Desabafo

25/07/2020 00:01

A Pandemia provocada pelo Covid-19 fez com que as atividades escolares fossem mediadas ou enviadas pela internet, até por Whats App, para os alunos. A realidade que trago aqui, hoje, diz respeito às turmas de Educação Infantil e de primeiro ano do Ciclo de Alfabetização. Para cumprir a determinação de aulas online, precisei conseguir contato com todos os alunos das turmas, visto que a maioria mora na descida e subida da serra de Petrópolis, cidade localizada na área serrana do Rio de Janeiro. 

A escola municipal onde trabalho atende aos alunos moradores dos bairros Aviário, Reta do Aipim, Contorno, Parque Iporan, Leal e Santa Rosa. A maior dificuldade do local é a internet. Algumas empresas de telefonia móvel só funcionam em alguns lugares do Bairro Aviário. Na escola, alcançamos essa transmissão somente em alguns pontos no lado de fora; conseguimos um precário sinal da torre de Petrópolis e não alcançamos a torre de Duque de Caxias devido aos morros dos arredores. É uma loucura! Já os moradores do Bairro Leal, não conseguem sinal de nenhuma das torres.

Para a comunicação com os alunos foram feitos vídeos de chamadas e mensagens de texto solicitando aos responsáveis, ou membros da família de aluno, que ajudassem a divulgar as atividades que estavam sendo propostas no grupo criado no Whats App. A rede de comunicação possível no local é a mais antiga do mundo: o boca a boca. De nada serve a tecnologia se ela não chega aos alunos. As atividades são asseguradas pela Constituição Brasileira, elaboradas dentro da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A Base Nacional Comum Curricular na Educação Infantil apresenta um contexto de acolhimento de vivência, de como a criança constrói seus conhecimentos e no ambiente familiar e comunidade, já se referindo às possibilidades de propostas online, EAD.

No Art.32, no § 4º, temos a sinalização de que o ensino fundamental será presencial, porém em casos emergenciais ou sob a forma de complementação, o ensino a distância deverá se utilizado. Porém de nada adianta adotar algo que não poderá ser realmente utilizado por todos. Se um sistema de ensino não universaliza seus recursos e ferramentas, ele está beneficiando uns em detrimento de outros. Isso reforça tanto a desigualdade social, quanto a exclusão de parte da população. É justo?

Você pode pensar: são apenas crianças, ainda nem estão alfabetizadas! Eu respondo: se, ao erguer uma casa, eu não construir uma base sólida, com firmes alicerces na sua fundação, em pouco tempo, após a casa erguida, ela cairá. O mesmo ocorre com nossas crianças que não receberam bases sólidas nos início de sua vida escolar. Sabemos o número indecente de alunos que se formam na graduação (quando chegam até lá) e que mal sabem ler ou escrever na sua língua materna, sem falar na dificuldade de compreender os conteúdos ensinados nas aulas. 

Já temos mais de uma geração de analfabetos funcionais e graduados com diploma na gaveta, trabalhando na informalidade ou em subempregos. A qualificação profissional começa na Educação Infantil, tão pouco valorizada ou respeitada em nosso país. Bom, mas o que mais interessa nesse momento ainda é tentar a conexão com todas as crianças, para que nenhuma fique para trás. Perdoem-me o desabafo!

Como viver hoje sem a internet? Praticamente impossível.  

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