Defensoria apura denúncia sobre pacientes com covid amarrados em hospitais no AM

23/02/2021 17:45
Por Liege Albuquerque – Especial para o jornal O Estado de S. Paulo / Estadão

A Defensoria Pública do Amazonas abriu procedimentos investigatórios sobre a denúncia, veiculada na segunda-feira, 22, pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, de que pacientes agravados por covid-19, em Parintins, interior do Estado, estariam sendo amarrados para intubação. Em ofício enviado para o Hospital Municipal Jofre Cohen, três defensores do Pólo do Baixo Solimões, Enale Coutinho, Gabriel Herzog e Rafael Lutti, listam diversas questões, desde estoque de medicamentos a oxigênio e número de pacientes internados, com um prazo para serem respondidas até esta terça-feira, 23.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), o Estado tem sedativos e neurobloqueadores em estoque e enviou no sábado, 20, uma remessa a pedido do município de Parintins. “Neste mês, foram encaminhadas 45,2 mil unidades de medicamentos diversos para uso hospitalar, incluindo sedativos e neurobloquedores”, afirma a nota.

Ainda segundo a SES, nesta terça uma força-tarefa integrada pela SES, pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), pelo Ministério da Saúde e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) estará em Parintins para “verificar o motivo da alta demanda de internações nos hospitais locais e para apoiar o município num plano de redução das internações e reorganização dos fluxos de assistência”.

Também em nota, a prefeitura de Parintins informa que não houve falta de medicamentos sedativos em pacientes intubados no Hospital Municipal Jofre Cohen. “Mesmo com o estoque crítico de bloqueadores neuromusculares até o sábado, em momento algum os pacientes ficaram sem a sedação necessária para mantê-los em ventilação mecânica”, diz a nota. “Quanto à denúncia sobre pacientes ‘amarrados’ nas macas, a contenção dos mesmos é necessária para mantê-los em segurança, ao iniciar a diminuição dos sedativos para a extubação, evitando acidentes com os mesmos em uma movimentação brusca ou qualquer agitação que possa ocorrer após um longo período intubado.”

Segundo um dos parentes que encaminhou a denúncia ao Jornal Nacional e à Defensoria, que não quis se identificar, o que ocorreu é que a dose de medicamento para a intubação na última sexta-feira foi diminuída. De acordo com essa fonte, seu irmão foi amarrado para ser intubado e não para ser extubado. “É uma desumanidade o que está ocorrendo aqui, como não tem UTI, os pacientes estão sendo intubados em leitos comuns. Meu irmão está com marcas nas pernas e braços”, disse.

O hospital em Parintins tem 135 leitos e, segundo a Prefeitura, hoje há 101 ocupados com pacientes de covid-19, com oito intubados em estado grave esperando para serem transferidos para Manaus. Como não há leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Parintins ou nenhum outro município do interior do Amazonas, os mais graves são intubados em leitos comuns. Além disso, há uma fila de 150 pacientes no interior amazonense, segundo levantamento da Defensoria, à espera de serem transferidos para Manaus ou outros Estados.

De acordo com o defensor público Rafael Barbosa, responsável pela Defensoria Especializada em Atendimento de Interesse Coletivo, a Defensoria vai recorrer da decisão do Tribunal de Justiça do Amazonas, que suspendeu todas as remoções de pacientes do interior para a capital alegando ser um “plano de contingência para garantir isonomia entre os municípios”.

Para o defensor, como demonstra esta denúncia, o plano de contingência não está sendo satisfatório. “A situação epidêmica do interior é diferente, não há UTIs, a vulnerabilidade social e os Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) são drasticamente menores do que na capital, então o interior merece maior atenção do Estado senão a mortalidade não vai diminuir.”

Atlas ODS

Os indicadores do Atlas ODS Amazonas para o monitoramento da covid-19 em Manaus e no Amazonas foram atualizados na segunda, com os dados da FVS e prefeituras até 21 de fevereiro. Embora tenha havido uma redução de 28% na média de novos casos, nesta última semana em relação a 14 dias atrás, essa média de mais de 1.570 casos por dia no Amazonas ainda é 2,4 vezes maior do que a da 1ª semana de dezembro, ou seja, de antes da escalada da segunda onda da pandemia no Estado.

O Atlas ODS Amazonas é um projeto da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) com apoio da Capes, do Tribunal de Contas do Amazonas (TCE) e da empresa InLoco. Ainda no Atlas, é apontado que as internações caíram 51%, sendo a maior queda semanal desde o pico em 14 de janeiro.

Com cerca de 68 internações diárias em média no Amazonas, os dados desta última semana, contudo, ainda são 2,2 vezes maiores que os do início de dezembro.

Também os óbitos reduziram em 47%, na última semana, porém ainda são 4,8 vezes mais numerosos que no início de dezembro. Esses indicadores apontam que a velocidade de disseminação e de progressão da doença mesmo em queda ainda estão em níveis elevados no Estado como um todo. Elevada continua sendo também a letalidade hospitalar, que nesta última semana registrou o nível de 73%, 2,3 maior que o da 1ª semana de dezembro.

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