Deputado do agro quer comissão externa para ‘colocar dedo na ferida’ do Carrefour

24/nov 08:01
Por Iander Porcella e Isadora Duarte / Estadão

Lideranças do agronegócio estão indignadas com a decisão do Carrefour de boicotar a carne do Mercosul. Parlamentares do setor já começaram a planejar uma retaliação. O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), diretor de Política Agrícola e ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), vocaliza essa insatisfação. Ele vai apresentar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um requerimento para instalar uma comissão externa da Casa com o objetivo de “colocar o dedo na ferida” da empresa. O documento foi obtido com exclusividade pelo Broadcast Político.

Na justificativa para criar a comissão, Moreira diz que é preciso avaliar a conduta e as denúncias contra o Carrefour no Brasil. O deputado afirma que há antecedentes “graves” da rede de supermercados francesa no País ligados a violações raciais, ambientais e trabalhistas.

“É uma atitude absolutamente irresponsável, falaciosa e discriminatória, em uma clara afronta protecionista ao setor agropecuário brasileiro”, disparou Moreira, ao comentar fala do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, sobre a decisão do Carrefour de deixar de vender carnes dos países que fazem parte do Mercosul. Ele diz também que as declarações do empresário são “extremamente lamentáveis” e ferem os princípios do diálogo e da cooperação internacional.

O deputado argumenta que o Brasil tem uma das legislações mais rigorosas do mundo no que diz respeito ao controle ambiental e ao desenvolvimento sustentável. Segundo ele, esses padrões certificam a qualidade dos produtos. “Além disso, causa estranheza a despreocupação do Sr. Bompard com as operações da empresa no Brasil, já que 80% do abastecimento interno é realizado por fornecedores brasileiros.”

A reação do parlamentar ocorre após Bompard ter divulgado nesta quarta-feira, 20, comunicado nas suas redes sociais no qual afirma que a varejista se comprometeu a não vender carnes do Mercosul, independentemente dos “preços e quantidades de carne” que esses países possam oferecer. A carta assinada por Bompard foi endereçada ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA), Arnaud Rousseau, e, segundo ele, a decisão foi tomada após ouvir o “desânimo e a raiva” dos agricultores franceses, que protestam contra a proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.

Em nota divulgada na última quinta-feira, 21, o Carrefour afirmou que o veto à venda de carnes do Mercosul só vale para supermercados da rede na França. “Em nenhum momento ela se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise”, afirma a empresa.

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