A Força Ambiental afirmou, em documento enviado à Câmara Municipal, que a Companhia Municipal de Desenvolvimento (Comdep) acumula uma dívida de mais de R$ 1,4 milhão com a empresa, que é responsável pelo aterro sanitário de Três Rios. Uma das notas é de 17 de setembro. Apesar disso, a empresa negou que tenha interrompido o serviço, mas alegou redução de custos operacionais.
No foco da crise do lixo, a Comdep teve quatro trocas de presidentes em apenas um ano, exatamente no período em que os problemas de coleta se intensificaram. Por lá, passaram servidores da companhia e também o vereador eleito, Léo França. Atualmente, quem responde pela companhia é Anderson Fragoso.
Empresa fez ajustes operacionais
Nos últimos dias, as reclamações da deficiência da coleta de lixo se intensificaram e a situação também se agravou. Diante isso, a Comdep disse que estava notificando a Força Ambiental para que o acesso dos veículos da companhia ao aterro fosse normalizado, pois a nova metodologia “fugia aos termos contratuais”. Disse ainda que o pagamento estava “praticamente em dia”, mesmo com uma das notas sendo do dia 17 de setembro.
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No documento encaminhado à Câmara, a Força Ambiental informou que nunca houve interrupção dos serviços ou impedimento de ingresso dos caminhões. Segundo a empresa, a inadimplência da Comdep fez com que fossem necessários ajustes operacionais.
Com isso, ao invés das máquinas funcionarem em todas as viagens, começaram a trabalhar a cada três caminhões. Desta forma, o tempo médio para a descarga subiu de 20 para 55 minutos.
A empresa também aproveitou para reforçar que a crise do lixo já dura mais de um ano na cidade, apesar de se agravar nos últimos dias. Com isso, atribuiu a culpa à empresa responsável pela coleta. Atualmente, a Comdep aluga caminhões e equipamentos da AMI3 para realizar o serviço com mão de obra própria.
Medição está abaixo da estimativa
Outro ponto que chama a atenção no documento da Força Ambiental é a média de resíduos que estão chegando até o aterro. Para demonstrar que, mesmo com a alegada inadimplência, a empresa manteve os serviços, foi apresentada uma média mensal de agosto a novembro de cerca de 7 mil toneladas de resíduos levados para a destinação final.
No último contrato, no entanto, a Prefeitura previa a chegada de 9 mil toneladas de resíduos por mês ao aterro de Três Rios.
Mudanças dos presidentes em meio à crise
Os problemas começaram a se agravar quando o contrato com o consórcio Limpserra se encerrou, em julho de 2023. Naquela época, quem estava a frente da Comdep era Cedenyr Vieira. O então titular assumiu em agosto de 2022, em substituição a Léo França, que deixou o cargo para assumir uma cadeira na Câmara Municipal.
Até então, os contratos eram de responsabilidade da Secretaria de Serviços, Segurança e Ordem Pública (SSOP) que terceirizava o serviço. Mas, a partir daquele momento, o governo municipal decidiu realizar mudanças, deixando a Comdep responsável pela coleta, utilizando caminhões e equipamentos alugados. Já o transbordo e destinação final permaneceram terceirizados, mas também sob o guarda-chuva da companhia, bem como os processos de lixo hospitalar.
As licitações para estas contratações, no entanto, não foram para frente por questionamentos na Justiça e no Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ). A Comdep então fechou contratos emergenciais, que também foram alvo de questionamentos.
Em meio a isso, Léo França retornou para a companhia, em outubro de 2023. Foi na sua gestão que a Justiça decidiu pela divisão dos serviços. A AMI3 alugava os caminhões e equipamentos, também fazendo o serviço de transbordo e transporte até a destinação final. A PDCA – que era parte do Limpserra – ficou com a íntegra do lixo hospitalar. Já a Força Ambiental – também ex-integrante do consórcio –, continuou com a destinação final no aterro de Três Rios.
Em abril de 2024, Léo França deixou novamente a Comdep para se candidatar a vereador, cargo para o qual foi eleito. Sua sucessora foi Érica Lélis. A nova presidente enfrentou o fechamento do transbordo da BR-040, que a AMI3 alugava da PDCA. A proprietária do espaço afirmava que a inquilina não estava em dia com suas obrigações, mas se disponibilizou a fechar um acordo diretamente com a Comdep.
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Foi aí que a crise se agravou. No transbordo, em média, três caminhões despejavam o lixo para que uma carreta levasse o lixo até Três Rios. Sem o espaço, todos os caminhões de coleta precisavam despejar os resíduos diretamente no aterro sanitário. Com isso, o lixo começou a se espalhar pelas ruas. No novo contrato, a Comdep esperava solucionar o problema, contratando um número maior de caminhões.
Anderson Fragoso assumiu a Comdep em julho de 2024, vendo o agravamento da crise neste mês de novembro. Segundo o vereador Mauro Peralta (PMN) e o prefeito eleito Hingo Hammes (PP), a prefeitura acumula dívidas superiores a R$ 20 milhões com as empresas contratadas, o que tem agravado a situação.
A reportagem procurou a Prefeitura e a AMI3, mas não obteve resposta até a última atualização.