Confiar em anjos
Será mesmo que os anjos funcionam melhor do que talismãs? Se somos preservados de algum desastre, a quem devemos isso? E se alguém é atingido por uma catástrofe, como devemos entender isso? Como pode acontecer que o destino desfere um duro golpe na vida de pessoas boas? Que uma criança inocente seja vítima de violência? Falhou o anjo da guarda? Ou não devemos levar tudo isso tão ao pé da letra?
Às vezes, acontece algo que não podemos explicar. Algo que também não combina com aquilo que cremos a respeito de um Deus misericordiosos e onipotente que ordenou a seus anjos que me protegessem e carregassem em suas mãos. Afinal, a morte de um casal num acidente durante suas férias foi mesmo a vontade de Deus? Será que Deus desejava a execução do pastor luterano Dietrich Bonhoeffer pelos nazistas a menos de quatro meses após escrever o hino sobre a proteção pelos bons poderes de Deus? Ou então como explicar a bênção concedida a algumas pessoas e não a outras? Será vontade de Deus? Será que Deus recompensa e pune dessa forma seus filhos na terra?
Quanto mais penso nisso, mais difícil fica reconhecer a vontade de Deus em tudo o que acontece ao ser humano. Acredito que não seja a vontade de Deus que crianças sofram de câncer ou que milhares de pessoas morram sob os escombros de suas casas. Acredito que muito daquilo que as pessoas sofrem não seja desejo de Deus. Penso também que Deus não realiza tudo aquilo que é Sua vontade. Esse pensamento talvez seja um tanto incomum. O Deus onipotente não deveria ter poder sobre tudo?
Ao longo de milênios, procuramos imaginar Deus como Senhor de todos os senhores, como o mais poderoso entre todos os poderosos. Às vezes, também como um grande manipulador de marionetes. Mas Deus não é manipulador. Nem é um mágico que, para proteger seus fiéis, anula a lei da gravidade só para impedir que um avião com problemas mecânicos caia no oceano junto com todos os seus passageiros. Deus não é o manipulador celestial que pune os maus e protege os bons da infelicidade.
O poder de Deus é totalmente diferente. É silencioso. É suave. O poder de Deus não é violento. Deus sofre com quem sofre e alegra-se com quem se alegra. Deus está com os seus. Deus concede força a quem se dirige a Ele. Deus deseja o bem, quer a paz para Sua criação. Por isso, ajuda-nos a suportar os fardos pesados. Mas Deus não nos livra da doença e da morte. Nem da guerra e da violência.
Não posso explicar tudo o que acontece comigo a partir de Deus. Deus, que é forte por meio dos fracos, também sempre me será estranho, misterioso, sem que eu possa explicar Seu ser e Seu agir.
Assim, nada mais me resta senão aprender a praticar a confiança de que Deus compartilha tudo comigo, a felicidade, mas acima de tudo todo o sofrimento, especialmente o sofrimento que não compreendo. Deus não me impõe o sofrimento, mas envia Seus anjos para o meu lado. No momento do perigo ou do desespero, posso vivenciar que o bondoso Deus se dedica a mim por intermédio do Seu anjo. Quando a oração pela cura da doença não leva ao restabelecimento da saúde, quando a guerra não acaba e crianças continuam a morrer de fome, quando as últimas forças são empregadas para ainda manter nossa confiança em Deus – justamente essa é a hora dos anjos. Eles podem nos proporcionar um novo olhar para além da nossa limitação humana, podem nos fazer ver a realidade de Deus e dar-nos renovadas forças.
Martin Lutero nos diz: "Quando eu chegar à glória de Deus certamente receberei Dele toda a revelação sobre os mistérios Dele e resposta a todos os meus questionamentos. Tenho a absoluta certeza de que ainda aquilo que achei coisa absurda e que Deus estava errado será plenamente correto e lógico. O que temos que fazer é não temer ou duvidar e sim crer somente”.
Conheça a Igreja Evangélica de Confissão Luterana em Petrópolis.
Avenida Ipiranga, 346.
Cultos todos os domingos às 09:00h. Tel. 24.2242-1703