Dai o pão a quem tem fome
Desde cedo ouvi a mamãe dizer: “dai o pão a quem tem fome e mate a sede de justiça de quem tem pão”. Ela certamente leu nas passagens Bíblicas. Palavras gravadas em meu coração. Nós nos reuníamos ora em casa ora na Igreja para a recitação do Terço e da Ladainha de Nossa Senhora e depois da genuflexão e invocação dos mistérios passávamos à oração e o Pão Nosso estava ali presente. Nas leituras das Sagradas Escrituras se revivem as palavras do Deus Filho quando disse que “ nem só de pão vive o homem.”
E assim, o pão, desde as primícias faz parte do jejum e das orações: o centeio, a água e a fé. O pão alimenta o corpo e a alma nos conduz ao céu para o sagrado manjar. O trigo precisa morrer para ser pão, disse o Bispo, Doutor e Mártir da era Patrística Santo Inácio de Antioquia. “ sou trigo de Deus e devo ser moído pelos dentes das feras.” Pincei em Gilberto Gil sua interpretação cujos versos falam do trigal maduro. Exupéry também relembra o trigo em o Pequeno Príncipe.
mesa sem pão perde a graça e se completa junto à água pura e um bom vinho. Falemos a verdade, os nutricionistas por mais nos alertem sobre o carboidrato e o açúcar nocivos à saúde a elevar a glicose, ninguém resiste ao pãozinho crocante e quentinho com manteiga. Haja colesterol. Uma rápida guinada ao tempo e nos deparamos com a farta mesa na Mesopotâmia. Ali se usava azeite, mel, frutas, ovos, sucos de uva e outras iguarias que davam ao pão um sabor e um toque especial. Esse aprimoramento gastronômico ultrapassou os séculos. Os egípcios ensinaram aos gregos a técnica da fermentação desse rico alimento do corpo e da alma.
Há 500aC os gregos ensinaram aos romanos. O pão é meio duro. Será que o termo “ pão duro” surgiu a partir dali? E o brocardo “ pão e circo?” Era uma esmola aos miseráveis levados às arenas. Na França houve uma ocasião em que o povo se revoltava ante a alta do preço do pão e foi protestar à Rainha Maria Antonieta que ironicamente os respondeu: “se não pudessem comer pão que comessem brioches…” Ali se consumara a Queda da Bastilha.
Era o ano de 1789. Dali para cá o povo “comeu o pão que o diabo amassou”. Cruz credo! E por falar em Paris, tive a oportunidade de em uma das estadas na bela Cidade Luz junto a Célio e a Madalena Tavares assistirmos as festividades do “Catorze Juliette” como dizem os franceses que tem seu ponto central no Arco do Triunfo e “ Prise de la Bastille”.
Naquele mesmo ano, à véspera, assistimos a queima de fogos sentados no átrio da Sacre Coeur. Prosseguindo e, para concluir, o pão ganha o seu momento sublime quando Jesus Cristo o multiplica e alimenta a milhares e se materializa por ocasião da Santa Ceia. Ali estava consubstanciado o Memorial de Jesus. Ele é o Pão da Vida, o Manjar Divino, o Panis Angelicus. Fez do pão o Seu Corpo e do vinho o Seu Sangue e alimentou os Apóstolos dizendo: “Fazei isto em memória de Mim.” Falo da transubstanciação. Em Israel o pão ázimo não recebe o fermento. Ele é consumido por ocasião da Páscoa. É o “Matzot”. Para os Judeus o fermento seria a impureza. O Islamismo reverencia o pão como a dádiva de Deus. No Brasil Imperial era comum fazer cruzes nos pães sinal de respeito ao sagrado. Esse mesmo pão foi levado ao Oriente pelos portugueses. O pão é a presença viva na dignidade do Senhor “ Iesus Hominum Salvator” nos Ostensórios e no Sacrário a alimentar a humanidade e a saciar a fome de amor, de paz e de solidariedade a todas as criaturas.