Com Vale, Ibovespa cai 0,58%, a 123,7 mil pontos, menor nível desde 14 de novembro

28/maio 18:04
Por Luís Eduardo Leal / Estadão

O Ibovespa não conseguiu nesta terça-feira sustentar recuperação pelo segundo dia após ter interrompido na segunda-feira, em leve alta de 0,15%, sequência de seis perdas que o havia colocado aos 124 mil pontos, já então em torno dos menores níveis do ano. Nesta terça-feira, na mínima da sessão, o índice da B3 resvalou para os 123.537,03 pontos (-0,77%), e fechou ainda em baixa de 0,58%, aos 123.779,54, a pior marca de fechamento de 2024, que o coloca, agora, pouco acima do nível de encerramento de 14 de novembro passado, então aos 123.165,76 pontos. Em 2024, o Ibovespa recua 7,75%, com perda de 1,70% em maio, faltando ainda duas sessões para o fim do mês.

Nesta terça-feira, o giro convergiu para a média recente, a R$ 21,4 bilhões, após o feriado da segunda-feira nos Estados Unidos, que havia enfraquecido o volume diário. Na semana, no agregado de duas sessões, o Ibovespa recua 0,42%.

Após sustentar leves ganhos até o começo da tarde, tentando engatar o segundo dia de estabilização, o Ibovespa se firmou em baixa, aquém dos 124 mil pontos, nas mínimas da sessão.

O dia do Ibovespa, grosso modo, foi um cabo de guerra entre Petrobras e Vale, com a piora da mineradora ao longo da tarde definindo o rumo do fechamento. Petrobras, que chegou a mostrar ganhos na casa de 2% a 3% no começo da tarde, acomodou-se também em nível um pouco mais baixo, com a ON em alta de 1,76% e a PN, de 2,13%, no fechamento.

O desempenho da estatal foi favorecido pelo avanço dos preços do petróleo e por entrevista inicial, recebida sem ruídos pelo mercado, da nova presidente da empresa, Magda Chambriard.

Por sua vez, a ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON, acentuou perdas na etapa vespertina, em dia de queda na casa de 2% para o minério de ferro em Dalian, China. Ao fim, a ação da mineradora mostrava perda de 2,16% na sessão, negativa também para a maioria dos grandes bancos, que mais cedo esboçavam alta em bloco – no fechamento, apenas Santander (Unit +1,12%) conseguiu sustentar o sinal, entre as maiores instituições.

Na ponta perdedora do Ibovespa na sessão, destaque para Magazine Luiza (-6,54%), Azul (-4,84%), CSN Mineração (-3,93%), CVC (-3,32%) e Natura (-2,95%). No lado oposto, MRV (+2,20%), à frente das duas ações de Petrobras e de São Martinho (+1,66%) e Fleury (+1,33%). O dia foi negativo tanto para as ações com exposição ao ciclo doméstico, como as de consumo (ICON -1,05%), quanto para as correlacionadas à demanda externa, entre as quais as de materiais básicos (IMAT -0,92%).

“Tivemos de manhã leitura favorável sobre o IPCA-15 de maio, o que contribuía para a leve alta do Ibovespa, mas veio depois o leilão de T-notes de 2 anos nos Estados Unidos, com demanda fraca e yield que saiu alto, resultando em avanço de uns sete pontos-base nos rendimentos dos Treasuries de 10 anos. Há muita incerteza ainda com relação aos juros americanos, em que nível estarão no fim do ano, o que afeta todas as classes de ativos”, observa Naio Ino, gestor de renda variável da Western Asset, destacando também a importância da leitura do PCE, métrica de inflação acompanhada de perto pelo Federal Reserve, que será conhecida na sexta-feira.

Ele menciona que a Bolsa brasileira ainda sofre com o retraimento do fluxo estrangeiro, hesitante após esboçar recuperação na abertura do mês. “Tem havido um ajuste gradual do Ibovespa, sem grande volatilidade. Nesta terça, Petrobras respondeu bem à alta do petróleo e também à primeira entrevista coletiva de Magda Chambriard, sem grandes surpresas, o que retira parte do temor que se tinha com relação ao início deste novo mandato. Vale, por outro lado, refletiu o ajuste do minério, com o mercado realizando um pouco após a tonelada chegar a US$ 120 na China, corrigindo assim um pouco daquele entusiasmo relacionado a medidas de estímulo ao setor imobiliário no país asiático.”

“Dia bem negativo para Vale com a queda de 2% no minério na China, nessa reavaliação, pelo mercado, dos efeitos do programa de estímulos ao setor imobiliário”, observa também Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, destacando a forte queda em CSN Mineração. “E o leilão de hoje do Tesouro americano, de títulos de dois anos, deixou claro que o mercado quer mais taxa”, acrescenta Moliterno, mencionando que os juros americanos – e para onde vão – permanecem como fator central de interesse dos investidores em todo o mundo.

“O dia foi em geral bem ruim, à exceção praticamente de Petrobras, que operou com bastante tração. Mas o fluxo vendedor se impôs na sessão, à tarde, e Vale pesou muito, com o ajuste do minério na China”, resume Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Fatores internos também tiveram algum peso no ajuste observado no Ibovespa nesta terça-feira, aponta Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital. “Apesar do IPCA-15 ligeiramente melhor que o esperado, e apresentando nova desaceleração nos serviços subjacentes, o que animou os mercados na abertura, o resultado do governo foi pior do que se esperava, apresentando novo crescimento da dívida pública – o que acaba colocando em ‘xeque’ o trabalho para tentar aliviar as expectativas de inflação”, diz Fernandes.

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