Crise do transporte público continua mesmo com saída da Cascatinha e Petro Ita

26/nov 08:30
Por Wellington Daniel | Foto: Willen Vieira

Moradores de regiões dos cinco distritos quase amanheceram sem ônibus nesta terça-feira (26). Funcionários da Viação Turp planejavam uma paralisação para cobrar pagamentos atrasados. Os valores devidos foram depositados e com isso, não houve a interrupção do serviço. No entanto, os rodoviários permanecem em estado de greve e alertam para a possibilidade de novas mobilizações caso ocorram novos atrasos.

Este é mais um capítulo da crise do transporte público na cidade, que não se encerrou com a retirada das empresas Petro Ita e Cascatinha. Na Cidade Real, também são vistos problemas: a viação adquiriu um coletivo com fabricação de 2014, enquanto a resolução da CPTrans prevê 11 anos de vida útil para os ônibus.

Turp alega dificuldades financeiras

A viação Turp alegou “extremas dificuldades no fluxo financeiro” para justificar os atrasos. A empresa diz que a situação é causada por conta de um déficit da tarifa técnica e de atraso no pagamento do vale-educação. Este último também foi um dos argumentos utilizados pela Petro Ita quando contestou na Justiça a sua retirada das regiões do Alto da Serra, Meio da Serra e Morin.

Outro ponto citado pela Turp são os investimentos que foram e estão sendo feitos para “manter o serviço em funcionamento na cidade”. No dia 13 de novembro, após atrasos de salários, os rodoviários também realizaram uma paralisação.

Levantamento feito pela Tribuna de Petrópolis, com base no site da CPTrans e decretos municipais, aponta o impacto da redistribuição das linhas de Cascatinha e Petro Ita nas demais empresas. A Viação Turp, por exemplo, viu seus itinerários aumentarem 63,34%, passando de 55 para 90 linhas. Os dados, no entanto, podem estar defasados devido à falta de atualização do portal da CPTrans.

Outras empresas também enfrentaram grandes expansões: a Cidade das Hortênsias aumentou de 22 para 39 linhas (77,27%) e a Cidade Real mais que dobrou, de 43 para 91 itinerários.

A última parcela do vale-educação, segundo o Setranspetro, foi paga em agosto. Desde então, o município não tem depositado o valor devido, que consta no cálculo do valor da tarifa.

Ônibus “novo” velho

Passageiros da linha 116 – Dias de Oliveira tiveram, nos últimos dias, um “novo” coletivo em circulação, com o prefixo 1048. No entanto, o veículo não é tão novo assim. Na verdade, já está a um ano do prazo estipulado por resolução da CPTrans, que prevê o limite de 11 anos para os ônibus convencionais.

A reportagem apurou que o coletivo, adquirido recentemente pela viação, foi fabricado em 2014 e o modelo é do mesmo ano. Antes de chegar à Cidade Real, pertencia a viação Águia Azul, em Porto Seguro (BA).

A Cidade Real informou que o coletivo citado veio de uma empresa do mesmo grupo para reforçar a operação e está dentro da vida útil e dos padrões de manutenção preventiva, corretiva e preditiva. Citou os “investimentos milionários” em compras de ônibus novos e seminovos e disse que este veículo de 2014 foi uma exceção.

A empresa também lembrou que o Detro-RJ aumentou o prazo de vida útil dos ônibus para 15 anos. A medida, no entanto, só é válida para coletivos que realizam viagens intermunicipais no Estado do Rio.

A CPTrans não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre os pontos levantados em relação a Turp e a Cidade Real. Em nota anterior, na primeira paralisação da Turp, o município tinha afirmado em relação à viação que o “vale-educação não pode ser usado como desculpa por parte da empresa para que ela não cumpra com as suas obrigações com os rodoviários”. A Prefeitura diz que o benefício não pode ser usado para folha de pagamento, mas para renovação da frota e outras melhorias do sistema.

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