Como o Brasil virou protagonista com as mulheres na Olimpíada de Paris-2024

26/jul 06:00
Por Marcos Antomil e Ricardo Magatti / Estadão

Ainda que a Olimpíada de Paris tenha começado sem a paridade de gênero, algo prometido e propagandeado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), e com homens como maioria nas competições, a exemplo de todas as edições anteriores dos Jogos, na delegação brasileira, as mulheres predominam.

Pela primeira vez, o número de atletas mulheres do Time Brasil é superior ao dos homens em uma Olimpíada. Elas são 55% do total de 276 esportistas, de 39 modalidades diferentes, que estão competindo na capital francesa, isto é, são 153 mulheres e 121 homens.

São mais brasileiras em Paris pelo protagonismo alcançado e em decorrência do insucesso dos homens em modalidade coletivas, como o handebol e o futebol, modalidades que só terão em quadra os times femininos do Brasil na Olimpíada francesa.

A projeção do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que estabeleceu a meta de conseguir o recorde de medalhas nestes Jogos, é de que as mulheres sejam protagonistas na capital francesa. As principais estrelas com chance de brilhar, repetindo o que fizeram em Tóquio, são a jovem skatista Rayssa Leal, a ginasta Rebeca Andrade, a nadadora Ana Marcela Cunha e a boxeadora Bia Ferreira. Outras candidatas ao ouro são Ana Patrícia e Duda, dupla do vôlei de praia.

A experiente judoca Mayra Aguiar, a dupla da vela Martine Grael e Kahena Kunze, que são as atuais bicampeãs olímpicas, a skatista Raicca Ventura, a surfista Tatiana Weston-Webb e a canoísta Ana Sátila são outras atletas que surgem como candidatas a medalha.

Mariana Mello, gerente de planejamento e desempenho esportivo do COB e subchefe da delegação em Paris diz que o COB enxergou em 2016 a oportunidade de investimento nas mulheres e começou a desenhou uma estratégia de crescimento de capacitação feminina e, por consequência, dos resultados. “Agora estamos começando a colher esses frutos”, afirma a dirigente ao Estadão.

“Acredito que isso é uma conquista nossa, das mulheres, principalmente daquelas que vieram antes de nós e contribuíram diretamente para esse crescimento”, acrescenta Mariana. Ela e Joyce Ardies, gerente de operações internacionais, fazem o trabalho de bastidor pelo sucesso dos atletas brasileiros na França.

Em 2021, o COB implementou a área Mulher no Esporte e criou uma comissão específica para o tema com o objetivo de elaborar políticas, programas e projetos que geram mais oportunidades para o aprimoramento das atletas, treinadoras e gestoras no esporte olímpico brasileiro. “É uma área que, além de atuar no trabalho do COB, também dá apoio no desenvolvimento das Confederações em ações voltadas para o segmento feminino”, explica Mariana.

No passado, nasceu o Programa de Desenvolvimento do Esporte Feminino (PDEF), que visa incentivar as confederações a realizarem um planejamento esportivo específico para mulheres no esporte, com o entendimento de que, para que o Brasil avance com as seleções femininas, são necessárias “mudanças sistêmicas”, segundo Mariana, que reconhece haver poucas mulheres em cargos de liderança e atuando como treinadoras.

Para que esse cenário mude, o COB apostou no Programa Mentoria Individualizada Reflexão e Ação (MIRA). A ideia é que, nas próximas edições, o Brasil possa contribuir para a elevação do número global de treinadoras. Nos Jogos de Tóquio, em 2021, foi de 13%.

No Pan de Santiago, o Brasil conquistou mais medalhas com as mulheres do que com os homens. Foi a primeira vez na história que o desempenho feminino superou o masculino em um evento multiesportivo de grande porte. A avaliação dos dirigentes do COB é de que esse cenário vai se repetir em Paris.

“A chance é real de termos mais medalhistas mulheres do que homens pela primeira vez em Jogos Olímpicos”, acredita Mariana. Sua avaliação se baseia no superioridade das mulheres em relação aos homens e nos resultados recentes conquistados pelas atletas.

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