Comunidade do breaking defende australiana e lamenta ausência nos Jogos de Los Angeles-2032

12/ago 14:39
Por Estadão

As apresentações no breaking de Raygun, nome artístico da b-girl australiana Rachael Gunn, nos Jogos de Paris-2024 foram um dos pontos altos da estreia da modalidade em Olimpíadas. Inserido pelo Comitê Olímpico Internacional como uma tentativa de aproximar as gerações mais jovens das competições, o breaking viralizou nas redes sociais – muito por causa da representante da Austrália, que assistiu à sua dança se tornar o meme dos últimos dias do torneio.

Rachael Gunn, pesquisadora da cultura do breaking e professora da Universidade Macquaire, em Sydney, foi eliminada da disputa sem pontuar sequer uma vez. Apesar do desempenho nos Jogos, era quarta no ranking mundial antes de Paris. A comunidade do breaking se uniu para defender a australiana e a modalidade, que não está no programa dos Jogos de Los Angeles-2032.

Martin Gilian, chefe da arbitragem do breaking na Olimpíada, comentou sobre as notas recebidas pela b-girl. Conhecido como MGbility, o juiz explicou que as pontuações da modalidade – que foi avaliada por nove árbitros – são dadas conforme comparações feitas entre o que é apresentado por cada competidor. “Temos cinco critérios no sistema de julgamento comparativo. Só que o nível dela talvez não fosse tão alto quanto o das outras competidoras”, afirmou ao jornal britânico Metro.

Para Martin Gilian, Rachael não recebeu votos justamente porque ficou abaixo das demais b-girls: “Suas concorrentes foram melhores, mas isso não significa que ela foi mal. Ela fez o melhor que pode”. Essa não foi a visão do público, no entanto, que transformou a participação da pesquisadora em uma grande piada.

“Pessoalmente, eu sinto muito”, disse MGbility. Ele garantiu que a comunidade do breaking apoia a professora. “Ela estava apenas tentando trazer algo novo, algo original e que representasse seu país.” Entre os movimentos de Raygunestava um em que ela imitava um canguru, animal símbolo da Austrália. “No breaking, quando você procura por inovações ou originalidade, sempre procura fora da dança. Artes marciais, como os animais se movem, qualquer coisa”, comentou.

Mesmo com o desempenho questionado, Raygun não terminou em último. O posto ficou para Manizha Talash, da equipe de refugiados, que foi eliminada em uma batalha contra a holandesa India Sardjoe nas qualificatórias.

Antes dos Jogos, Gunn já havia participado de Campeonatos Mundiais e da Oceania. “Ela venceu oficialmente a classificatória da Oceania. Se estão perguntando como ela entrou nos Jogos, ela se classificou pela sua região”, explicou o juiz.

Rachael Gunn não pareceu se abalar pelas críticas. “Não tenha medo de ser diferente, vá lá e se represente, você nunca sabe aonde isso vai te levar”, postou em suas redes sociais. Aos 36 anos, ela considerava sua participação nos Jogos Olímpicos como uma oportunidade “que só acontece uma vez na vida”.

Raygun também recebeu apoio de dirigentes do breaking. Secretário-geral da Federação Mundial de DanceSport, Sergey Nifontov, disse que entrou em contato com a b-girl e com dirigentes da equipe olímpica australiana. “Oferecemos o nosso apoio. Estamos cientes do que aconteceu, principalmente nas redes sociais, e definitivamente devemos colocar a segurança da atleta, neste caso, a segurança mental em primeiro lugar”, afirmou Nifontov.

O breaking não está no programa da Olimpíada de Los Angeles-2028. “Acreditamos que isso não tem nada a ver com nossas chances para voltar em Brisbane-2032”, disse Nifontov ao ser questionado sobre as críticas a Raygun e o retorno da modalidade aos Jogos Olímpicos.

Campeã olímpica em Paris-2024, a japonesa Ami Yuasa, a b-girl Ami, afirmou que gostaria que os organizadores de Los Angeles-2028 tivessem esperado para sentir a energia entre os atletas e a multidão na Place de la Concorde. “Estou muito triste que isso não vai acontecer em Los Angeles, porque o breaking nasceu nos EUA”, disse ela. “O breaking não é apenas um esporte, é também uma maneira de expressão.”

O presidente da Federação Mundial de DanceSport, Shawn Tay, defendeu a evolução do esporte até a participação em uma Olimpíada após os críticos questionarem a comercialização do esporte. “Desde o início fomos avisados de que alguns dos principais atletas poderiam não participar do Jogos”, disse Tay. “Mas conseguimos trazer todos eles, que lutaram pela glória de seus países.”

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