Com política de ‘pés no chão e humildade’, São Paulo vislumbra 2021 de retomada

30/04/2021 16:41
Por Toni Assis, especial para a AE / Estadão

Um São Paulo que presta contas, que trabalha para acertar a sua vida financeira, mas que ainda não crava um título para chamar de seu nesta temporada mesmo com o brilho das oito vitórias seguidas sob o comando de Hernán Crespo. Trilhando a política de “humildade e pés no chão”, o presidente Júlio Casares concedeu nesta sexta-feira uma entrevista coletiva virtual para falar sobre os seus cem dias à frente do clube na função de mandatário.

E o principal desafio nesse período é harmonizar a tarefa de administrar a dívida herdada que supera a casa dos R$ 500 milhões com a missão de formar um time competitivo. “Reconhecemos que devemos e vamos dialogar. Escalonamos as prioridades e seguramos os custos. O torcedor quer conquista, mas aqui é humildade e pé no chão. Quero um time forte que esteja sempre em finais, semifinais. Assim, vai aumentar a chance de ser campeão”, afirmou Casares.

Reverter o quadro financeiro é uma questão que prioriza as ações da cúpula são-paulina para fazer o time crescer em todos os sentidos. “O São Paulo precisa de eficiência e velocidade. Assumimos dívidas que precisam ser quitadas a curto prazo. Algumas na Fifa e isso nos preocupa. Nós tivemos que nos ordenar. Olhando a questão do futebol, mas olhando para fora do campo de forma técnica. Começamos a traçar o realinhamento dessa dívida, conversando com os credores. Foi o que nós fizemos. Tiramos a pressão do curtíssimo prazo, escalonamos algumas prioridades, quitamos outras por questão emergencial. Logo no primeiro trimestre, nós reduzimos os curtos de nossas despesas em 10%.”

A dívida com Daniel Alves também esteve na pauta da entrevista coletiva. A pendência, estimada na casa dos R$ 9 milhões vem sendo negociada da melhor forma. Casares, no entanto, tratou logo de colocar a presença do jogador no clube como fundamental nessa retomada do Morumbi.

“Quando ele veio, tinha que preceder um planejamento para depois vir o nome. E não teve isso. Estamos conversando com o estafe do Daniel Alves. Ele participa e tem uma boa vontade muito grande. Teremos em breve notícias importantes com a participação do Daniel em projetos e produtos. Estamos tentando recuperar um pouquinho desse espaço perdido lá atrás. Ele é um grande nome, um dos jogadores que mais venceu. A nossa área de marketing tem tido esse entrosamento”, afirmou o dirigente.

Casares falou ainda sobre a dívida que o clube tem com outros jogadores ainda fruto da gestão anterior. “Já fizemos reuniões com os outros atletas. Eles sentiram a nossa transparência. Nós temos uma dívida de um acordo que a antiga gestão fez em função da pandemia sobre o direito de imagens dos jogadores. De janeiro pra cá (CLT e imagem) tá tudo em dia. Então nos abrimos para os atletas, que eles sejam nossos sócios em futuras receitas. Então, quando voltar a bilheteria, um porcentual vai para esse bolsão passado de pendência. Quando firmarmos um contrato de patrocínio, um porcentual X vai para ser liquidado essas pendências. Quando vendermos um jogador e assim por diante. E nós pedimos que os atletas, por meio de uma ata, firmasse esse entendimento”, disse.

Eleito em dezembro, o atual presidente falou da situação atípica, de pegar o time em meio a jogos decisivos do Brasileiro e do trabalho feito para colocar em prática sua filosofia no clube. “Hoje temos o futebol de Cotia integrado à Barra Funda e o Morumbi como sede. Chegamos com o campeonato em andamento e o time estava competitivo. Ali não era o momento de mudar o curso daquele time que estava competindo com chances reais. O futebol é um termômetro importante para a administração porque ele é dinâmico. Mas nós entendíamos que implementar mudanças que fizemos hoje. Só esperamos a oportunidade. Esperamos terminar o Campeonato Brasileiro.”

A boa fase que norteia o Morumbi em função do bom trabalho de Hernán Crespo não é surpresa para o dirigente são-paulino, que exaltou a o modus operandi de sua diretoria na escolha do substituto de Fernando Diniz. A escolha foi fruto de um modelo de jogo e capitaneada pelo coordenador Muricy Ramalho, o diretor Carlos Belmonte e o gerente executivo de futebol Rui Costa. E nesse período, o dirigente tem somente elogios à forma de trabalho do ex-centroavante argentino no comando técnico.

“Ele tem simplicidade e abre caminho para diálogos, mostra o grande exemplo do trabalho. Consegue trazer todo mundo para dentro de uma proposta. Respeita a instituição, respeita os brasileiros, a mídia. O Crespo trabalha em grupo, em conjunto e tem um perfil diferente. Há um comprometimento. Ganhar ou perder, é do jogo. Sempre digo que é um trabalho de humildade e pés no chão. O importante é compor a cada dia um tijolinho de um São Paulo em construção”, comentou.

EXEMPLO DE CRESPO – Além do bom desempenho à beira do campo, Casares destaca o legado que o novo treinador começa a deixar: o de integração. “Ele trouxe o pessoal dele (comissão técnica) mas somou com o nosso. E essa integração também se amplia para a base. No jogo contra o Ituano, nós tínhamos 17 jogadores da base. E ele disse isso no vestiário. Ele não é aquele técnico que pede jogador feito. Ele é um profissional que está trabalhando com a nossa mão de obra que é muito boa.”

Por fim, Casares falou dos reforços e da importância de ter um time encorpado. “Temos que ter jogadores experientes, mas você tem que ter uma mistura com a base. Temos o Miranda, o Daniel Alves, o Eder, a força e a energia da base. E outros jogadores como o Benítez que não tem uma idade tão avançada. E essa mistura é importante para dar equilíbrio ao elenco. Isso faz o nosso time competitivo. Hoje temos uma força muito jovem, uma força mediana e uma força com atletas experientes.”

Para um time que sofre com a falta de títulos, o último foi a Copa Sul-Americana em 2012, o São Paulo começa a temporada 2021 de forma animadora. Lidera o seu grupo na Libertadores com 100% de aproveitamento em duas rodadas e já está classificado para as quartas de final do Paulista. No entanto, para Casares, a filosofia de pés no chão segue como diretriz. “O planejamento e a seriedade é a nossa marca”, falou o dirigente.

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