Delegado, policiais civis e comerciantes de Petrópolis são alvos de investigação de esquema de propina na Rua Teresa
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) prendeu na manhã desta quarta-feira (30), um delegado de polícia, policiais civis e uma comerciante de Petrópolis envolvidos em um esquema de propina. O grupo extorquia lojistas da Rua Teresa, no Centro da Cidade, para que fosse permitida a comercialização de roupas falsificadas. Foram cumpridos oito mandados de prisão preventiva e 19 de busca e apreensão expedidos pela Vara Criminal Especializada da Capital.
De acordo com as investigações do MP, a organização criminosa surgiu na Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) da Polícia Civil do Rio e aconteceu entre março de 2018 e março de 2021. Sob o comando do delegado de polícia Maurício Demétrio Afonso Alves, a organização é dividida em dois núcleos principais. Um é composto pelos operadores do esquema em Petrópolis, responsáveis por ameaçar os lojistas e recolher os valores cobrados pela organização. São eles: Alex Sandro Gonçalves Simonete, Ana Cristine de Amaral Fonseca e Rodrigo Ramalho Diniz.
O outro núcleo, segundo informou o MP, é formado pelos policiais civis Celso de Freitas Guimarães Junior, Vinicius Cabral de Oliveira e Luiz Augusto Nascimento Aloise e pelo perito criminal José Alexandre Duarte. O perito era o responsável por executar as diligências policiais como forma de represália aos lojistas que se recusavam a pagar os valores exigidos, chegando a forjar provas e produzir laudo falso.
Em março desse ano para dificultar as investigações, o grupo forjou um flagrante contra um dos delegados que investigava o esquema de propina. Contando com atuação do também denunciado Ricardo Alves Junqueira Penteado, advogado representante de diversas marcas, o delegado de polícia Mauricio Demetrio, utilizando um “laranja” e conta falsa no Whatsapp para garantir seu anonimato, alegando ser detentor de autorização dos titulares dos direitos autorais, encomendou a produção de mil camisas em estamparia de propriedade do delegado de polícia Marcelo Machado.
Segundo o Ministério Público, o delegado Mauricio Demetrio apoiado em representação apresentada pelo advogado Ricardo Alves Junqueira Penteado, antes mesmo das camisas existirem, conseguiu a expedição de mandados de busca e apreensão das peças de roupa e prendendo em flagrante o delegado Marcelo Machado e seu sócio Alfredo Baylon Dias.
“A operação falsa, realizada em março deste ano, foi minuciosamente planejada e teve ampla cobertura jornalística, permitindo que Mauricio Demetrio tivesse espaço nos veículos de comunicação para caluniar e desacreditar vários daqueles que se colocaram como empecilho para a atuação da organização, sejam colegas de Polícia Civil, sejam particulares que testemunharam contra a organização”, disse o MP.
Entre os policiais que investigavam o grupo e foram citados pelo delegado Mauricio Demetrio estavam Alexandre Ziehe (na época corregedor de Polícia Civil) e Juliana Ziehe (delegada titular da 105ª DP em Petrópolis). “Fizeram uma operação em 30 segundos e tentaram jogar nosso nome na lama. Usamos os meios disponíveis na democracia para nos defender. Estou feliz, pois demoramos alguns meses mas mostramos que estávamos com a razão. Muitas coisas virão, mostrando a verdade e encorajando os lojistas que sofreram extorsão a procurarem o Ministério Público. É importante que esses lojistas que sofreram a extorsão procurem imediatamente o MP. É fundamenal que todos denunciem para que o processo possa andar e para que se faça justiça”, disse Alexandre Ziehe.
Ainda no início da manhã desta quarta-feira, segundo o MP, foram presas seis pessoas: o delegado Maurício Demétrio Afonso Alves, policiais civis e uma comerciante. Entre os materiais apreendidos estão nove aparelhos celulares, seis notebooks, dinheiro em espécie, armas, munições, joias, um radiotransmissor e 16 pendrives.
Os denunciados vão responder pela prática de diversos delitos como integrar organização criminosa, concussão, obstrução de justiça, inserção de dados falsos em sistema, emissão de laudo falso e lavagem de dinheiro, cujas penas mínimas somadas superam 30 anos de reclusão e a condenação leva à perda do cargo público.