Cresce o número de famílias em extrema pobreza: 10 mil famílias petropolitanas sem emprego, água, luz e estrutura

15/12/2019 08:00

Na casa do Sebastião Sérgio da Silva, de 49 anos, quando começa a anoitecer é hora de deitar para dormir. Sem energia elétrica e água encanada há quase seis meses, ele, a esposa, Vitória Cristina da Silva Lopes, de 22 anos, e os três filhos, de 4 e 2 anos, e o bebê de 6 meses, fazem as tarefas de casa durante o dia para aproveitar a luz natural. A casa alugada com o benefício do aluguel social quase não tem móveis ou eletrodomésticos. Os que tem, vieram por doações de vizinhos ou pessoas que se solidarizam com a família. 

Sebastião é pedreiro, mas a última vez que teve a carteira assinada foi há dois anos. De lá para cá, trabalha fazendo bicos. Mas nos últimos meses, nem trabalho temporário tem conseguido. A história da família do Sebastião é semelhante à das 10.194 famílias que vivem em situação de extrema pobreza no município.

Segundo dados do Ministério da Cidadania, em setembro deste ano, 24.329 famílias faziam parte do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo, sendo 2.821 vivendo em situação de pobreza e 5.530 famílias em situação de baixa renda. Do total de famílias, quase 10 mil são beneficiárias do programa Bolsa Família, isso é aproximadamente 8,76% da população, e inclui 5 mil famílias, que sem o programa, estariam em condição de extrema pobreza. 

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De acordo com um relatório do Bolsa Família e Cadastro Único, disponível no site do Ministério da Cidadania, com base nos dados da Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (Senarc), o município está abaixo da meta de atendimento do programa. A cobertura é de 71% em relação à estimativa de famílias pobres no município. A estimativa é calculada com base nos dados mais atuais do Censo Demográfico, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda, tem direito ao benefício famílias que tenham renda mensal por pessoa de até R$ 89 ou renda mensal por pessoa até R$ 178, desde que possuam crianças ou adolescentes de 0 a 17 anos. E na maior parte dos casos, é a única fonte de renda fixa das famílias. 

Sebastião e a Vitória estudaram apenas até o 1º ano do ensino fundamental. Durante a reportagem, Vitória contou que não pretende voltar a estudar. “Agora com os filhos, não penso nisso”, disse. No dia da entrevista, ela disse que suspeita de que está esperando o quarto filho do casal. A confirmação ia ser feita na consulta marcada no Centro de Saúde no fim da semana. Além deles, Sebastião tem quatro filhos de um outro casamento. E na tragédia de 2013, quando ocorreu um deslizamento de terra no Quitandinha, Sebastião perdeu dois filhos pequenos e a ex-esposa. A vida não tem sido fácil para quem não tem oportunidades. 

Pelo menos duas vezes por semana, Sebastião fica na Rua Eugênio Barcelos, no Valparaíso, com uma placa pedindo ajuda para os filhos. No dia que nossa equipe o conheceu, Sebastião tinha recebido algumas doações, e a sua preocupação era como as levaria para casa. “O que eu mais quero hoje é um emprego. Sempre trabalhei e ver minha família nessa situação, vivendo de coisas que a gente ganha não é o que eu quero. Quero me mudar de casa, oferecer coisas para os meus filhos”, disse Sebastião. 

A pobreza atinge principalmente a população preta ou parda, são cerca de 54% das pessoas cadastradas no CadÚnico no município. Outras 46% estão divididas entre pessoas brancas, amarelas e indígenas. Os dados do Ministério da Cidadania também mostram que a maior parte dos cadastrados vive na área urbana da cidade, são 23 mil famílias e na área rural 613. 

Quando uma família é cadastrada no CadÚnico, o poder público e a família assumem um compromisso de garantir acesso as suas crianças e adolescentes à saúde e à educação. Segundo os dados do relatório, em Petrópolis, 11 mil crianças e adolescentes com perfil para acompanhamento das condicionalidades de educação precisavam ter a frequência escolar acompanhada no terceiro período de 2019, entre junho e julho. O relatório aponta que o município conseguiu acompanhar 99%, acima da média nacional que é de 91%. 

Já em relação à saúde, 19 mil pessoas tinham o perfil para acompanhamento no primeiro semestre de 2019. O município conseguiu cobrir o acompanhamento de 68%, enquanto a média nacional de acompanhamento na saúde é de 76%. O relatório classifica como baixo o acompanhamento de saúde para estas famílias. Os dados do CadÚnico são utilizados para o mapeamento das vulnerabilidades locais, o planejamento das ações e a seleção de beneficiários dos programas sociais geridos pelo município. 

O município mantém o programa de segurança alimentar Cartão Imperial que disponibiliza mensalmente um crédito de R$ 70 para cerca de 3.700 famílias assistidas pelos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS). O programa é direcionado às famílias em situação de vulnerabilidade social, de insegurança alimentar e/ou nutricional. Para a concessão do benefício, o usuário deve estar devidamente cadastrado no  CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais), que é feito nos (CRAS). Segundo a Prefeitura, o programa é temporário, sendo concedido somente durante o tempo em que os usuários estiverem dentro do perfil social a quem se destina.

Atualmente, a Secretaria vem fazendo o recadastramento das famílias que recebem o benefício. Nesta etapa, o recadastramento está sendo feito junto aos moradores da Posse, Brejal e Taquaril, com a presença da equipe da Secretaria no CEU da Posse, até o dia 20 de dezembro.

A Prefeitura foi consultada sobre a assistência ofertada à família e informou que é atendida pelo CRAS Quitandinha e está cadastrada no benefício Aluguel Social.  Uma visita domiciliar na semana passada constatou que a família estava abastecida com cestas básicas. 

 

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