Com investimentos de R$ 15 bi no 1º ciclo, Sabesp deixará São Paulo em obras

15/dez 08:01
Por Cristiane Barbieri / Estadão

O primeiro ciclo de investimentos da Sabesp pós-privatização deve deixar parte da região metropolitana de São Paulo em obras, na corrida contra o tempo para a universalização dos serviços de água e esgoto em apenas cinco anos. Dos R$ 60 bilhões já anunciados, R$ 15 bilhões começam a ser exercidos já no próximo ano, com duração até 2028. A expectativa é que sejam anunciados anualmente valores semelhantes, para ciclos com a mesma duração. Na primeira fase, serão R$ 8,5 bilhões destinados ao programa Integra Tietê e outros R$ 6,5 bilhões às demais áreas da concessão. Serão incluídas 8 milhões de pessoas no sistema de tratamento de água e esgoto, ao fim dos primeiros três anos.

“Não é uma corrida de 100 metros, mas uma maratona”, diz Carlos Piani, presidente da Sabesp. “A ideia é dar transparência a toda essa caminhada rumo à universalização, com a população a par de tudo.”

Para se ter uma ideia do volume de recursos envolvido, no ano passado a Sabesp respondeu por 30% de todos os investimentos feitos no País no setor, com um valor de R$ 6 bilhões a investimentos. Agora, colocando mais do que o dobro, será uma das maiores investidoras corporativas no Brasil, com exceção das empresas petrolíferas.

Na frente de obras do Integra Tietê, programa de despoluição do rio coordenado pelo governo estadual, serão ampliadas e modernizadas cinco grandes Estações de Tratamentos de Esgotos (ETEs) e construídas três novas de médio porte (em Caieiras, Perus e Francisco Morato). Simultaneamente, serão feitas obras para interligar casas hoje desconectadas ao sistema de transporte e tratamento de esgotos. Serão 1,5 milhão de moradias conectadas, nas quais vivem 4 milhões de pessoas.

“Vamos conectar essas casas, mas precisamos ao mesmo tempo ampliar a capacidade das estações de tratamento porque algumas delas operam no limite”, afirma Roberval Tavares, diretor de engenharia e inovação da Sabesp. “Haverá obras nas periferias onde a conexão ao sistema é menor, mas também precisarão ser feitas intervenções em grandes vias urbanas, para receber esses novos usuários.”

No fim do período de investimentos, a expectativa é que a capacidade de tratamento de esgotos do sistema cresça quase 80%. Ela irá de 23,5 m³ por segundo para 41,8 m³ por segundo.

O sistema do Integra Tietê tinha no ano de sua criação, em 1992, 70% da população com acesso a água tratada e 24% com coleta de esgoto. Em 2024, os indicadores mostravam 93% com acesso a água e 85% com coleta de esgoto. A previsão de término e universalização é 2029, antes da meta determinada no Marco do Saneamento, de 2033.

“Ainda é muita gente para ser incluída porque, agora, também temos a obrigação de atender a áreas rurais e fazer ligações até então informais”, diz Piani.

Nas demais áreas de concessão, que incluem a Baixada Santista, o litoral e as cidades fora do eixo do Rio Tietê, a ideia é atingir mais 4 milhões de pessoas. Dos R$ 6,5 bilhões destinados a essas regiões, R$ 2 bilhões irão ao fornecimento de água e R$ 4,5 bilhões a sistemas de esgoto.

Nova tecnologia

Além da expansão de capacidade física, os recursos também estão sendo utilizados em modernização tecnológica. Considerada a segunda maior ETE do mundo (atrás apenas da ETE Barueri), a estação do Parque Novo Mundo, em São Paulo, receberá uma tecnologia chamada Nereda, que usa biomassa no tratamento de esgoto. Além de mais eficiente na remoção de matéria orgânica, consome menos energia e produtos químicos, gera menos resíduos e a pegada de carbono numa operação automatizada.

Essa frente sustentável será, evidentemente, usada na captação de recursos mais baratos. “Vamos usar tudo o que estiver disponível”, afirma Piani. “A natureza do saneamento é um investimento sustentável em sua essência e esperamos muito apoio da comunidade investidora.” Num momento posterior, será decidida qual a melhor tecnologia de uso do lodo produzido como, por exemplo, geração de biometano.

Concorrência com a construção

Para Piani, mais do que dificuldade para conseguir financiamento ou alto endividamento, o maior risco na execução do projeto está ligado à cadeia de suprimentos. “Todo o resto está dentro do nosso controle, mas os prestadores de serviço externo, não”, diz ele. “O volume de investimentos em São Paulo está elevado, o que gera concorrência indireta pela mão de obra na construção civil e no fornecimento de insumos.”

Ao se tornar uma compradora firme de insumos e equipamentos, a ideia é dar garantia para que os fornecedores assumam investimentos para atender à demanda. “Seremos indutores de desenvolvimento e criaremos externalidades positivas”, afirma Piani.

Outro risco está ligado a autorizações para as obras. “Preciso fazer adequações à rede na Marginal Tietê, por exemplo, e dependo de autorizações de órgãos coligados”, afirma Tavares. “Essa parceria com o Estado e o município é importante para que as consigamos de maneira rápida.”

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