Com pouco apoio, coleta seletiva em Petrópolis enfrenta desafios
Será que o dever de casa está sendo feito corretamente? No país que é quarto maior produtor de lixo no mundo, poder público e sociedade civil precisam unir forças para minimizar o impacto que a produção e o descarte de resíduos causam no meio ambiente. Ainda que haja esforços, Petrópolis está longe de ser modelo da meta proposta pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, do Ministério do Meio Ambiente.
O programa de coleta “Porta a porta” da prefeitura faz o recolhimento dos materiais recicláveis em rotas determinadas, ou quando solicitados para coleta eventual no Centro, Corrêas e Araras. De acordo com a prefeitura, 60 toneladas de materiais como plástico, papel, metal e vidro são recolhidos por mês no programa. Além disso, Petrópolis conta com uma parceria com a Enel, que mantém três Ecopontos na cidade.
O projeto Ecoenel foi implantado na cidade em 2014. Ao se cadastrar no programa, o cliente da concessionária pode trocar resíduos recicláveis por descontos na conta de energia. Segundo a concessionária, em cinco anos, cerca de 287 toneladas de resíduos foram recolhidos. Hoje, Petrópolis tem apenas 156 clientes cadastrados no programa. Nem mesmo o incentivo do desconto na conta de energia tem sido suficiente para mobilizar a população.
As cooperativas estão cada vez mais raras. Quem trabalha no ramo de compra e venda de resíduos recicláveis se mantém porque, ao longo dos anos, conseguiu fidelizar empresas e pequenos cooperados que vivem da venda dos materiais. Os irmãos Fagner e Douglas Stigert trabalham há 18 anos no ramo. Hoje, eles têm uma das maiores empresas de reciclagem no município.
A empresa recebe materiais de quase todos os supermercados do município, lojas de departamento, indústrias e hospitais. Além dela, a cidade conta com cooperativas como a que funciona dentro do Centro de Triagem de Cascatinha, administrado pela Comdep, a Oficina de Jesus (fundada pelo Pe. Quinha), uma cooperativa no Vale do Cuiabá e catadores independentes. Fagner explica que tem se tornado cada vez mais difícil manter uma cooperativa no município, pois os custos são altos e a venda dos materiais nem sempre gera o lucro esperado.
“Na empresa a gente tenta minimizar os custos para conseguir aumentar a margem de lucro. Os caminhões, quando saem daqui para outras cidades para fazer a venda dos materiais, já passam em outra cooperativa e recolhem material para cá. O custo com combustível, equipamento e pessoal não é baixo”, disse.
Sem incentivo e promoção para a coleta seletiva em residências, as cooperativas que contavam com esses materiais vão minguando até não resistirem mais. Com base na economia social solidária, as cooperativas geram trabalho, renda e, consequentemente, melhores condições de vida para população de baixa renda. Além de contribuir para a preservação do meio ambiente.
Em 2004, quando foi implantado o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, era estimado que havia no município entre 50 e a 80 catadores individuais cadastrados. Outro dado que não é mais possível mensurar pela prefeitura. Quem vive deste trabalho, vive para subsistência e conta com a disposição de pequenos produtores destes resíduos, como comércio e pequenos estabelecimentos.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, além de implantar a coleta seletiva, prevê que os municípios incentivem a prática. E inviabilizem, inclusive, a logística reversa, para que o setor empresarial cumpra os procedimentos e meios necessários para dar destinação ambientalmente adequada a resíduos sólidos, incentivando seu reaproveitamento nos ciclos produtivos.
Os principais materiais recicláveis recolhidos pelo programa do município são plástico, papel, metal e vidro. Segundo a prefeitura, esse material é levado para o Centro de Reciclagem de Cascatinha, passa por triagem e é separado pela cooperativa Deus na Guerra. No Porta a porta, o recolhimento é feito no Bingen (segunda-feira), Mosela (terça-feira), Valparaíso (quarta-feira), Morin (quinta-feira), Alto da Serra (sexta-feira) e Bairro Castrioto (sábado); e sob solicitação, no Centro, Corrêas e Araras. Já nos pontos fixos, a população pode levar os resíduos até os Ecopontos da Mosela, Parque Municipal de Itaipava e Quitandinha.
Nestes, os materiais podem ser trocados por descontos na conta de energia. Qualquer cliente, pessoa física ou jurídica, pode se cadastrar no programa. Para isso, basta apresentar a conta de energia em qualquer ponto de coleta e receber o cartão do Ecoenel. Após o cadastro, o cliente poderá levar todos os resíduos pré-separados por tipo até o ponto de coleta de sua preferência. Os resíduos são pesados e o valor em bônus é creditado automaticamente na conta de energia. Cada resíduo tem seu valor em quilo, unidade ou litro. Caso o valor da bonificação seja superior ao total da conta, o excedente é creditado automaticamente na fatura seguinte.