Construção Habitacional Sustentável II
Dando continuidade ao artigo publicado no domingo passado, vamos enfocar o cenário habitacional de Petrópolis, considerando-se os aspectos do segmento popular e das características sustentáveis da habitação. Construir uma habitação popular sustentável baseia-se, não apenas nas justificativas ambientais, mas também em justificativas sociais.
Uma proposta de moradia ecologicamente sustentável busca essencialmente a utilização de recursos naturais, atentando para a preservação ambiental, mas também, através desses recursos, proporcionar uma melhoria da qualidade de vida das pessoas, como por exemplo, através de um maior conforto ambiental, térmico e acústico. Outro aspecto, é que a busca por novos materiais e sistema construtivos e o estudo de materiais e técnicas já existentes, visando o seu aperfeiçoamento, justificam a execução do projeto em termos tecnológicos. No artigo anterior foi relatado que na época em que foi realizada a urbanização do Conglomerado da Maré, no Rio de Janeiro, foram estudados mais de 300 processos construtivos para, principalmente, se chegar a um custo compatível com a renda da população a ser atendida.
Petrópolis apresenta um quadro de ocupação habitacional popular crítico, considerando-se, principalmente, dois aspectos: áreas de risco e falta de infra-estrutura conveniente. Aliando-se a isso os aspectos sustentáveis da proposta, vemos que somente através de um planejamento estratégico de longo prazo poderemos minimizar o problema. Esta intenção deve ser colocada em prática imediatamente já que a solução deve ser classificada como emergencial. Analisando-se os aspectos técnicos da tipologia habitacional podemos tecer algumas considerações. O projeto deve buscar soluções sustentáveis em todas as fases de construção, desde o método construtivo, bem como os materiais utilizados. Vamos tecer comentários sobre três deles.
Com relação a alvenaria utilizada, por exemplo, os tijolos de solo-cimento vazados têm aspectos interessantes. Esse material, apesar de conter pequena quantidade de cimento em sua composição, é feito praticamente de solo, um material abundante na natureza. Além disso, é produzido apenas por prensagem, dispensando a queima, sabidamente danosa ao meio ambiente. O que muitas vezes se encontra é preconceito ao utilizar esse material, sendo a construção civil brasileira um tanto tradicional. Entretanto podemos citar sua eficiência ao lembrar de construções como a Grande Muralha da China, feita no ano de 3.000 a.C., além de arcos e domos na Mesopotâmia, Assíria, Egito e Babilônia. As telhas Tetra Pak são bastante interessantes, já que pesquisas revelam a sua alta resistência e durabilidade, sendo, inclusive, resistente ao granizo e indeformável. A sua fabricação utiliza em média 2 a 3 mil embalagens longa vida, dando um destino nobre a um material que levaria em torno de 450 anos para se decompor.
Em sua fabricação é utilizado somente o alumínio e o plástico das embalagens, garantindo que a telha não absorva água e possua baixa condutividade térmica. Vamos reciclar! Certamente uma das partes que mais merece atenção é a utilização da água da chuva. Deve ser construído um conjunto de dispositivos, constituído de reservatórios, encanamento, filtros e calhas para que seja possível fazer a reserva da água da chuva para aproveitamento, especialmente, no vaso sanitário, na irrigação dos jardins e na lavagem de calçadas e demais utilizações externas. Esta prática, sem dúvida, irá reduzir consideravelmente o consumo de água (bem cada vez mais precioso) da casa. Petrópolis onde o índice pluviométrico é altíssimo já deveria estar utilizando esta técnica. Enfim, este é o recado de forma sintética.
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