Contenção foi dada como concluída, mas Rua Uruguai continua interditada

04/10/2017 11:44

Quase um ano depois da tragédia que matou um casal na Rua Uruguai, no Quitandinha, moradores cobram as promessas do poder público de fazer a contenção da encosta, de onde rolaram mais de mil toneladas de pedras em 2016, e liberar novamente os serviços públicos como o transporte e a manutenção viária da região, que está abandonada. 

A rotina da localidade mudou drasticamente depois que uma placa de rocha se deslocou do topo da Pedra do Quitandinha, atingindo em cheio cinco residências, matando Consuelo do Carmo, de 49 anos e Paulo Roberto Souza, de 70. Na ocasião toda a área próxima, num raio de 100 metros foi isolada, e 16 imóveis interditados. Posteriormente, mais nove casas foram interditadas pela Defesa Civil estadual, que entendeu um risco maior de deslizamentos secundários. 

Dias depois da tragédia foi decretada Situação de Emergência, e uma obra emergencial foi iniciada no mesmo mês, em novembro de 2016. Entre as intervenções iniciais constavam a construção de diques e muros para amenizar os impactos das pedras em possíveis rolamentos futuros. 

A primeira fase da obra foi concluída quatro meses depois. Mas desde então nada mais foi feito no local. Inseguros e ao mesmo tempo com necessidade de retornar aos imóveis, os moradores da área interditada cobram agora uma solução. O mecânico aposentado Paulo Siqueira, que morou por 52 anos na rua Uruguai, vai completar em novembro um ano morando de aluguel. Sem outra fonte de renda, e com a casa própria interditada, ele agora destina boa parte de sua aposentadoria à mensalidade do aluguel de um apartamento no BNH do bairro. “É triste, porque eu tinha casa. Levei tempo para conseguir tudo isso. E do nada foi tudo embora. Sei o mais importante é a vida. Mas será que de fato se essas obras estivessem sido concluídas, eu hoje não poderia estar seguro em casa? Na minha casa?” questionou. Segundo ele, desde o término da obra nenhuma satisfação foi dada aos proprietários dos imóveis interditados. “Eles vieram até aqui. Me tiraram de casa, e não falaram mais nada. Não sei se tem uma previsão de liberação. Se é definitivo. E não recebi nenhuma ajuda. Nada. Como todos os outros moradores dessa área, porque a vizinhança é conhecida”, concluiu Paulo. 

Sem condições de bancarum aluguel, o aposentado Amandrio Costa voltou a viver na sua casa interditada. O imóvel foi construído pelo seu pai em 1969, e reformado por ele há dez anos. “Tudo que eu tenho está aqui. Não tenho opção de sair. Vou sair para morar na rua? O que você acha?”, questionou, lamentando. Amandrio morava em Belo Horizonte, mas vendeu sua casa na capital mineira para investir na casa do pai, na Rua Uruguai. Agora, sem o direito de ficar em casa, ele aguarda uma solução. “Será que vão resolver isso? Eu não sei não. Mas no fundo tenho uma esperança”, contou.

Depois de concluídas as obras dos diques no local, os próprios moradores retiraram os tapumes da via, porque segundo eles, a região estava sendo utilizada para prática de crimes. “As pessoas faziam práticas sexuais, largavam carros roubados, consumiam drogas. Tudo isso na nossa rua. Porque estava cheio de mato e tudo fechado com tapumes. Qualquer um entrava”, contou Amandrio.

A Prefeitura de Petrópolis disse que busca recursos para novas obras na Rua Uruguai. A Secretaria de Obras informou que pediu a inclusão da Rua Uruguai no programa de Reabilitação e Recuperação do Ministério da Integração Nacional, solicitando recursos de R$ 33,5 milhões para uma segunda etapa de obras de recuperação. Em agosto, segundo o órgão, uma equipe do Ministério realizou uma vistoria no local, e agora o município aguarda o resultado da aná- lise deste pedido.

Sobre as obras já realizadas, a prefeitura disse que em fevereiro as secretarias de Defesa Civil e de Obras exigiram melhorias na obra emergencial realizada no ano passado na Rua Uruguai. “Em março, a empresa responsável pela execução dos serviços entregou os ajustes apontados: mais dois caminhos para a drenagem do solo, além do rearranjo das pedras e a mudança do ângulo do dique, se adequando ao relatório dos técnicos da prefeitura” diz a nota enviada pelo governo municipal.



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