Derradeiro aniversário
Assim escreveu o poeta:
“Saudade, que me devora, /há de passar – quero crer, /pois se não passar agora, /passará quando eu morrer”.
E assim tem sido desde o dia dezessete de janeiro de dois mil e quinze, quando nos deixou a mim e à minha família, minha mãe.
O poeta, sábio em seus pensamentos, admite que aquele a quem a saudade acomete, tem a possibilidade de vê-la passar, todavia não afirma; acredita, entretanto, que dessa forma possa se dar.
Eu, por minha vez, não creio seja possível se esquecer de uma pessoa tão querida e amada, especialmente como a figura da mãe.
E, por isso mesmo, já estou convicto que só poderei esquecê-la quando também partir.
O dia quatro de novembro sempre foi de festa para a família. Já bem idosa, ainda assim cantávamos “o parabéns pra você”, em seu apartamento, cercada de netos e até de algumas de suas amigas, que também somavam idade avançada.
Na última comemoração, o seu estado de saúde já se mostrava precário.
Porém, ainda me recordo, que com grande sacrifício, amparada por minha esposa e pelo médico que nunca deixou de assisti-la, o Dr. Humberto Portugal Karl, foi conduzida à mesa com a finalidade de apagar as velinhas que representavam os mais de noventas anos bem vividos, não somente junto a meu pai, como a toda a família.
Professora e ao mesmo tempo dona de casa caprichosa, sempre atenta a tudo que se passava a seu redor.
Meu pai a idolatrava e o mundo girava em redor da esposa amada e da mãe sempre atenta ao filho, que, quando criança, levava boas palmadas da mãe severa; contudo, foram boas as lições.
Ela, companheira inseparável eis que sempre ao lado de meu pai, seja em que circunstâncias fossem; juntos, até que ele partiu em setembro de 1989, deixando-a plena de saudades e de muita tristeza.
Creio, sinceramente, que a saudade e o vazio decorrentes da perda que tanto a marcou, só deixou de existir, como escreveu o poeta, quando ela também partiu, uma vez que nunca demonstrou esquecimento em razão de tão sentida perda.
Inegável, também, que o poeta, meu pai, tendo vencido na vida, nas diferentes atividades que desenvolveu, em particular no campo profissional, já que sempre incentivado pela esposa, fez reservar para ela, como preito de gratidão, a trova que se segue: “Se aqui, agora, hoje piso, /com segurança, é porque, /de longe embora, eu diviso /o meu farol, que é você.
Foi-se o dia quatro e a saudade não passou, ao contrário, recrudesceu.