Cultura acena para o lucrativo mercado digital e vê futuro promissor

13/02/2022 09:00
Por Matheus Mans / Estadão

O mercado cultural hoje se expandiu – são filmes, livros, obras de arte, séries e músicas sendo normalmente vendidos no meio digital. A indústria musical, atualmente, é a que mais está mostrando versatilidade no uso dos NFTs. Afinal, um cantor, músico ou compositor pode pegar seu trabalho, registrá-lo na blockchain e depois vender aquela canção, letra ou melodia diretamente para investidores.

Nos Estados Unidos, isso já começa a acontecer com grandes nomes da indústria: o rapper Nas, por exemplo, transformou as músicas Ultra Black e Rare em tokens não fungíveis.

Assim, de um lado, músicos colocam seus trabalhos em plataformas, oferecendo ao público a compra dos direitos autorais. Do outro, investidores apostam nas canções com potencial de valorização. O resultado é o financiamento de artistas e ganhos reais para os investidores.

No Brasil, artistas estão desbravando o NFT na indústria musical. Pabllo Vittar, por exemplo, não vendeu sua música como tokens não fungíveis mas colocou à venda obras de arte inspiradas em suas canções, numa maneira de atrelar dois universos em um só. Deu certo: a cantora arrecadou mais de R$ 500 mil com as vendas. Hermeto Pascoal, enquanto isso, está vendendo músicas na plataforma Phonogram.me, com leilões a partir de R$ 250.

No site em que as obras de Hermeto Pascoal estão sendo vendidas, ele explica que o dono do NFT pode gravar execuções da música, inclusive para fins comerciais em seu próprio disco, sem qualquer custo adicional, sempre com os devidos créditos ao autor. Na mesma plataforma, uma NFT de Elza Soares, morta recentemente, vende 20% da gravação de Drão. No momento, já está na casa dos R$ 20 mil.

MUSICAL. O maestro Carlos Bauzys, que colocou à venda como NFT uma canção de um musical ainda inédito, diz ter gostado da experiência. “Você consegue transformar qualquer obra artística em NFT para comercializar. É interessante, já que as pessoas compram, em qualquer lugar do mundo, e se tornam donas disso. É um sistema bem seguro, que lhe garante que você não vai perder aquilo”, conta o regente, que já decidiu que vai continuar a investir na tecnologia. “Fizemos o NFT com uma música do musical Escrava Isaura e tivemos alguns compradores.”

Agora, quando Escrava Isaura chegar aos palcos do teatro, os donos do NFT dessa música que Carlos vendeu terão uma parcela em cima dos direitos autorais. “Quanto mais músicas elas comprarem, mais direitos elas vão ter. É uma maneira interessante para arrecadar fundos e conseguir fazer o musical”, conta o maestro, que agora faz mestrado nos EUA.

Já no cinema a coisa é um pouco diferente. Enquanto músicos, compositores e maestros registram sons e partituras na blockchain para vender como NFT, produtoras de filmes não conseguem seguir o mesmo caminho. Afinal, como vender os direitos de uma produção que ainda não existe? A resposta para essa dúvida foi respondida pela canadense Mogul Productions: eles criaram uma plataforma descentralizada em que o investidor compra as moedas digitais da empresa, a Star, e depois compra os direitos autorais de uma produção.

DECISÕES. Além disso, em um modelo que lembra o de tokens de times de futebol, o NFT dá ao seu detentor a possibilidade de participar de algumas decisões que envolvam a produção dos filmes. Como, por exemplo, escolher, por meio de votação, o projeto que receberá os recursos. Ou então opinar na construção de campanhas de marketing, no desenvolvimento de determinada película ou, até mesmo, na remuneração dos sócios da produtora.

“Esse mercado está apenas começando a se desdobrar”, diz a produtora Cindy Cowan, em entrevista por e-mail. “Mais pra frente, o NFT também pode tornar os investidores donos de outras propriedades intelectuais, seja o roteiro, um pôster, o traje original ou uma música. O uso de NFTs também pode trazer uma fonte adicional de receita após a conclusão do filme.”

Redes de cinema, enquanto isso, também já deixaram claro que não querem ficar para trás. Nos Estados Unidos, a cadeia AMC vendeu 90 mil ingressos para o filme Homem-Aranha: Sem Volta para Casa atrelados a uma NFT. Assim, a pessoa comprava, por um valor a mais, o token não fungível e ele servia como ingresso na hora de entrar na sessão. Depois, a pessoa pode vender para outras pessoas ou colecionar. Todos os 90 mil NFTs oferecidos ao público se esgotaram em poucos minutos.

FUTURO. Agora, então, é natural que outras áreas e empresas comecem a se movimentar nesse mercado. A Disney, por exemplo, está estruturando um setor interno focado exclusivamente em NFTs, o que indica que podem surgir novidades inclusive na área de cinema e televisão. O metaverso, iniciativa de criar um ambiente social completamente digital, também deve abrir caminho para que empresas de entretenimento comecem a encontrar espaço para colocar NFTs na praça.

Na área de textos, a mesma coisa. Em novembro de 2021, a escritora japonesa Miyuki Ono transformou seu conto Pure em NFT – segundo ela, o investido serviu para pagar o trabalho de seus tradutores.

“Acredito que o grande desafio seja se acostumar com a ideia. As pessoas ainda estão se acostumando a olhar para isso. Mas, no fundo, as pessoas estão investindo em arte, comprando arte”, contextualiza Tasso Lago, especialista em criptomoedas e fundador da Financial Move, portal de educação financeira. “Acho difícil que o mercado não olhe para isso em breve. Não tem mais volta. É algo que, uma vez que começou, vai acontecer.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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