De mudança para o Brasil, Massa volta a Interlagos para brilhar na Stock Car

16/05/2021 07:30
Por Felipe Rosa Mendes / Estadão

Felipe Massa não lembra ao certo se era 1986 ou 1987. Tinha cinco ou seis anos na época em que conheceu o Autódromo de Interlagos. Torcia pela Williams de Nelson Piquet. Logo virou fã também de Ayrton Senna. E, anos depois, passou a frequentar o local como piloto, partindo do kart até se tornar o recordista de pódios no GP do Brasil de Fórmula 1. Sua história de ao menos 34 anos com o circuito paulistano ganhará novo capítulo neste domingo, quando voltará a disputar uma competição inteira em solo nacional, pela Stock Car.

Antes deste retorno, Massa havia disputado duas etapas da categoria e uma da Porsche Cup no ano passado. Mas foram provas pontuais. Seu último campeonato completo no Brasil foi a Fórmula Chevrolet, em 1999. “Voltar ao Brasil e correr em casa é muito especial para mim, principalmente por ser na Stock Car, uma categoria tão disputada. Sempre tive saudade do meu País”, disse Massa ao Estadão.

A saudade era tão grande que o piloto da equipe R.Mattheis decidiu voltar a morar no Brasil, o que não fazia desde sua última competição nacional. Massa havia adotado residência fixa em Mônaco nos últimos anos. “A partir de julho, a gente vai voltar para cá. Estou empolgado, sempre senti falta. Não só eu como a Rafaela, minha esposa, e meu filho. Na verdade, para ele não será volta, será a primeira vez”, afirmou o piloto. Felipinho, que tem 11 anos, nasceu em São Paulo, mas nunca residiu em solo brasileiro.

Com a família mais perto, Massa espera se adaptar mais rapidamente ao campeonato nacional. “Vou precisar de um pouco de tempo para me sentir totalmente adaptado. Estou curtindo, me divertindo. Mas a maior diversão é quando eu quando começar a vencer. Espero que isso aconteça o mais rápido possível.”

A favor da rápida adaptação está a sua intimidade com o autódromo paulistano. O piloto de 40 anos conhece o traçado como poucos. E elege sua curva favorita. “Sempre gostei muito do Laranjinha. Gosto de curvas de alta velocidade e o Laranjinha sempre foi uma curva bacana de fazer. Sempre fui muito bem ali, até em comparação aos meus companheiros de equipe. Não sou muito fã da parte seguinte, com o Pinheirinho e o Bico de Pato. Não é tão divertido. Mas o S do Senna também é legal, assim como a curva do Lago.”

Massa guarda boas memórias de cada trecho do circuito. “Minha melhor lembrança foi a primeira vitória no GP do Brasil, em 2006, por ser a realização de um sonho. Foi o momento mais feliz”, recordou o vice-campeão mundial de F-1 em 2008, temporada em que também foi o melhor na corrida disputada em São Paulo.

Pilotando pela Ferrari, o brasileiro cravou a pole position também em 2006 e repetiu o feito em 2007 e 2008. “A de 2006 também é a mais especial por ser a primeira mesmo”, disse o piloto, que lembra de um episódio menos marcante para os fãs. “Teve também uma classificação em que eu pude largar em quarto, com a Sauber, em 2004. Foi uma volta perfeita também. Cheguei até a liderar a corrida.”

Entre vitórias e poles, Massa também viveu lágrimas inesperadas, sem qualquer sinal de alegria. “Acho que a corrida mais difícil que tive, independente do resultado, foi o GP do Brasil de 2012. Tinha muita chuva, enfrentei problemas no começo e fiz uma prova espetacular, de recuperação. Estava em segundo e podia alcançar o (Jenson) Button, que liderava”, recordou.

Na ocasião, o companheiro de equipe na Ferrari era o espanhol Fernando Alonso, que brigava pelo título. “Eu tinha ritmo bem mais rápido que o Button, estava chegando nele, mas a equipe mandou eu deixar o Alonso passar. Foi um tiro que levei no peito. Cheguei em terceiro e o Alonso não foi campeão. No pódio, me deu um ataque de choro. Muita gente achou que eu estava emocionado de tão feliz. Mas eu era chorava de raiva mesmo.”

Interlagos também reservou boas histórias para o brasileiro. Quando era adolescente e começava a pilotar, entrou no GP do Brasil com a ajuda de um amigo, que tinha restaurante e era fornecedor da Benetton. “Ele me arrumou uma credencial, mas eu tinha que trazer comida todos os dias. Não perdi a chance e fui andar pela pista todos os dias, via todos os carros. E conheci o cozinheiro da equipe. Disse que eu era piloto e meu sonho era chegar na F-1. Ele me ouviu rapidamente e não deu muita moral”, lembrou.

Poucas temporadas depois, veio a surpresa. “Cinco ou seis anos depois, entrei na F-1. E ele virou o cozinheiro chefe da Ferrari. Eu me apresentei e ele demorou para acreditar, surpreso por eu ter realizado o sonho. Ele foi o cozinheiro chefe da Ferrari durante toda a minha passagem pela Ferrari.”

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