Defesa tenta provar que Trump Não teve relação com ataque ao Capitólio

13/02/2021 07:36
Por Beatriz Bulla, correspondente / Estadão

Os advogados do ex-presidente Donald Trump pediram nesta sexta-feira, 12, ao Senado que o republicano não seja condenado no processo de impeachment, pois não teve responsabilidade pelo ataque ao Capitólio, no dia 6 de janeiro. Segundo os eles, a acusação contra Trump é uma “vingança política” e tem caráter “descaradamente inconstitucional”.

Os advogados argumentaram ainda que a manifestação do republicano no dia do ataque, quando ele conclamou os apoiadores que marchavam em Washington a “lutarem como inferno”, está protegida pela liberdade de expressão prevista na Primeira Emenda da Constituição americana e faz parte de uma retórica política comum. Segundo eles, Trump é vítima da “cultura do cancelamento”.

Neste fim de semana, os senadores podem condenar ou absolver o ex-presidente – a maioria aposta que a questão pode ser levada ao plenário ainda hoje. Se a opção for pela condenação, os parlamentares podem torná-lo inelegível para cargos federais, o que o deixaria automaticamente impedido de concorrer novamente à Casa Branca, em 2024.

No entanto, pelo menos 17 dos 50 republicanos no Senado precisariam votar contra o ex-presidente, o que é considerado improvável. Até agora, não há disposição política entre os republicanos para votar contra Trump, que ainda mantém uma influência importante sobre a base eleitoral do partido.

Os republicanos têm pressa em virar a página do ataque ao Capitólio, que muitos consideram uma mancha na história do partido. Já os democratas também querem votar logo o impeachment para liberar a agenda legislativa para os projetos do presidente Joe Biden.

Ontem, os advogados de Trump tinham uma missão difícil: repetir boa parte da argumentação central que já havia sido apresentada na terça-feira, quando sustentaram que era inconstitucional prosseguir com o julgamento. A tese é a de que o impeachment de um presidente fora do cargo não é válido e o processo foi previsto apenas para a remoção do chefe do Executivo.

Na terça-feira, 9, no entanto, por 56 votos a 44, a maioria dos senadores – inclusive seis republicanos – entendeu que o julgamento de um presidente fora do cargo pode ocorrer. Além disso, os advogados sustentam que o presidente tem direito a livre manifestação e não teve relação com os atos adotados por seus apoiadores.

Caça às bruxas

No tempo disponível, a defesa usou vídeos para argumentar que os democratas também usam a linguagem adotada por Trump no discurso do dia 6 de janeiro. A convocação à luta, feita no dia do ataque ao Capitólio, teria sido uma “retórica política tradicional”, segundo os defensores.

Para sustentar essa argumentação, vídeos com discursos descontextualizados de democratas com uso da palavra “luta” foram exibidos repetidamente. “Não estou mostrando este vídeo como uma desculpa para o discurso de Trump”, disse o advogado Michael Van der Veen. “Estou mostrando isso para deixar claro que todo discurso político deve ser protegido.”

Os advogados usaram apenas três horas, das 16 horas que teriam disponíveis, para a defesa do republicano. Eles admitiram que a violência foi inaceitável e ilegal, mas tentaram dissociar Trump do episódio e voltaram a sustentar que o ex-presidente é alvo de perseguição política, um caminho que deve ser seguido pela maioria dos republicanos no Senado.

“Assim como outras caças às bruxas motivadas politicamente e empreendidas pela esquerda nos últimos anos, este julgamento político está absolutamente separado dos fatos”, afirmou Van der Veen. Bruce Castor, outro advogado de Trump, disse que o julgamento “é para silenciar o discurso com o qual a maioria não concorda, cancelar os 75 milhões de votos que ele teve e criminalizar pontos de vista políticos”.

Nos dois dias que antecederam as manifestações da defesa de Trump, a acusação – formada por deputados democratas – usou vídeos que mesclam trechos do discurso de Trump, no dia da invasão, com cenas do ataque ao Capitólio e imagens inéditas do circuito de segurança do Congresso para sensibilizar os senadores e criar a linha do tempo dos acontecimentos.

Os democratas alegam que a insistência de Trump na narrativa de que houve fraude eleitoral e a incitação à violência durante os anos de presidência foram determinantes para a invasão do Congresso no dia em que parlamentares realizavam a certificação da vitória de Joe Biden.

A acusação usou vídeos nos quais invasores disseram seguir ordens do então presidente ao invadir o Capitólio. Os democratas argumentaram que o republicano pode incitar novamente a violência civil no país se não for punido no processo de impeachment e impedido de voltar ao poder.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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