Comércio contabiliza prejuízos provocados pela chuva, e algumas lojas podem nem reabrir

16/03/2022 15:09

A volta da normalidade talvez seja um cenário distante para uma cidade que, ainda enfrentando as consequências de uma pandemia que já se arrasta por dois anos, sofreu a maior tragédia socioambiental de sua história. Na economia, o prejuízo pode se aproximar dos R$ 665 milhões, segundo o levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro – Firjan. Ou seja, 2% do Produto Interno Bruto – PIB do município perdidos no dia do temporal devastador e nas semanas que se seguiram. No comércio, lojas tradicionais que fazem parte da história da cidade ainda não abriram as portas. Outras, aos poucos estão reabrindo, mas contabilizando prejuízos à duras penas. 

Para o Luiz Felipe Caetano não foi fácil. O comerciante e vice-presidente da Câmara Dirigente Lojista – CDL de Petrópolis, tem seis óticas ao longo da Rua do Imperador. Todas ficaram submersas. “Chegou a ter um metro e meio de água na loja”, lembra o comerciante, que mostrou na parede o local onde a água alcançou. “Perdemos muitos móveis e mercadorias. Os sofás, flutuando na ondulação da correnteza, causaram buracos no teto de gesso.  O mobiliário da loja está danificado. Não perdemos alguns equipamentos caros, porque na hora que a água começou a subir conseguimos tirá-los e levá-los para o outro pavimento. Tinha máquina de R$ 250 mil”, conta.

Luiz Felipe Caetano mostra onde a água chegou dentro da loja. (Foto: Vinícius Ferreira)

No caso do vice-presidente do CDL Petrópolis, a alternativa para enfrentar os prejuízos era o acionamento do seguro, mas na hora de buscar a compensação financeira contratada, a surpresa: “Fizeram a perícia. Tinha a expectativa do ressarcimento dos prejuízos em torno de R$ 1,8 milhões. Mas, depois da avaliação informaram que o seguro não cobria perdas causadas por enchentes. É um absurdo. A gente paga o seguro pensando em nunca usar e, quando precisa, não tem”, desabafa.

Mesmo com o prejuízo, o Luiz Felipe reabriu as seis lojas logo depois do Carnaval. Mas, pela Rua do Imperador, principal ponto comercial da cidade e um dos locais mais castigados pelo alagamento, ainda há lojas de portas fechadas. Na rede de varejo Casas Bahia, que fica próxima à rua Barão de Teffé, ainda não reabriu ao público. A loja foi bastante atingida pelo temporal, com eletrodomésticos sendo arrastados pela correnteza. Um deles foi parar na loja de comércio de bolsas em que a Luana Machado trabalha. “Uma geladeira entrou na loja”, revela a vendedora, que conta ainda que a loja, que hoje passa por reforma, contabilizou prejuízos também. 

“Os móveis foram destruídos e agora estão sendo desmontados. tivemos danos na rede elétrica, computadores destruídos. Além da mercadoria que foi levada pela enchente ou mofou com a água da chuva e foi inutilizada. Aqui entrou um metro e meio de água, apenas o que estava acima desse nível no mostruário pôde ser salvo”, informa Luana, que diz que a expectativa é de que a loja reabra na próxima semana. “Foram dias parados, sem as vendas. Felizmente, o negócio e os empregos foram mantidos. Muitos estabelecimentos não tiveram a mesma sorte”.

O vice-presidente do CDL Petrópolis diz que conversou com donos de estabelecimentos que relataram que podem não abrir as portas novamente. “Na farmácia que tem do outro lado da rua, conversei com o dono e ele disse que não deve reabrir, que não dá para cobrir as perdas. Outra farmácia famosa na cidade, a Farmácia Brasil, está em reforma e deve reabrir. Mas são muitos os lojistas que não conseguirão se recuperar desse prejuízo. Muitos já vinham enfrentando grande dificuldade com a pandemia e vem esse desastre. Para muitos a esperança são as linhas de crédito que foram prometidas pelo Estado”, avalia Luiz Felipe.

Renegociar aluguéis e prazo com fornecedores tem sido a saída

Segundo o vice-presidente do CDL Petrópolis, alguns dos proprietários dos imóveis que abrigam as lojas na rua do Imperador têm sido compreensíveis com o cenário de calamidade em que a cidade está e tem parcelado ou estendido o prazo para pagamento dos aluguéis. “Também estamos encontrando alguns fornecedores que entendem o momento da cidade e estão dando prazos maiores para pagamentos também”, ressalta.

Uma das imagens que simbolizam os prejuízos que tiveram os comerciantes foi da Livraria Nobel, na Rua 16 de Março, empilhando livros destruídos na frente da loja, que perdeu boa parte do estoque com a inundação. 

A estimativa do levantamento da Firjan é de que 65% das empresas localizadas no município foram afetadas pelo temporal. Cerca de 76% das empresas foram afetadas por alagamento e duas a cada 10 registraram danos na estrutura física. O dado mais triste é de que 11% das empresas relataram perda ou desaparecimento de funcionários.

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