Demora do município e estado em aceitar reforço no socorro pode fazer com que pessoas jamais sejam encontradas
A catástrofe aconteceu na terça-feira, dia 15, mas o reforço no socorro das equipes de resgate só chegou entre sexta-feira e sábado. Famílias inteiras soterradas esperando por ajuda. Ainda que os militares que estão no município trabalhem incansavelmente 24 horas, é notadamente impossível dar conta de tanto estrago se não houver mais gente. O governador Cláudio Castro anunciou neste sábado a vinda de equipes de 16 estados, mas elas ainda estão se dirigindo à cidade. A coordenação do socorro, sob a responsabilidade da Prefeitura, não sinalizou em entrevistas coletivas ou em apelos pelas redes sociais ou mesmo em informes à imprensa que o município precisasse de mais ajuda. Socorro de Minas Gerais teria sido descartado em um primeiro momento pelo Estado e ajuda da vizinha Magé, pela prefeitura. Ambos voltaram atrás posteriormente agradecendo esses apoios.
O governador Cláudio Castro chegou a Petrópolis ainda na noite da tragédia, antes mesmo do prefeito Rubens Bomtempo, que estava em uma agenda em Brasília, e precisou antecipar a volta. Na manhã de quarta-feira, Castro visitou o Morro da Oficina, o local que, a princípio, concentra o maior número de vítimas. Segundo dados da Prefeitura, 80 casas foram destruídas na Rua Frei Leão.
Na manhã de quarta-feira, a reportagem da Tribuna esteve no Morro da Oficina e registrou que além dos militares, havia moradores e voluntários ajudando nas buscas. Além do desespero e a esperança em encontrar as vítimas com vida, esse apoio dos moradores foi necessário, já que a catástrofe era maior do que as equipes podiam dar conta.
Três dias após a tragédia, o prefeito Rubens Bomtempo fez a primeira coletiva oficial na sede da prefeitura para apresentar os dados sobre a tragédia. Respondendo às perguntas dos jornalistas, Bomtempo disse que “é difícil depois de tanto tempo você conseguir (encontrar vítimas com vida)”. E passou a palavra ao secretário de Defesa Civil, o tenente-coronel Gil Kempers, que complementou:
“Esperança ainda há, as equipes sempre iniciam as buscas com essa esperança. Tecnicamente se torna muito difícil. Há uma diferença entre escorregamento e deslizamento pela fluidez do solo, a possibilidade de você ter uma vítima com vida é menor. Mas nos últimos dias (80 horas após a chuva) alguns resgates tiveram essa natureza a gente permanece com esperança, a gente sabe que com o passar do tempo, esse gráfico de encontrar alguém com vida vai reduzindo”, disse o secretário.
Voluntários percorrem mais de 20km em busca de Gabriel Vila Real da Rocha
As famílias também mantêm a esperança e buscam principalmente uma resposta, um sepultamento digno para aqueles que amam. A família do adolescente Gabriel Vila Real da Rocha – um dos passageiros do ônibus que foi arrastado pela correnteza na Rua Washington Luiz – fazem buscas pela cidade. Até este sábado não havia informações sobre buscas por desaparecidos durante a inundação no Centro Histórico.
É um grupo de quase 200 voluntários da sociedade civil que trabalham nas ruas e pelas redes sociais pelo paradeiro do rapaz. O tio dele, Anderson Vila Real, pede o auxílio de um barco para que eles possam percorrer a cidade dentro dos rios em busca do adolescente.
“A gente não está tendo suporte do Corpo de Bombeiros, Prefeitura. O governador Cláudio Castro não se manifestou, o prefeito Rubens Bomtempo não se manifestou. Estamos só com voluntários, pessoas que se disponibilizaram a encontrar os desaparecidos. Hoje a família andou mais de 20km e seguimos sem respostas”, desabafou Mirella Carvalho, voluntária que ajuda nas buscas.
Na terça-feira, dois ônibus da empresa Petro Ita foram arrastados pela correnteza na Rua Washington Luis. Não há informações oficiais sobre quantos passageiros havia nos ônibus e nem mesmo se há sobreviventes. O que se sabe até o momento é que dois funcionários da empresa que estavam nos coletivos conseguiram sair. Além disso, incontáveis carros foram arrastados pela correnteza e não se sabe até agora se estavam ocupados ou não, se passageiros e motoristas conseguiram sair a tempo, antes da inundação.
O menino Pedro Henrique Braga Gomes da Silva, de 8 anos, também estava em um dos ônibus submersos na Washington Luiz. A família dele se uniu à de Gabriel nas buscas pelos rios da cidade. Três tios, o pai e a mãe do garoto também atuam no resgate. A família já percorreu hospitais e chegou a ir ao Instituto Médico Legal (IML). “O meu irmão esteve lá e disseram que têm muitos corpos. Que a gente precisa aguardar o contato para fazer o reconhecimento”, contou o tio, Jonathan Gomes da Silva. Até o momento, a família também não recebeu o apoio de nenhuma equipe de resgate nas buscas pelo menino.
“A gente segue desde o dia 15 sem respostas, e estamos indo para o domingo sem respostas. A gente deita a cabeça no travesseiro sem saber onde está o Gabriel sem conseguir ter um fio de esperança, a cada dia o fio de esperança diminui e a gente não sabe o que fazer. Está muito difícil, tá dolorido, cada dia é pior você deitar a cabeça sem saber onde está a pessoa, sem poder se despedir da pessoa sem poder ver sem poder entender o que aconteceu. Não são números, são pessoas”, disse Mirella.