Delegado que comandou esquema de propinas na Rua Teresa é condenado a quase 10 anos de prisão

08/jan 11:38
Por Enzo Gabriel

O delegado Maurício Demétrio Afonso Alves foi condenado a nove anos, sete meses e seis dias de prisão, em regime fechado, pela prática de três crimes relacionados à criação de operações falsas. A decisão foi dada pelo juiz Bruno Monteiro Rulière, da 1ª Vara Criminal Especializada no Combate ao Crime Organizado na última semana.

De acordo com as investigações, Maurício comandou as operações “Raposa no Galinheiro” 1 e 2, que se tratavam de operações falsas para prender quem o investigava. Na ocasião, segundo a Justiça, o plano foi complexo, contando com instauração de procedimentos policiais e administrativos disciplinares fraudulentos, manipulação da imprensa, atuação de advogados e outras ações. O delegado teria também tentado criminalizar mais autoridades públicas, com um suposto outro flagrante preparada, por tráfico de drogas, contra um delegado que atuou na Corregedoria da Polícia Civil e, por corrupção, contra o então candidato a prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

Além disso, em paralelo aos crimes, foram encontrados outros pontos em conversas telefônicas que pesam em sua avaliação moral, tendo se chamado de “mensaleiro”, ironizando o assassinato de Marielle Franco, chamado uma outra delegada de “macaca escrota e criola” e se referido ao Brasil como “Macacolândia”. Segundo as investigações, o acusado possuía uma quantidade surpreendente de aparelhos celulares e chips, utilizados em sua maioria para a prática de crimes.

De acordo com a decisão, em momento algum, o acusado reconheceu sua culpa, apresentando versão completamente diferente do ocorrido.

O réu também foi condenado por danificar aparelhos celulares apreendidos pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial e requisitados pelo Juízo.

Além dos dias de prisão, Maurício também terá que pagar 52 dias-multa. O cumprimento da pena será em regime fechado, com a prisão preventiva já tendo sido decretada, sem o direito de recorrer em liberdade. Ele também terá que perder a função de Delegado de Polícia Civil, bem como qualquer outra função pública.

Como foram colhidas provas de que Maurício ostentava um padrão de riqueza altíssimo, com o aluguel constante de mansões em Angra dos Reis, utilização de lanchas e jet-ski, viagens internacionais rotineiras em classe executiva, além de centenas de milhares de reais em sua residência em espécie e carros blindados, além dos altos valores pagos para a compra de camisas encomendadas, pagamento de parecer técnico e honorários advocatícios dos corréus, o dia-multa teve valor fixado em cinco salários mínimos.

Operações “Raposa no Galinheiro”

A operação “Raposa no Galinheiro” teve duas fases. Na primeira, Maurício apontou outro delegado como “operador de um grupo criminoso composto por outros quatro delegados” que confeccionavam roupas falsas, chegando a prendê-lo em flagrante. Sendo que o delegado atuava no Setor de Investigações Complexas e investigava o trabalho de Maurício.

Na segunda fase, realizada na Rua Teresa, Maurício argumentou combate à pirataria, mas foi ao local para coagir testemunhas e demonstrar poder. Segundo o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, entre março de 2018 e março de 2021, era exigido por Maurício e outros policiais da DRCPIM, o pagamento de propina para a venda de roupas falsificadas.

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