece, automaticamente começa a destruir as características físicas do solo, ou seja, aumenta a velocidade de absorção da água, aumenta o volume de água absorvido e passa a ter uma possibilidade maior de escorregamento”, explica o comandante.
Vale do Cuiabá, Posse, Itaipava são algumas das localidades com alto índice de ocorrência de incêndios florestais e com trágico histórico de deslizamento de encostas. A topografia de Petrópolis é suscetível a desastres desta natureza, e em ambos os casos a ação humana tem influenciado direta e indiretamente nestas repetidas ocorrências. Além das queimadas, as construções em encostas, beiras de rio e autoconstruções trazem perigo para a própria população.
São acidentes naturais que dificilmente são possíveis de impedir, mas monitorar e criar estratégias de prevenção a desastres é possível, e podem ser observados também pela população. “Situação em que o poste fica torno; uma rua que cada dia cede mais um pouco; um muro que está rachando, são alguns dos indicativos de que o solo está cedendo. Cerca de 90% das ocorrências de deslizamento começam assim”, explica o tenente-coronel.
O reflorestamento seria uma alternativa para minimizar os estragos no solo que foi afetado pelos incêndios florestais. “Principalmente quando é utilizado um tipo de vegetação que segure melhor o solo e ajude na absorção da água”, completa. Mas principalmente, combater os focos de incêndios que podem ser evitados: os de origem humana.
Ações preventivas ajudaram a reduzir o número de focos de incêndios
Nos últimos dois anos, uma força tarefa tem sido realizada para tentar conscientizar a população sobre os riscos dos incêndios em áreas de mata e principalmente reduzir os danos causados por elas. Foram Simpósios de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais e a Operação Abafa, que nestes dois anos fez a notificação preventiva a mais de 200 moradores em regiões com grande incidência de queimadas. A ação foi promovida pelo Ministério Público Federal em conjunto com o 15º GBM, e reuniu representantes de 13 órgãos municipais, estaduais e federais.
“A Operação Abafa ajudou muito a diminuir a estatística de incêndio em Petrópolis. Comparado a Teresópolis e Friburgo tivemos uma estatística muito baixa. Tanto é que no final da temporada estávamos apoiando outros quartéis”, disse o comandante Kempers.
Todas as ocorrências de incêndios florestais que tenham indícios de ação humana são encaminhadas para o Ministério Público ou para a Polícia Civil. Outras, como queima de lixo são encaminhadas para a Fiscalização de Posturas do município, para que o autor seja identificado e multado.
Neste ano, o 15º GBM ainda implantou o Núcleo Avançado de Combate a Incêndios Florestais (Nacif), onde voluntários de seis comunidades foram treinados para um primeiro combate e resposta aos focos de incêndios nas localidades.
“Nos locais onde foram feitos os treinamentos, reduziram bastante as ocorrências. Essas pessoas iam aos locais e trocavam informação com a população sobre as ações que podem causar incêndios”. Além dos bombeiros, equipes de brigadistas, guarda-parques do ICMBio e Ibama, e militares do 32º Batalhão de Infantaria Leve (32º BIL) também atuaram em apoio nas ocorrências neste ano.