Delegação ucraniana teme envenenamento e evita comer e beber durante negociações

29/03/2022 16:32
Por Redação, O Estado de S. Paulo / Estadão

A Ucrânia alertou seus negociadores para não comerem, beberem ou mesmo tocarem em qualquer coisa durante as negociações com a Rússia, após alegações de que o oligarca russo Roman Abramovich e outros podem ter sido envenenados durante conversas anteriores. O anúncio ocorre em meio a novas negociações em Istambul nesta terça-feira, 29.

“Aconselho a qualquer pessoa que vá negociar com a Rússia que não coma nem beba nada, de preferência evite tocar em superfícies”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitri Kuleba, em entrevista ao canal de televisão nacional Ukrayina 24.

Abramovich participou das negociações de paz em Istambul, embora autoridades russas tenham dito que ele não fazia parte da delegação oficial. Ele adoeceu após reuniões no início de março, assim como membros da delegação de negociação da Ucrânia. Eles chegaram a suspeitar de envenenamento, disse um assessor do oligarca na última segunda-feira, 28.

As conversas de terça-feira não resultaram em nenhum acordo de paz, mas os negociadores ucranianos delinearam algumas propostas e Moscou disse que iria “reduzir drasticamente” a atividade militar perto de Kiev e Chernihiv.

Moscou nega envenenamento

Falando sob condição de anonimato ao The Washington Post, o assessor disse que alguns suspeitam que um “terceiro” tenha realizado o suposto envenenamento, sugerindo que o governo russo não seria o responsável.

O assessor de Abramovich disse que o dono do clube de futebol britânico Chelsea se recuperou e está “bem”, e agora está focado em negociações entre Kiev e Moscou. O oligarca enfrenta sanções na Europa por seus laços com o presidente russo Vladimir Putin e desde então colocou seu clube no oeste de Londres à venda.

A Rússia negou que Abramovich tenha sido envenenado e que tenha qualquer ligação com o incidente. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse a repórteres nesta terça que tais alegações eram “parte da guerra de informação”, disse ele. “Esses relatórios definitivamente não são verdadeiros.”

A colaboração investigativa Bellingcat e o Wall Street Journal relataram pela primeira vez a suspeita de envenenamento. Eles disseram que Abramovich e dois negociadores ucranianos apresentaram “olhos vermelhos, lacrimejamento constante e doloroso e descamação da pele em seus rostos e mãos”, sintomas consistentes com envenenamento por armas químicas, após uma reunião em 3 de março.

Além de Abramovich, o oficial ucraniano, Rustem Umerov, também teria sido um dos afetados pelo suposto envenenamento. Em um post no Facebook, Umerov exortou as pessoas a não confiarem em “informações não verificadas”.

A Rússia foi acusada de envenenar seus oponentes no passado, principalmente quando o líder da oposição Alexei Navalni ficou gravemente doente em agosto de 2020. O Kremlin negou envolvimento, mas Navalni, com a ajuda do mesmo jornalista do Bellingcat trabalhando na investigação sobre o episódio com Abramovich, implicou agentes de inteligência russos de alto nível em seu envenenamento.

Abramovich nas negociações

O bilionário apareceu nas negociações desta terça em imagens divulgadas pela presidência da Turquia. As duas equipes sentaram-se frente a frente em uma longa mesa no escritório presidencial. O oligarca russo estava sentado na primeira fila de observadores vestindo um terno azul, mostrou um vídeo.

No mês passado, um porta-voz confirmou que Abramovich havia sido contatado pela Ucrânia para ajudar a facilitar as negociações de paz com Moscou. No entanto, a extensão de seu papel nessas negociações permanece incerta.

Sua presença inicialmente desconcertou pelo menos um diplomata ucraniano. O vídeo de hoje mostrou que o bilionário estava sentado ao lado do porta-voz de Erdogan e ajustou seus fones de ouvido para ouvir o discurso do presidente

Peskov disse nesta terça que “Abramovich está envolvido em garantir certos contatos entre os lados russo e ucraniano. Ele não é um membro oficial da delegação.” O porta-voz do Kremlin disse que o oligarca estava presente “do nosso lado”.

Os Estados Unidos se recusaram a punir Abramovich depois que o presidente ucraniano Volodmir Zelenski disse que ele poderia ser útil para garantir um acordo de paz, disse uma autoridade familiarizada com o assunto ao The Washington Post.

Kiev e Moscou tentaram moderar as esperanças de um grande avanço nas negociações de hoje em Istambul, depois que negociações de alto nível em Antália no início deste mês e semanas de conversas por vídeo não conseguiram produzir um acordo.

Kuleba, da Ucrânia, disse aos meios de comunicação locais na segunda-feira que o objetivo de Kiev é – na melhor das hipóteses – um cessar-fogo “sustentável”. Enquanto isso, seu colega russo, Sergei Lavrov, disse que Moscou deveria “parar de ceder” a Kiev.

A guerra da Rússia na Ucrânia entrou em seu 34º dia nesta terça-feira, enquanto o número de mortos sobe em ambos os lados e as cidades ucranianas continuam a ser severamente bombardeadas. Quase 4 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde o início do conflito, a grande maioria para a vizinha Polônia, segundo os últimos dados das Nações Unidas, desencadeando a maior crise de refugiados da Europa. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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