Defensoria Pública cobra regularização do fornecimento de bolsas de colostomia no Centro de Saúde

Entre os vários desafios enfrentados pelos pacientes ostomizados em Petrópolis está a dificuldades em conseguir a assistência adequada, já que são poucos os profissionais especializados na área. Além disso, nos últimos meses os pacientes enfrentam um problema dos grandes: o desabastecimento de insumos no Polo de Ostomizados que fica no Centro de Saúde. A Defensoria Pública tem cobrado da Secretaria Estadual de Saúde e do município o fornecimento dos insumos necessários para atender esses pacientes. 

Na última semana, a Tribuna mostrou o drama de pacientes que estavam há mais de um mês sem receber bolsas de colostomia suficientes. A licitação aberta em março deste ano, no valor de R$ 1,2 milhão, para a compra destes insumos, só foi concluída na última segunda-feira, dia 13. A Prefeitura garantiu que até a próxima sexta-feira, dia 24 de julho, todo o processo em relação às entregas de bolsas será normalizado. Segundo a Prefeitura, o polo tem hoje, 259 pacientes ostomizados cadastrados. 

“A Defensoria Pública está acompanhando junto à Secretaria Municipal de Saúde o restabelecimento do serviço essencial de fornecimento de bolsas e demais insumos  aos ostomizados petropolitanos, bem como cobrando da Secretaria Estadual de Saúde estratégia para este hiato nunca mais se repita, diante do gravíssimo prejuízo já ocasionado. É certo que o fornecimento por parte do Município abrangerá quantitativo suficiente para os próximos 12 meses”, disse o defensor público do Núcleo Cível de Petrópolis, Marcílio Brito. 

A Tribuna consultou a Secretaria de Estado de Saúde sobre o encaminhamento destes insumos para o município, mas foi informada que “a responsabilidade pela compra dos insumos para pacientes ostomizados é do município de Petrópolis”.

Pacientes ostomizados falam sobre os desafios de adaptação 

Esses prejuízos e desafios da ostomia, os pacientes conhecem bem. A técnica de enfermagem Bia Nunes, de 59 anos, é uma das pacientes atendidas pelo polo e também ficou sem as bolsas. Há 16 anos, em uma cirurgia de remoção de um cisto no ovário, Bia teve lesões no intestino e bexiga que a levaram a ostomia. 

“A colostomia é uma deficiência que sobressai muito, e ficamos sujeitos a muita coisa. O medo de a bolsa abrir na rua, a forma como as pessoas olham para a bolsa. Muitas pessoas têm vergonha e se sentem inseguras”, contou. Bia explica que uma das maiores dificuldades é a adaptação a bolsa, tanto no tamanho adequado, mas também no tipo de matéria-prima utilizada na confecção, por causa das alergias. Com suas especificidades, o tratamento de pacientes ostomizados é caro e requer uma assistência especializada. 

Na rede pública de saúde, o paciente ostomizado é atendido no Polo de Ostomizados e no ambulatório escola da UNIFASE, em Cascatinha. O professor enfermeiro estomaterapeuta, Renato Duarte, que é quem faz esse primeiro atendimento no ambulatório, explicou que o paciente geralmente chega fragilizado. “Principalmente as mulheres, pois a ostomia interfere muito no fator sexualidade. Os pacientes confeccionam ostomias devido a câncer, traumas (tiro, facada, etc) e doenças inflamatórias intestinais como doença de crohn e retocolite ulcerativa. Estou atendendo algumas pacientes ostomizadas devido a endometriose avançada também. Lembrando que os estomas podem ser temporários ou definitivos”, explica. 

Valéria Oliveira, de 49 anos, está ostomizada há 2 anos e cinco meses por causa de complicações em uma diverticulite. Ela é atendida no Centro de Saúde, e, sem as bolsas, disse que teve momento de desespero. “Isso é muito sério. Mexe muito com a autoestima. Muitos têm vergonha, se escondem. Não temos acompanhamento psicológico e acho que deveríamos ter. Num dia entramos em uma sala de cirurgia e saímos com um saquinho pendurado. Eles tentam explicar, mas não é de uma hora para outra que conseguimos entender. Levei seis meses para olhar pra mim, como mulher. E aí veio uma depressão emocional, junto com uma queda de cabelo. Mas fui ao médico e já está resolvido. Passou. Graças à Deus”, relatou Valéria. 

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Segundo o professor Renato, a cidade carece de profissionais especializados – hoje são apenas quatro estomaterapeutas na cidade. “Há necessidade, por parte dos governos federal, estadual e municipal, de uma maior seriedade e verbas destinadas para esse público. Como o presidente ficou ostomizado, tive a esperança de que melhoraria, mas não é isso que vemos. Vemos cada dia mais a falta dos dispositivos nos polos de ostomizados. Como o número de casos de câncer, principalmente intestinais vêm aumentando, a tendência do número de ostomizados é só aumentar. Infelizmente é o que apontam estatísticas já demostradas pelo INCA. Há a necessidade de um olhar mais sensível por parte dos governantes a esses pacientes, que também sofrem diariamente com suas ostomias”, disse Renato. 

O olhar sensível pode ser construído com a ajuda de muitas mãos. A enfermeira Érica Wendling, da empresa EF Candiota, ficou sabendo da situação dos pacientes atendidos no Centro de Saúde pela reportagem publicada pela Tribuna. Com um programa do fornecedor de materiais da sua empresa, ela está ajudando esses pacientes até que a situação seja normalizada. O programa Coloplast Ativa fornece gratuitamente os insumos necessários aos pacientes ostomizados. Aalém disso, Érica tem fornecido a assistência domiciliar, já que ainda a melhor forma de evitar o contágio pelo coronavírus é ficar em casa. 

Bia Nunes e a Valéria Oliveira foram as primeiras pacientes a receber os insumos. “A colostomia é um assunto pouco falado, as pessoas têm vergonha. A exemplo do que aconteceu com o presidente, vejo que muitas pessoas usam a patologia para ofender. Mas, mesmo com as restrições, podemos levar uma vida normal. É uma nova chance de viver”, disse Bia. 

Nesta semana, a direção do Hospital Nossa Senhora Aparecida fez a doação de 100 bolsas de colostomia para ajudar na iniciativa. Para a enfermeira Érica, essa corrente de solidariedade é um alívio nesse período difícil que os pacientes estão enfrentando. 

“Por se tratar de uma condição nova a cada paciente acompanhado, tenho a oportunidade de aprender um pouco mais. Vejo como um presente poder usar todo o conhecimento e estar tão perto em um momento tão difícil. Na maioria das vezes estou lá em um pós-operatório imediato e, depois, acompanho a evolução do paciente na visita domiciliar ou através do contato telefônico. É muito bom ver o quanto nossos produtos, orientação de uso, acompanhamento e acolhimento fazem a diferença na vida de cada paciente”, disse.