Com o Aliança pelo Brasil só no papel, Bolsonaro passa a ser assediado por partido

14/08/2020 17:50

Há nove meses sem partido e ainda com dificuldades para tirar do papel o Aliança pelo Brasil, o presidente Jair Bolsonaro passou a ser cortejado por outras siglas com promessas que vão da fidelidade em votações no Congresso, controle de diretórios regionais a dinheiro para bancar sua campanha à reeleição, em 2022. O presidente admitiu o “assédio” de ao menos quatro legendas, mas disse que está conversando para decidir qual proposta aceitará.

O Progressistas, o PTB e o PSL, partido pelo qual o presidente foi eleito em 2018, confirmaram conversas com Bolsonaro. Neste último, a reconciliação depende ainda de um processo de pacificação interna na legenda, que inclui extinguir punições impostas a 19 deputados aliados ao governo, entre eles o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (SP).

“Diante da quase inviabilidade do Aliança, eles renunciariam ao pedido de criação do partido e ficariam no PSL definitivamente. Em troca, faríamos uma revisão antecipada das sanções”, disse o presidente do PSL, Luciano Bivar, ao Estadão/Broadcast, afirmando que ainda não teve uma resposta de Bolsonaro, mas que aguarda a evolução das conversas.

Lançado em novembro do ano passado, após o rompimento de Bolsonaro e Bivar, o Aliança havia conseguido apenas 3% das 490 mil assinaturas necessárias para conseguir o registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até o fim de julho. Segundo representantes da nova sigla, o processo ainda está em andamento e já há 200 mil apoiadores, a maioria ainda pendente do aval da Corte.

Foi o próprio presidente, no entanto, que colocou em dúvida a viabilidade do projeto anteontem, em transmissão ao vivo pela internet. “Não posso investir 100% no Aliança, em que pese o esforço de muita gente pelo Brasil. Eu tenho de olhar outros partidos. Tenho recebido convites. Em três partidos, me convidaram para conversar. Um foi o Roberto Jefferson. Tem mais dois partidos também. Já conversei com os presidentes desses dois outros partidos. Tem uma quarta hipótese aí, o PSL”, afirmou.

Apesar das conversas com Bivar, parlamentares do PSL, como o senador Major Olimpio (SP) e o deputado federal Junior Bozzella (SP), se adiantaram em dizer que Bolsonaro não é bem-vindo.

Vantagem

O motivo do desentendimento, no ano passado, foi o controle da superpotência partidária que o PSL se tornou. Na onda do “bolsonarismo”, a sigla pulou de quatro para 52 deputados eleitos na Câmara, atrás apenas do PT, que elegeu 54.

O sucesso nas urnas se refletiu nos cofres do partido, que passou a ter o segundo maior quinhão do dinheiro público que abastece as legendas e na propaganda eleitoral na TV e no rádio – os critérios para a divisão levam em conta a votação para a Câmara. Estes fatores podem pesar na escolha do presidente, que poderá usar estas vantagens na sua campanha à reeleição.

Correndo por fora, o presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), disse que já teve diversas conversas com Bolsonaro. A legenda passou a integrar oficialmente a base aliada do Congresso recentemente, como parte da estratégia do Palácio do Planalto de se aproximar do Centrão. Além cargos no Executivo, Bolsonaro entregou nesta semana a liderança na Câmara para o deputado Ricardo Barros (PR). “Toda vez fala em tom de brincadeira que está com saudade do partido e eu disse a ele que ninguém se perde no caminho de casa”, disse Nogueira. Bolsonaro foi filiado à sigla entre 2005 e 2016.

Além do apoio no Congresso, Nogueira declarou “fidelidade” ao projeto de reeleição de Bolsonaro. “Ofereci a ele o partido, que é o maior do centro, tempo de televisão e fidelidade total ao projeto de reeleição”, disse o senador, com a ressalva de que o apoio independe de Bolsonaro aceitar o convite.

Também na disputa pela filiação de Bolsonaro, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, prometeu dissolver todos os seus diretórios regionais e compor novas chapas ao lado do presidente “Ele achou excelente e disse ‘Roberto, em você eu confio, você é um homem de palavra’”, disse Jefferson.

Para o vice-presidente do Aliança, Luís Felipe Belmonte, o assédio a Bolsonaro ocorre na esteira da melhora da aprovação do governo, mas garante que a legenda estará pronta até 2022. “Agora todo mundo quer o presidente no partido, mas ele não disse que não vai fazer o Aliança. Falou apenas que está analisando outras situações”, disse Belmonte. 

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